A energia nuclear é um tópico pouco consensual, reunindo opiniões polarizadas. Apesar disso, França está a aplicar o conhecimento que tem nessa área para o desenvolvimento de um projeto estratégico, que visa a reciclagem de baterias de carros elétricos, painéis solares e turbinas eólicas.
Na sequência da crise energética espoletada pela pandemia e exacerbada pela guerra na Ucrânia, o Presidente francês, Emmanuel Macron, definiu uma nova estratégia.
O novo programa atómico, a ser concretizado por França, prevê a construção de até 14 novos reatores nucleares, nas próximas duas décadas.
A par disso, os franceses criaram uma aliança a nível europeu, juntando-se a países como a Polónia, a Roménia, os Países Baixos, a República Checa, entre outros, por forma a apostar na energia nuclear, tendo em vista o alcance dos seus objetivos climáticos.
A experiência e conhecimento nuclear, especialmente em questões de reciclagem de resíduos, em que França é líder mundial, pode servir de impulso para uma das iniciativas mais importantes que a União Europeia está a levar a cabo para reduzir a dependência da China no que diz respeito aos carros elétricos e às baterias.
De facto, conforme já vimos, esta dependência é um dos grandes problemas europeus, neste momento.
Em França, os investigadores estão a recorrer a métodos utilizados em centrais nucleares para aumentar a sua capacidade de reciclagem de baterias. Não sendo um produtor natural de metais críticos e terras raras, França deve importá-los de outros países, pelo que continuar a desenvolver iniciativas como esta, aproxima o país da autossuficiência.
França está a aplicar conhecimento em energia nuclear à reciclagem de baterias
Atualmente, a Comissão Francesa de Energias Alternativas e Energia Atómica (CEA) utiliza as suas instalações em Marcoule, no sul de França, onde outrora nasceram os programas de energia nuclear e de armas do país, para encontrar formas de reciclar componentes antigos utilizados em baterias de carros elétricos, painéis solares e energia eólica.
O objetivo passa por perceber como podem reaproveitá-los à escala industrial.
Estamos a estudar como armazenar, converter e transportar eletricidade e como tornar a transição energética eficiente.
Explicou o chefe do departamento de novos materiais do centro CEA, Richard Laucournet.
Algumas das técnicas que estão a ser exploradas, em França, permitem aos investigadores recuperar elementos como lítio, níquel-cobalto, grafite, silício, prata, entre outros. Além disso, o foco está voltado para a reciclagem feita a partir de fontes de energia limpa.
De acordo com estimativas da CEA, em França, os materiais reciclados poderão, em algum momento, no futuro, representar 35% das necessidades da Europa para se tornar autossuficiente no fabrico de baterias. Para já, a autossuficiência ainda está longe.