A fabricante alemã de câmaras e equipamento fotográfico tornou-se em persona non grata na China, sobretudo nas redes sociais. Em causa está um vídeo, já refutado pela Leica, que homenageia aqueles que dão o seu olhar para que possamos ver. Um caso que promete dar que falar e que pode arrastar a Huawei.
A parceria entre a fabricante de câmaras e a fabricante de smartphones, pode trazer dissabores para a segunda.
Em causa está um vídeo batizado de The Hunt, ou a caça. Pelo momento. Pela história do outro lado da objetiva. Um conteúdo que valeu à Leica uma censura completa na China e nas redes sociais mais populares do país, nomeadamente a Weibo. Com efeito, ao tentar escrever Leica numa das redes, não poderá publicar o post.
A Leica foi banida censurada nas redes sociais da China
Ainda que a Leica alegue que o vídeo não foi por si patrocinado ou encomendado, tendo sido produzido por uma empresa brasileira, certo é que as repercussões não foram positivas. Já de acordo com o SCMP, o comportamento foi originado pela utilização de vários trechos e alusões os protestos de Tiananmen em 1989.
O vídeo foi originalmente partilhado em várias redes sociais, tal como na Weibo. Contudo, toca num tema tabu na China, os protestos e movimento social de Tiananmen. Desse modo, vimos as entidades competentes a censurar, por completo, a Leica de várias plataformas online chinesas, mantendo assim a censura.
Do mesmo modo, toda a temática envolvendo as palavras Tiananmen estão censuradas, caindo a Leica também nesta lista. Já de acordo com a Weibo, a censura aplicada à fabricante de câmaras, parceira da Huawei, terá ocorrido por violação das leis e regulações daquela que é considerada a maior rede social chinesa.
O vídeo faz várias referências a Tiananmen
Em causa estão os protestos que tornaram a Praça da Paz Celestial mundialmente famosa a 4 de junho de 1989. Instância em que o governo da China terá morto ou prendido milhares de civis. Até hoje, é um dos temas não falados naquele país, bem como nas plataformas online. Sobretudo à foto “Tank Man”, de Jeff Widener.
Já de acordo com um dos representantes da Leica, o vídeo nunca terá sido encomendado pela empresa, apesar de aparecer o logótipo da marca no fim. Aliás, a empresa alemã nega qualquer ligação ao vídeo que, por sua vez, já foi removido do YouTube, mas, ainda assim, já existem vários carregamentos de outras fontes.
A Leica Camera AG deve, assim, distanciar-se do conteúdo apresentado no vídeo e lamentar qualquer mal-entendido ou falsas conclusões que daqui possam ter surgido – porta-vos da Leica ao South China Morning Post.
Nas redes sociais, grassaram as críticas à Leica e Huawei
Ainda de acordo com a mesma fonte, a Huawei começou a ser citada em vários comentários de revolta. Com a página da Leica a ser inundada de reclamações, também a fabricante de smartphones foi alvo de críticas. “Será que tu (Leica) mereces sequer colaborar com a nossa patriótica Huawei?” Versa um desses comentários.
A Huawei não prestou qualquer declaração ou comentário em torno do caso. Mesmo assim, tal como o apontam várias agências de análise de mercado, a Huawei cresceu imenso na China nos últimos anos e, parte desse crescimento, deve-se precisamente ao sentimento patriótico, em detrimento das marcas estrangeiras.
Com todo o vídeo a começar, e a acabar, em Tiananmen, não há forma de contornar o assunto. Vemos inclusive a reconstrução dos momentos que levaram à captura de uma das fotografias mais icónicas do século XX.
Em contrapartida, o vídeo foi aclamado por várias ativistas e participantes dos protestos. Tomando a palavra, Zhou Fengsuo, usou a expressão “game changer“, afirmando também que “capturou o espírito dos eventos ocorridos há 30 anos”.
O antigo líder estudantil e um dos orquestradores do evento confessou ter ficado em lágrimas ao reviver estes momentos. Já perante o afastamento da Leica da autoria do vídeo comentou apenas “Podiam ter agido melhor“.