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Submarino nuclear russo afundado no mar da Noruega é a “Chernobyl do fundo do mar”

Portugal tem uma ligação íntima com o mar da Noruega, pois, de lá vem o fiel amigo bacalhau. No entanto, as notícias que nos chegam dão conta de algo bem mais preocupante. Segundo as autoridades do país, um submarino nuclear da guerra fria afundado está a vazar radiação em níveis 800.000 vezes acima do valor normal.

A embarcação da era soviética afundou no Mar da Noruega em 1989, quando um incêndio a bordo matou 42 marinheiros.


Usando um submarino robô, uma equipa de investigadores detetou traços de radiação a vazar do Komsomolets. Esta embarcação é um submarino nuclear soviético que se afundou há 30 anos no mar da Noruega. Os níveis de radiação registados são anormalmente altos, mas os cientistas dizem que não está a ameaçar os seres humanos ou a vida marinha.

 

História de um desastre

No dia 7 de abril de 1989, ao cruzar a uma profundidade de 380 metros, deflagrou um incêndio na secção traseira do Komsomolets. O K-278 Komsomolets foi o único Projeto 685 Plavnik, um submarino de ataque nuclear da Marinha Soviética.

O seu capitão conseguiu trazer o submarino para a superfície, mas este afundou cerca de cinco horas depois. Todos os 42 marinheiros foram mortos no incidente, conhecido como o desastre de Komsomolets.

Imagem integrante do relatório da CIA sobre o incidente.

 

O jazigo de um monstro

O submarino nuclear de 120 metros de comprimento ainda fica a cerca de 1700 metros abaixo da superfície do Mar da Noruega, a cerca de 320 quilómetros ao norte do continente norueguês.

Segundo um comunicado de imprensa emitido pelo Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega (IMR), o submarino está a libertar radiação. A quantidade de radiação de césio que vaza do naufrágio é significativa, foram detetados níveis de 800 000 vezes a leitura típica do Mar da Noruega. Apesar destes níveis, o vazamento “não representa risco para pessoas ou peixes”, de acordo com uma equipa conjunta com elementos do IMR e da Autoridade norueguesa de radiação e segurança nuclear (DSA).

Observações remotas do Komsomolets têm sido feitas anualmente desde a década de 1990. No entanto, a expedição mais recente, que termina esta semana, é a mais completa investigação dos destroços até o momento. Normalmente, os cientistas extraem amostras de água perto do submarino, mas desta vez os investigadores utilizaram o Aegir 6000 – um veículo operado remotamente (ROV) que foi lançado e monitorado pelo navio de investigação GO Sars.

Queremos fazer uma investigação com um ROV há vários anos. O Aegir 6000 permite-nos ver exatamente onde estamos a recolher amostras em volta dos destroços e, igualmente importante, conseguimos usar as suas câmaras para ampliar e estudar todo o submarino nuclear, secção por secção.

Disse a líder da expedição Hilde Elise Heldal no comunicado à imprensa.

ROV Aegir 6000 no trabalho no naufrágio. | Imagem: IMR

 

800 mil vezes acima dos valores normais serão “valores seguros”?

Expedições anteriores ao naufrágio por equipas russas documentaram vazamentos de radiação ao redor de uma conduta de ventilação, de acordo com Heldal. Assim, o Aegir 6000 foi direcionado para o mesmo local, onde também detetou altos níveis de césio radioativo. Então, “não ficamos surpresos em encontrar altos níveis aqui”, disse ela.

Por “altos níveis” os investigadores estão a referir-se a valores 800 000 vezes mais altos do que o que é tipicamente observado no Mar da Noruega. Dito isto, nem todas as amostras recolhidas perto do respiradouro produziram os mesmos resultados elevados, e as medições feitas apenas a poucos metros acima da conduta não produziram os mesmos níveis de radioatividade, como Justin Gwynn, investigador da DSA, explicou no comunicado à imprensa.

Um submarino radioativo com vazamento certamente parece assustador, mas esta investigação sugere que o naufrágio não está atualmente a colocar em risco o Mar da Noruega e as áreas periféricas. Normalmente, os níveis de radiação no Mar da Noruega estão em 0,001 Becquerel (Bq) por litro. Em torno dos destroços, no entanto, eles chegam a 100 Bq por litro. Para referência, a quantidade aceitável de radiação nos alimentos é de 600 Bq por quilo, conforme estabelecido pelo governo norueguês na sequência do desastre de Chernobyl.

Os níveis que detetamos estavam claramente acima do normal nos oceanos, mas não eram alarmantes.

Explicou Heldal. A investigadora também acrescentou que o naufrágio é bastante profundo e a radiação está a diluir-se rapidamente. E não há muitos peixes nesta parte do oceano, então há pouco perigo de contaminar os frutos do mar noruegueses, disse Heldal.

 

Há outros elementos a vazar do submarino

O robô Aegir 6000 também detetou baforadas de água escura a sair da conduta. Isso atraiu a atenção dos investigadores, que se perguntam se de alguma forma estão relacionados à radioatividade. Estas “nuvens”, como eles as chamavam, valem a pena investigar no futuro.

A sonda submarina também recolheu amostras de água do mar, sedimentos e minúsculos organismos ligados aos destroços. Estas amostras serão analisadas no laboratório. Portanto, os resultados atuais devem ser considerados preliminares até que isso seja feito.

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