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Cientistas do MIT afirmam ter a chave para eletricidade ilimitada e barata

Por muito que nos possa custar perceber, por trás deste tipo de guerras que vivenciamos está o poder e controlo da energia. Isto porque ela é escassa, cara e finita. Pelo menos aquela que mais usamos e que aquece as casas ou permite que as empresas laborem. Mas… e se existisse eletricidade ilimitada e barata?

Uma empresa do MIT quer transformar centrais térmicas em infinitas centrais de energia verde utilizando o magma da Terra como fonte de calor em qualquer parte do globo.


Magma da Terra poderá alimentar a humanidade durante milhões de anos

Uma spin-off do MIT afirma possuir a chave para uma eletricidade ilimitada, 100% verde e virtualmente gratuita. Não é nem fusão, nem fissão, nem renováveis, mas sim com recurso ao magma da Terra, que pode alimentar a civilização durante 20 milhões de anos utilizando apenas 0,1% do seu calor.

Esta potência só é utilizada em países como a Islândia porque, no resto do mundo, a energia geotérmica está fisicamente fora de alcance. Até agora.

Segundo a Quaise Energy, o nome de uma nova empresa fundada por engenheiros do Massachusetts Institute of Technology, hoje já existe tecnologia para qualquer país ter acesso a este recurso infinito de energia.

Conforme foi comunicado, os engenheiros da empresa afirmam que a sua nova perfuradora de energia direcionada atingirá facilmente profundidades até 20 quilómetros, uma distância totalmente impossível com perfuradoras mecânicas, como a antiga União Soviética provou após anos de perfuração perto da sua fronteira com a Noruega.

Kola superdeep shaft, o buraco mais profundo já feito pelo homem. O SG-3 atingiu 12 262 metros em 1989, tornando-se o mais profundo poço já perfurado e o ponto artificial mais profundo da Terra.

Na década de 1960, a URSS tentou alcançar esta profundidade de 20 quilómetros numa experiência chamada “Kola superdeep shaft”. No entanto, as operações tiveram de parar anos mais tarde a 12.262 metros, quando a baixa densidade e alta viscosidade da rocha aliada à temperatura excessiva tornaram impossível continuar com aquele buraco até ao inferno.

 

Energia geotérmica em qualquer lugar

O apelidado inferno ou o magma da Terra queima a 5.200 graus Celsius em torno de uma esfera sólida de níquel e ferro no centro do nosso planeta, mas não é preciso chegar lá para obter energia ilimitada.

Claro que se não estivermos em cima de uma fonte de magma próxima à superfície – como é o caso da Islândia, e vemos isso diariamente, onde 65% da energia consumida em 2016 foi geotérmica – teremos de perfurar até atingir cerca de 20 quilómetros de profundidade. Contudo, estamos a falar de uma tarefa que não é fácil. Aliás, é uma tarefa extremamente difícil!

Se conseguirmos realmente atingir esta profundidade em qualquer parte do mundo, teremos uma fonte de energia ilimitada 24 horas por dia a um custo muito baixo.

Os exemplos que existem hoje no planeta dizem-nos que a energia geotérmica eliminaria a necessidade de combustíveis fósseis de uma só vez. Todos os países seriam totalmente auto-suficientes.

Segundo refere a Quaise, num curto espaço de tempo, esta fonte de energia gratuita poderia fazer baixar as contas de eletricidade a preços ridiculamente baixos. A título de exemplo, na Islândia, a fatura energética média – incluindo eletricidade, aquecimento e água quente – é de cerca de 22 euros.

Agora imaginem como seria em Portugal, que tem um clima extremamente mais ameno. Eventualmente cada português gastaria metade deste valor mensal.

 

O ambiente agradecia menos poluição

A vantagem seria primeiro o custo direto ao bolso de cada um de nós, mas indiretamente, e possivelmente o mais importante, os custos ou a sua redução ao nível ambiental. Isto porque o acesso a um fornecimento praticamente ilimitado e constante de eletricidade também permitiria à humanidade continuar a avançar durante milhões de anos sem gerar CO2 ou gerar hidrogénio em qualquer lugar a um custo negligenciável.

Além disso, a Quaise assinala que já não estaríamos dependentes de energias renováveis intermitentes e poderíamos ver-nos livres de todas as plantas solares, hidrológicas, atómicas e eólicas que afetam a vida selvagem, recuperando esses espaços para a natureza.

Este esquema em cima mostra a plataforma de perfuração híbrida ultra-profunda da Quaise que combina a perfuração rotativa típica com a perfuração de energia dirigida por ondas de girotron, purgada por pressão com gasolina argon electromagneticamente transparente.

 

Como funcionaria o processo?

Se o processo descrito funcionar, até é de alguma forma irónico. Isto porque a Quaise teve origem no Centro de Ciências de Plasma e Fusão Nuclear do MIT, onde Paul Woskov – um dos co-fundadores do Quaise – criou este sistema de perfuração utilizando um girotron.

Em grosso modo, este dispositivo derivado de tubos de vácuo utiliza um feixe de eletrões que é amplificado numa cavidade de ressonância oca. No interior há um campo magnético que acelera estes eletrões a velocidades relativistas, amplificando radicalmente a energia de microondas.

O resultado é que o feixe de energia que sai da broca Woskov é capaz de vaporizar qualquer rocha imaginável.

Segundo Carlos Araque – outro engenheiro do MIT que descobriu o trabalho de Woskov em 2017 e co-fundou a Quaise – a ideia é perfurar e construir a infraestrutura necessária para aceder diretamente às centrais térmicas tradicionais.

Uma vez construída a infraestrutura de conversão, as centrais passariam dos combustíveis fósseis para esta energia geotérmica. Para o fazer, utilizariam primeiro sistemas de perfuração tradicionais para atingir uma profundidade de cinco quilómetros, que é padrão na indústria de extração de combustíveis fósseis. Nessa altura, Quaise mudaria para o seu berbequim de energia dirigida.

Um girotron de 1-mw, 150-ghz utilizado para aquecer o plasma dentro da experiência de fusão de wendelstein 7-x stellarator na Alemanha

A empresa está convencida do seu sucesso. Outro dos seus fundadores, o geólogo Matthew Houde, diz que o seu modelo é perfeitamente viável. A natureza, diz ele, tem buracos estáveis que vão muito além dos 20 quilómetros: vulcões. E a Islândia mostra que ser independente da energia a um custo ridículo para o consumidor é possível.

Agora resta saber se a broca e as outras tecnologias do Quaise serão bem sucedidas.

 

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