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Níveis de CO2 na atmosfera registaram recorde histórico em abril

O mundo acabou de registar um recorde que certamente nunca se irá vangloriar. Pela primeira vez na história registada, no passado mês de abril, o nível médio mensal de CO2 na atmosfera excedeu 410 partes por milhão.

Os dados recolhidos pelo Observatório Mauna Loa, no Havai, são uma prova clara do rápido aquecimento global que a humanidade tem estado a provocar.


CO2 é o veneno que o planeta fabrica

Estes dados não são uma surpresa, isto é, dado o ritmo de transformação do ar que respiramos nos últimos dois séculos, com um aumento significativo de CO2 lançado na atmosfera, os níveis entraram em território desconhecido.

Se não houver medidas para controlar os gases lançados na atmosfera, o aumento dos níveis de CO2 poderá levar a dezenas de milhares de mortes relacionadas com a poluição, atingir um ponto em que poderia diminuir a cognição humana, contribuir para o aumento do nível do mar, eventos críticos de ondas de calor e super-tempestades.

 

Registos de 800 mil anos poderão dizer-nos o que nos vai acontecer

Existem dados, com um grande grau de certeza, de como evoluiu a atmosfera da Terra nos últimos 800.000 anos. A espécie humana, tal como a conhecemos hoje, os Homo sapiens, evoluíram apenas há cerca 200.000 anos atrás, mas os registos do núcleo de gelo da Terra revelam detalhes complexos da história do nosso planeta desde muito antes da existência dos seres humanos.

Ao perfurar mais de 3 quilómetros de profundidade nas camadas de gelo sobre a Gronelândia e a Antártica, os cientistas podem ver como a temperatura e os níveis de dióxido de carbono da atmosfera mudaram desde então.

Esse registo encrostado no gelo permite saber que a atmosfera (e o ar que respiramos) nunca teve tanto dióxido de carbono como hoje.

Como cientista, o que mais me preocupa é o que esse crescimento contínuo realmente significa: que continuamos a avançar a todo vapor com uma experiência sem precedentes com o nosso planeta, o único lar que temos.

Alertou a cientista Katharine Hayhoe, na sua conta do Twitter.

 

Revolução industrial foi gatilho para o desastre

Os registos dos 800.000 anos mostram que os níveis globais médios de CO2 flutuaram entre aproximadamente 170 ppm e 280 ppm. Uma vez que os humanos começaram a queimar combustíveis fósseis na era industrial, a situação mudou radicalmente.

Somente na era industrial o número subiu para mais de 300 ppm. A primeira vez que a concentração subiu acima de 400 ppm foi em 2013, e tem continuado a subir desde então.

 

Que ar respiramos neste “novo mundo”?

A classe científica tem debatido ferozmente estes números relacionados com os níveis de CO2. A última vez que os níveis de dióxido de carbono foram tão altos pode ter acontecido durante a era Pliocénica, entre 2 milhões e 4,6 milhões de anos atrás, quando os níveis do mar estavam entre 18 e 24 metros acima dos atuais. Ou pode ter sido no Mioceno, de 10 milhões a 14 milhões de anos atrás, quando o nível dos mares estava mais de 30 metros acima do atual.

Nesse registo de 800.000 anos, há indicações que foram necessários 1000 anos para que os níveis de CO2 aumentassem em 35 ppm. Atualmente, estão a ser calculados aumentos de mais de 2 ppm por ano, o que significa que podemos atingir uma média de 500 ppm nos próximos 45 anos.

Há um ar que nunca nenhum ser humano respirou no passado e não estamos de todo a falar de qualidade, estamos sim a perder qualidade que irá complicar o desenvolvimento da nossa espécie.

 

As consequências serão duras para a humanidade

Temos já visto indícios claros que a temperatura global acompanha muito de perto os níveis atmosféricos de CO2.

Os efeitos potenciais de temperaturas médias mais altas incluem dezenas de milhares de mortes por ondas de calor, aumento da poluição do ar que leva ao aparecimento de cancro pulmonar e doenças cardiovasculares, maiores taxas de alergias e asma, eventos climatéricos mais extremos e disseminação de doenças transmitidas por insetos, situações que não são de todo novidade.

Os níveis mais elevados de CO2 também aumentam os efeitos da poluição por ozono. Um estudo de 2008 descobriu que por cada grau Celsius que a temperatura aumenta, devido aos níveis de CO2, é previsível esperar que a poluição por ozono mate mais 22.000 pessoas por doenças respiratórias, asma e enfisema.

Um estudo recente descobriu que, em geral, a poluição do ar já mata 9 milhões de pessoas todos os anos.

 

Passo a passo esculpimos a lápide do fim

Segundo alguns especialistas, o planeta está a caminhar para que no final deste século seja atingido o valor de 550 ppm, o que fará com que a temperatura média global suba 6 graus Celsius.

Será certamente um cenário catastrófico: para contextualizar, o aumento das tempestades, a subida do nível do mar e a disseminação de doenças transmitidas por insetos, tal como já acontece, aparece após um aumento de 0,9 graus.

Há várias projeções que dão conta da contínua subida do nível do mar. Atualmente, as emissões de dióxido de carbono ainda estão a aumentar.

 

Acordo de Paris em desacordo com a realidade

O acordo de Paris estabeleceu uma meta para limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius ou menos. Contudo, num artigo recente publicado na revista Nature, é referido que estamos a caminho de mais de 3 graus de aquecimento.

As últimas medições de Mauna Loa mostram claramente que ou mudamos drasticamente a forma como tratamos o planeta ou são inevitáveis cenários complicados para a humanidade nos próximos anos.

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