O percurso da sua informação clínica quando vai ao Hospital
Saúde e tecnologia estão de mãos dadas há já muitos anos, e cada vez mais os profissionais de saúde estão dependentes destas tecnologias em prol de um melhor cuidado de saúde para os utentes.
Conheça um pouco da integração e interoperabilidade no âmbito hospitalar.
Podemos assumir que o utente dito "normal" não faz ideia das ferramentas e das tecnologias hoje utilizadas para que a informação flua pelos diferentes serviços dentro do hospital, e mesmo entre diferentes hospitais e centros de saúde.
Vejamos o exemplo de uma urgência hospitalar, onde a informação do utente (dados demográficos e dados hospitalares) passa pelos seguintes sistemas:
- Sistema de Triagem
- SONHO (admissão)
- Sistema de Faturação
- EHR (software clínico)
- RIS (software radiologia)
- Outros
No mínimo, esta informação é transitável pelos 4 primeiros sistemas de informação, isto se o utente não fizer nenhum exame radiológico ou análises clínicas. Ou seja, o acesso à informação tem de ser em tempo real, sem diferenciação pelos sistemas (coerente), íntegro, seguro e rápido, sendo que a rapidez é sempre relativa, mas isso são outras discussões...
Esta pequena introdução serviu de mote para abordar um tema que, aos olhos dos utilizadores e utentes, é um pouco invisível e transparente, e que atua de certa forma em segundo plano, dando a sensação de que as coisas simplesmente acontecem. Esse tema é a Integração e Interoperabilidade de sistemas em âmbito hospitalar.
De uma forma muito geral e breve, segue-se uma explicação dos conceitos:
- Integração: é o processo de, utilizando sistemas diferentes e díspares, enviar e receber informação, ou seja, possibilitar a comunicação entres estes sistemas;
- Interoperabilidade: significa consolidar informação, de diferentes sistemas de informação, de forma a obter um novo significado, ou seja, obter informação útil.
No meio hospitalar é fundamental, senão "obrigatório", que exista integração e interoperabilidade entre os diferentes sistemas utilizados no processo clínico dos utentes. Assim como na programação, na saúde existem standards - HL7 (Health Level 7) - e uma linguagem (se é que se pode chamar assim) que é utilizada no mundo clínico. Desenvolvido inicialmente no final da década de 80, o HL7 tem sofrido várias alterações, existindo diferentes versões hoje em dia.
Para além do HL7, é utilizado também XML, WebServices (SOAP e REST), entre outros, como meio de comunicação entre os sistemas.
Quando se pretende fazer integração entre sistemas, é utilizado normalmente um middleware (não é obrigatório), mas é aconselhável, no sentido de não haver alteração dos sistemas já implementados e em produção.
De uma forma geral, é utilizada uma aplicação, que se encontra entre os sistemas que pretendem comunicar, que recebe as mensagens do sistema A, transforma a mensagem recebida na linguagem do sistema B e envia para o sistema B. O processo repete-se no sentido inverso.
Se o sistema A tem o XML como output e o sistema B tem o HL7 como input, o papel do middleware é, portanto, receber o XML, convertê-lo para HL7 e enviar para o sistema B. Da mesma forma que o midlleware recebe o HL7 do sistema B, transforma para XML e envia para o sistema A.
Traduzindo isto para a realidade, o paciente passa pela triagem, onde o enfermeiro faz o registo dos sintomas e do estado actual do paciente. Avançando algumas partes administrativas, depois da triagem ser feita, esta informação é transferiada para o EHR (software clínico), para que quando o paciente for atendido pelo médico, já estár disponível a informação detalhada que foi anteriormente descrita na triagem. De seguida, o médico pescreve uma TAC abdominal e regista nas observações clínicas do EHR que o paciente não o pode fazer com contraste. Esta informação é transferida para o RIS (software de radiologia), onde os técnicos de radiologia terão acesso à informação demográfica do paciente e às observações clíncias que o médico escreveu anteriormente, de forma a terem conhecimento que, neste caso, o utente não pode realizar o exame com contraste. Este processo, ou seja, esta troca de informação, repete-se pelos sistemas existentes no hospital e pelos serviços que o utente passa durante o seu episódio de urgência.
