De todas as polémicas que envolvem os satélites da rede Starlink, agora há mais uma e parece ser de maior gravidade. Já não bastava serem uma dor de cabeça para os astrónomos, por causa da quantidade, agora é a radiação!
A promessa de internet a preços baratos, nos quatro cantos do planeta, seja em terra, mar ou ar, parece absolutamente fantástico. Contudo, o preço a pagar, dizem os especialistas, poderá ser altíssimo.
Não estamos a falar só do “lixo espacial” que cada vez aconchega mais o planeta, há outros problemas igualmente graves.
Radiação que prejudica as investigações
A rede Starlink, da SpaceX, contabiliza já cerca de 6 mil satélites na órbita baixa da Terra (LEO), cobrindo atualmente 40 países. E conseguimos ver os comboio de satélites a cruzar o céu. Mas isso traduz-se num problema!
Quer isso dizer que, se os vimos, é porque têm um brilho elevado, semelhante ao das estrelas mais ténues. Isto torna a sua observação um pouco difícil para os astrónomos, e há já algum tempo que muitos se queixam disso.
O cenário de problemas não se fica por aqui. Uma equipa de cientistas do Instituto Holandês de Radioastronomia descobriu que isso não é o pior. Há outra forma de tornar o trabalho dos astrónomos muito, muito mais difícil.
Supostamente, os satélites, quer sejam da SpaceX ou de qualquer outra empresa, não devem emitir ondas de rádio fora da gama de 10,7 a 12,7 gigahertz, que se destina às comunicações.
Acima de tudo, devem evitar a gama de 150,05 a 153 megahertz, que é utilizada para a radioastronomia. Se estes valores forem atingidos, os satélites podem interferir com as medições dos radiotelescópios, prejudicando assim muitas investigações importantes.
Satélites prejudicam a radioastronomia
Infelizmente, estes cientistas holandeses mostraram que os satélites Starlink estão a começar a emitir radiação nesta gama. Assim, o problema que colocam no céu vai muito para além da poluição luminosa. O pior de tudo é que ainda agora começou.
A radioastronomia é um ramo da astronomia que estuda objetos celestes medindo as suas emissões sob a forma de ondas de rádio. Para o efeito, são utilizados telescópios específicos, designados por radiotelescópios.
A primeira deteção de ondas de rádio provenientes de um objeto astronómico foi feita em 1933, quando o engenheiro Karl Jansky detetou radiação proveniente da Via Láctea. Desde então, foram feitas muitas descobertas graças a grandes radiotelescópios, como o telescópio de Arecibo, em Porto Rico, ou o VLA, no Novo México.
O que acontecerá a partir de agora com os satélites da SpaceX?
Os satélites da SpaceX interferem com as medições dos radiotelescópios. Podem gerar ruído de fundo que dificulta a captação da radiação proveniente dos objetos celestes a analisar. Este facto, juntamente com a poluição luminosa, está a dificultar cada vez mais o trabalho dos telescópios.
E o pior é que o problema pode continuar a ser causado pela SpaceX e por outras empresas. A OneWeb já lançou mais de 600 satélites, a Amazon planeia ultrapassar a marca dos 3.000 e a China quer organizar uma constelação ao nível da Starlink, com um total de 15.000 satélites.
Em princípio, nenhum deles deveria exceder o alcance das telecomunicações. No entanto, a SpaceX também não tencionava fazê-lo. O mundo está cheio de boas intenções, mas por vezes não são suficientes.
A SpaceX já tentou pintar os seus satélites de preto para reduzir o brilho e é evidente que não foi suficiente. Agora vamos ter de esperar para ver que medidas tomam para resolver o problema da radiação.