O mundo continua num confronto entre as duas superpotências, a China e os EUA. A questão da implementação da tecnologia de comunicação 5G há vários meses que tem sido a bola de pingue-pongue entre estes dois países. Contudo, pelo meio, outras nações e empresas vão sendo afetadas e atacadas. Agora, segundo as declarações do embaixador dos EUA, Portugal tem de escolher quem quer para parceiro estratégico. Se a Huawei avançar no 5G e a construção do terminal de Sines for entregue a uma empresa chinesa, o país perderá apoios americanos estratégicos.
A tecnologia tem estado na berlinda entre as relações cada vez mais complicadas entre a administração Trump e Xi Jinping.
Estados Unidos da América ameaçam Portugal
O Embaixador dos Estados Unidos em Portugal, George Glass, numa entrevista ao jornal Expresso, ameaça mudar a relação com Portugal na Segurança e Defesa. Segundo as palavras do embaixador, em causa está a entrada da Huawei no fornecimento da tecnologia 5G às empresas de comunicação do país.
Além disso, o diplomata refere que se os chineses ganharem o terminal de Sines, o gás natural americano terá de encontrar outras alternativas.
Apesar de haver vários pontos que são alvo dos americanos, para Portugal o aviso foi direto, no leilão para a tecnologia 5G “tem de escolher agora” entre o aliado ou o parceiro comercial, EUA ou China.
Implementação da tecnologia 5G em Portugal
O leilão do espectro do 5G tem vindo a ser discutido desde 2019, foi apontado na altura o mês de abril de 2020 para a sua realização. Contudo, devido à pandemia e implementação do estado de emergência, a reguladora das telecomunicações suspendeu o processo. Posteriormente, em julho passado, o processo voltou a andar com a conclusão do procedimento da consulta pública do projeto de regulamento do leilão.
O leilão será iniciado no próximo mês de outubro de 2020, sendo o seu encerramento em dezembro de 2020. Quer isto dizer que a conclusão dos procedimentos de direitos de utilização de frequências (DUF) só acontecerá em janeiro ou fevereiro de 2021.
A consulta pública do projeto de regulamento do leilão para a atribuição de direitos de utilização de frequências para o 5G e outras faixas relevantes (700 MHz, 900 MHz, 1800 MHz, 2,1 GHz, 2,6 GHz e 3,6 GHz), que terminou no início de julho, recebeu cerca de 500 contributos.
Segundo o Expresso, as empresas de telecomunicações já disseram que não teriam a Huawei no core [no núcleo/backbone do sistema]. Contudo, estas poderão ter tecnologia Huawei nas transmissões rádio [nas antenas e distribuição do sinal]. No entanto, para o embaixador parece ser um tudo ou nada. Isto é, os EUA querem que seja como aconteceu no Reino Unido. Inicialmente o RU contrariou a estratégia dos EUA e implementou a tecnologia 5G permitindo que a Huawei desempenhasse um papel nas partes “não essenciais” da rede 5G. Mas, em julho, o governo anunciou que todo o kit da empresa teria que ser retirado até 2027.
George Glass referiu que é muito importante saber que o 5G engloba tudo e quem está no centro ou na rede, está dentro do sistema. Assim, deixou claro que os EUA preferem que “não haja nenhum equipamento” da Huawei na rede de 5G.
O que acontecerá a Portugal se optar pelo parceiro comercial chinês?
Atualmente a China é um importante parceiro de Portugal. Conforme é sabido, são muitos e estratégicos os interesses em território nacional onde as empresas chinesas têm alavancado a economia do país. Contudo, ainda segundo a entrevista feita pelo Expresso, se Portugal optar por trabalhar com a China, os EUA irão considerar Portugal como um país sem uma rede de telecomunicações confiável. Portanto, como “consequência” isso mudará a forma como os americanos irão interagir com Portugal em termos de segurança e de defesa.
Além da Huawei, o embaixador levou igualmente outros interesses onde os EUA irão reconsiderar trabalhar com Portugal pela estreita cooperação com empresas chinesas. Na questão colocada, a tal “questão para o prémio da montra final”:
P: Quando diz que Portugal tem de fazer uma escolha, isso é uma ameaça? Quais seriam as consequências?
R: Não há qualquer ameaça. A ameaça vem da China…
Em resumo, conforme temos visto o desenvolvimento desta relação entre os Estados Unidos e a China irá obrigar a escolher. Nesta insípida forçosa escolha, de que lado deverá Portugal ficar? Santos Silva responde a embaixador dos EUA: “Quem toma as decisões é Portugal”.