Em todas estas trocas de informação são utilizados, ou podem ser utilizados, vários standards ou diferentes formas de trocar informação, mas o mais utilizado é o standard HL7.
A parte de integração tem por norma a função de converter as mensagens entre sistemas, criar regras e lógica de roteamento, de forma a que ambos os sistemas "entendam" e interpretem a informação recebida. Assim, em mensagens trocadas entre os sistemas, abaixo está representada uma possibilidade para o XML.
De seguida, seria convertido para HL7, e vice-versa.
Este tema é uma pequena amostra daquilo que se faz hoje em dia nos hospitais, não só em Portugal mas a nível internacional, no que respeita à troca de informação entres sistemas hospitalares. Tudo isto acontece em segundo plano, permitindo que a informação clínica do utente chegue a todos os profissionais de saúde em tempo real, de forma segura e coerente.
Este artigo tem mais de um ano
Boas a todos,
Como profissional da área (Médico de Emergência Médica/Anestesia) dou valor a estes recursos e é bom informarem todos como funciona. Contudo saliento aqui que nem sempre temos acesso ao histórico ou processo do utente sendo este de outro distrito. Existem alguns hospitais sem acesso (falo no Porto) excepto ao histórico daquele hospital. Por exemplo, o Hospital São João não tem acesso ao histórico clínico quando este vai ao SU (Serviço de Urgência) de outros Hospitais ou Consultas fora do distrito do Porto. É complicado por vezes não ter acesso porque facilitaria muito o nosso trabalho. Contudo através do site SNS podem até mesmo consultar/marcar e até imprimir receitas médicas prescritas nos últimos 6 meses, do qual também vale a pena mencionar que o registo é fácil e rápido. Existe histórico clínico da “ida” as urgências, custos etc contudo não existe acesso especifico aos problemas do utente. Por outro lado há Hospitais que possuem acesso total ao historial do utente seja qual distrito ou zona teve ou for.
Saliento ainda que no site do SNS/Área de Cliente podem adicionar registos e exames clínicos, como podem digamos escolher quem tem acesso ao vosso historial clínico! Existem utentes que usufruem da privacidade total do historial clínico por razões diversas e no qual nós não temos acesso excepto aos demais que o mesmo deu acesso. O médico de família por exemplo deveria ter acesso a historial hospitalar e raramente possuem tal acesso e vice-versa. Não é apenas a comunicação entre Hospitais que é vital mas sim todos sistema nacional do serviço de saúde do utente, desde consultas sejam públicas ou privadas aos exames. Ainda falta um caminho longo a percorrer mas estamos muito mais eficazes que há alguns anos atrás.
Hoje em dia os RX´s por exemplo não são impressos mas sim transmitidos por rede interna hospitalar para o Computador onde fica registado (pode ou não depois noutra situação/hospital ter acesso).
Existem outros Hospitais com acesso total desde diagnóstico a exames complementaras e afins conforme aqui exemplifica e muito bem (gostei do artigo, obrigado!).
Mas ainda há muito a melhorar, desde as falhas e a integração do mesmo para o INEM e outros Hospitais, garantindo assim total cobertura do percurso do Utente em qualquer lado. Uma simples advertência sobre uma alergia ou problema de saúde faz autênticos milagres numa situação de emergência!
Já no INEM por vezes é difícil ter acesso a historial do utente e seria uma mais valia esta comunicação ser também ramificada aos serviços de emergência médica.
Seja como for, um excelente artigo 😉
Não sou tanto IT mas tenho algum conhecimento informático mas desconheço como realmente a programação e afins funcionam!
Forte Abraço
E cuidado com a chuva/vento… nada de excessos de velocidade sff!
Falando no HS João, vale a pena referir que já ganhou dois prémios Microsoft com o HVITAL.
