Por não esconder as suas intenções e crenças, os consumidores sabem que a Toyota não deposita nos carros elétricos todas as suas fichas. Afinal, há mais alternativas a serem consideradas e, na sua perspetiva, mais profícuas. Um novo relatório expõe, agora, que a fabricante japonesa financiou legisladores americanos que negam a existência de uma emergência climática e um dos principais opositores à expansão dos carros elétricos.
O Toyota Prius apareceu no mercado há cerca de três décadas, mas continua a ser associado à ação ambiental e ao consenso de que as emissões de combustíveis fósseis, incluindo as dos veículos, devem ser reduzidas.
Uma vez que os carros elétricos não são, para a Toyota, a única solução viável, a fabricante tem testado outras alternativas, como a tecnologia híbrida e o hidrogénio.
Um relatório divulgado ontem pelo grupo Public Citizen mostra que a Toyota terá investido na sua descrença relativamente aos carros elétricos a bateria.
O documento indica que a fabricante japonesa passou os últimos anos a financiar os legisladores americanos que negam a existência de uma emergência climática e um dos principais opositores à expansão dos carros elétricos.
Toyota está a atrasar o crescimento dos carros elétricos?
No relatório, intitulado Driving Denial, Adam Zuckerman, ativista sénior da campanha dos veículos limpos, explica como a Toyota emergiu nos últimos três ciclos eleitorais como o principal financiador dos negacionistas do clima no Congresso, doando a 207 dos seus ativistas.
Os principais beneficiários da Toyota que negam o clima incluem:
- O presidente da Câmara dos Estados Unidos, Mike Johnson, que recebeu 10.000 dólares da fabricante durante o ciclo de 2024 – o valor máximo permitido;
- E o deputado Jason Smith, que recebeu 7000 dólares, depois de pedir o fim dos créditos fiscais de carros elétricos e exigiu que a Agência de Proteção Ambiental (em inglês, EPA) fosse eliminada.
De acordo com o Public Citizen, entre 2020 e 2024, o comité de ação política (em inglês, PAC) da Toyota contribuiu com dezenas de milhares de dólares para legisladores de direita, incluindo:
- O deputado James Comer;
- David Schweikert;
- E Cathy McMorris Rodgers.
A Toyota deu um total de “808.500 dólares às campanhas de candidatos ao Congresso que negam ou questionam a existência de mudanças climáticas”.
Apesar da reputação da fabricante japonesa como inovadora em matéria de carros híbridos, “a maior fabricante de automóveis do mundo passou discretamente os últimos anos a construir uma poderosa operação de influência nos Estados Unidos, num esforço para atrasar a transição para os carros elétricos”, disse Zuckerman.
O financiamento de um pequeno exército de legisladores que negam o clima, ao mesmo tempo que fazem lobbying agressivo contra padrões mais fortes de emissões e economia de combustível, é uma combinação volátil destinada a reverter as políticas que protegem as nossas comunidades e o planeta.
Além de financiar as campanhas de legisladores que negam que as emissões de combustíveis fósseis estão a aquecer o planeta e a contribuir para incêndios florestais mais extremos, furacões e outras catástrofes, o relatório indica que a Toyota tem, também, feito pressão direta contra as regulamentações climáticas.
Em vez de abraçar um futuro de energia verde, a Toyota tem feito um lobby agressivo para atrasar e enfraquecer a ação climática.
Lê-se no relatório da Public Citizen, que indica que a ofensiva da Toyota deu resultados, pois, “durante a administração Biden, o lobby da Toyota e de outros forçou a EPA a enfraquecer um ambicioso plano para limitar as emissões dos veículos”.
As mudanças retardam a adoção de limites de poluição de veículos mais rigorosos, tornando mais fácil para os atrasados em matéria de mobilidade elétrica, como a Toyota, cumprir os regulamentos sem construir veículos elétricos.
Enquanto defendia ser líder climática global, nas últimas décadas, a Toyota foi nomeada pela InfluenceMap como a terceira pior empresa do mundo em lobby anticlimático, atrás das gigantes dos combustíveis fósseis Chevron e ExxonMobil.
De acordo com o relatório, o abandono da inovação em matéria de carros elétricos por parte da fabricante de automóveis e a adoção da negação do clima levanta a questão:
“Daqui a 20 anos, o que é que o mundo vai pensar da Toyota?”