Recentemente, o Spotify anunciou que irá a adicionar um novo nível HiFi sem perdas aos seus planos de streaming de música. No entanto, é quase certo que o utilizador não conseguirá ouvir a diferença.
O Spotify anunciou o seu plano super-premium pela primeira vez em 2021, mas nunca foi lançado. Agora parece que vai chegar, mas… pode já ser muito tarde. Os rivais Apple e Amazon já têm uma opção sem perdas incluída nos seus planos de preços, portanto, cobrar mais parece ser uma proposta perdida. E, como veremos, a maioria dos utilizadores não beneficiará de qualquer forma.
De facto, existem desvantagens significativas no streaming destes ficheiros extra grandes.
Sim, existe definitivamente uma diferença entre áudio sem perdas e áudio com perdas, mas não acredito que o utilizador médio consiga distinguir a diferença. O fã convencional de música, especialmente num serviço de streaming, gosta da sua música em movimento – ouvindo-a com auriculares e auscultadores relativamente baratos.
Disse Michael L. Moore, criador do site Devoted to Vinyl ao Lifewire.
Mas então… sem perdas, com perdas, HiFi?
A música em streaming é comprimida para reduzir os dados necessários para a transmitir, tal como os MP3 foram comprimidos para poupar espaço nos computadores que tinham um armazenamento limitado em comparação com os dias de hoje. Esta compressão funciona eliminando dados, razão pela qual é designada por codificação “com perdas”. Contudo, a conversão é feita de uma forma que explora as idiossincrasias do ouvido e do cérebro humanos.
Em suma, é muito difícil distinguir entre gravações com e sem perdas. Se estiver a ouvir com auriculares ou uma coluna Bluetooth, a situação é ainda pior. O próprio Bluetooth utiliza compressão com perdas para reduzir a largura de banda.
É necessário um equipamento muito bom para ouvir a diferença no áudio, e isso não significa apenas boas colunas. Também é necessária uma interface áudio com conversores AD/DA de alta qualidade, um bom amplificador e, mais importante, uma sala com tratamento acústico. Este último aspeto é frequentemente negligenciado por muitos e, sem ele, é impossível ouvir a diferença.
Isto faz sentido para audiófilos ou engenheiros profissionais, mas não para 90% das pessoas que são apenas consumidores. Não se vai ouvir a diferença através do iPhone ou dos auscultadores Bluetooth – há demasiados pontos fracos na cadeia de sinal de áudio.
Disse o jornalista e músico Eloy Caudet.
O lossless, ou HiFi, ou seja qual for o seu nome, tem de facto utilidade. Os músicos precisam da maior qualidade possível sem compressão para poderem misturar e masterizar o áudio sem que este se desfaça no processo. Mas para ouvir simplesmente, os ficheiros MP3 e AAC com perdas são mais do que suficientes.
Tidal em vez do Spotify
A situação piora. A música é masterizada para o seu formato de destino. Quer isto dizer que são aplicados equalizadores e compressão de áudio (reduzindo o intervalo entre as partes mais baixas e mais altas). Com o vinil, os graves são drasticamente cortados para impedir que a agulha salte para fora da ranhura (os graves são adicionados novamente na reprodução). Com a rádio FM e os CDs, as faixas eram fortemente comprimidas para soarem mais altas do que a concorrência.
Ok, então e o streaming?
A música popular de hoje é normalmente misturada tendo em mente os serviços de streaming, utilizando uma gama menos dinâmica e concentrando-se na tradução para formatos populares como auriculares sem fios, colunas de computador portátil e o automóvel. Com a maioria das configurações sem fios, todo o áudio é convertido para um formato com perdas, o que significa que provavelmente não ouvirá qualquer diferença.
O áudio foi misturado para soar bem nestas configurações comuns com perdas. Empresas como a Apple reconhecem este facto e é por isso que se veem frequentemente álbuns antigos vendidos como Mastered for iTunes. Os álbuns são remasterizados tendo em conta os atuais formatos com perdas.
Explicou o músico profissional e especialista em áudio Alex Mak.
Então, o que fazer para obter um som melhor?
Muitas pessoas, se querem um bom som, optam pelo Tidal, onde até o nível básico tem um som melhor do que as versões do Apple Music (apesar deste serviço já oferecer muita qualidade). As faixas do Tidal soam visivelmente melhor, e não é por causa da perda ou da ausência de perdas. É porque a mistura e a masterização do Tidal são diferentes e, normalmente, fazem com que a música soe melhor.
Assim e segundo alguns especialistas, críticos e músicos, a ausência de perdas é pouco mais do que uma jogada de marketing. O truque é encontrar o serviço de streaming de música de que gosta, porque as diferenças na forma como masterizam e transmitem as suas músicas serão muito maiores do que a diferença entre streaming com e sem perdas. Se não gosta do Spotify, esqueça o seu plano HiFi e experimente o Tidal ou o Apple Music para qual prefere.