Desconhecia desse facto.
Contudo também vale a pena referir que os sistemas falham muita vez, sobretudo nestes últimos 3 meses. Infelizmente… por vezes causa grandes transtornos para exames de diagnóstico e consultas.
Abraço
https://www.apple.com/newsroom/2018/01/apple-announces-effortless-solution-bringing-health-records-to-iPhone/
😉
Como utente do sns e acompanhante de um familiar num processo clínico complexo em 2017, o que pude observar no H.S.Maria/Lisboa é que a informação do paciente pelo que me foi constatado e questionado o médico da especialidade em causa por não ter acesso a informação de exames já realizados pelo paciente noutra especialidade , a resposta foi que não e que a informação de um paciente numa especialidade pode não ser disponibilizada noutra especialidade, isto mesmo em exames de diagnóstico que sejam comuns ou mesmo o histórico. Agora imagine-se o que ainda se perde em recursos de diversa ordem num mesmo hospital desta grandeza com toda a redundância que é criada em diagnostico ! Acredito que o que se perde desta forma seria suficiente na implementação de uma arquitetura integrada de big data.
“RIS” Rede Informática da Saúde e não radiologia. Penso que é assim e desculpem a inconveniência.
Também mas não só….
“O RIS (Radiology Information System ou Sistema de Informação de Radiologia) é um dos softwares mais completos de gestão para centros de diagnóstico por imagem.”
Só agora ? Até que enfim.
O objectivo de um serviço de urgência deveria ser tratar dos doentes e não andarem a brincar aos computadores (que é o que se verifica actualmente)
Acho essa referência um bocadinho fora do contexto.
As pessoas recorrem ao SU por todas e mais alguma razões sendo que 65% dos casos nem são considerados casos de SU mas sim casos clínicos que devem ser tratados em SAP ou SUB.
Não querendo defender a minha profissão mas sim a realidade, muitos utentes queixam-se e sim eu como utente também já tive que aguardar 12h de espera só para ver uma colega “incompetente” e sim não usufrui dos privilégios de passar a frente de ninguém porque naquele momento SOU utente e devo dar o exemplo. Contudo, acho que “brincar aos computadores” é algo que nenhum profissional do SU anda a fazer. Lá que digas que alguns enfermeiros/médicos andam lá as vezes de má vontade ou em vez de trabalharem arduamente para o serviço em causa andarem a fazer soft-service ainda acredito.
A ferramenta indispensável de facto é um computador, que guarda os registos e nos é transmitido qualquer exame/diagnóstico feito dentro dos SU ou Hospital!
Por exemplo… maioria do fluxo aos serviços de urgência aumenta na 5f, 6f e Sábado por razões óbvias de excesso de álcool e afins. Na 2f costuma ser o dia mais pesado da semana porque por norma as pessoas evitam os SU devido ao fluxo no fim de semana, onde por norma até os SUB/SAP enchem.
Eu recomendo sempre caso não tenham conhecimento médico (e evitem pesquisar no Google doenças sff) ligarem para a Linha de Saúde 24 que faz uma triagem por norma muito profissional e em casos graves até reencaminha a chamada para a CODU (INEM) caso o mesmo apresente sintomas que requeira uma ambulância ou algo mais diferenciado.
As pessoas criticam muito mas maioria nem sabe o que critica. Eu vejo muitas queixas nas áreas azuis, verdes e amarelas mas maioria nem se justifica sequer estar nos SU.
Eu defendo que os SU deviam estar fechados ao utente e sendo estes apenas aceites em casos de emergência (via Ambulância, Doença Súbita, Linha 24 ou Médico de Família) mas para tal acontecer teríamos que ter mais SUB/SAP 24h abertos com capacidade de filtrar e encaminhar de forma correcta para os Hospitais centrais. É como funciona em grande parte dos países da EU e é como deveria ser em Portugal MAS para tal requer um grande investimento e também vontade do governo em realizar essa melhoria!
Abraço