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Especialistas preveem o impacto que a IA terá no futuro do trabalho

Com a emergência do ChatGPT e a Inteligência Artificial (IA) no centro do debate, é natural que os mais desatentos e receosos estranhem os conceitos e, em alguns casos, cheguem a temê-los. Por isso, e para esclarecer as mentes mais agitadas, trazemos a opinião de cinco especialistas sobre o impacto que os modelos de linguagem poderão ter no futuro do trabalho.


Os avanços tecnológicos agitam sempre o mercado de trabalho, por introduzirem soluções que descartam os profissionais, ainda que gerem novos cargos e novas áreas. Ora, remetendo aos temas que inundam a atualidade, a emergência dos modelos linguísticos está a permitir que cheguemos a patamares nunca antes vistos como, por exemplo, computadores a desenvolver textos, produzir músicas e criar imagens, assim como só um ser humano conseguia.

Esta facilidade tecnológica poderá estar a pôr em risco áreas de trabalho que se pensavam altamente humanas, como é o caso da arte, levantando questões sobre o futuro. Por isso, o The Conversation reuniu cinco especialistas em IA e pediu-lhes que opinassem, relativamente ao impacto que os modelos linguísticos de grande dimensão poderão ter nos artistas e nos profissionais do conhecimento.

Lynne Parker, vice-chanceler associada, University of Tennessee

Os grandes modelos linguísticos estão a tornar a criatividade e o conhecimento acessíveis a todos.

Para a vice-chanceler, é “especialmente notável” a forma como os modelos linguísticos entregam resultados com uma impressionante perícia humana. Afinal, todos aqueles que se consigam ligar à Internet conseguem aceder a ferramentas como o ChatGPT e, em pouco tempo, todos podem criar apresentações de negócios, gerar campanhas e propostas de marketing, garantir ideias para desenvolver um texto, ou até mesmo produzir linhas de código que respondam a uma necessidade específica.

Lynne Parker, vice-chanceler associada, University of Tennessee

Apesar de não conseguirem ler mentes e embora representem benefícios significativos na disponibilização do mundo criativo a todos, para Lynne Parker, os sistemas de IA poderão ser um problema.

Em primeiro lugar, porque podem acelerar a perda de competências humanas que permanecerão importantes, ao longo dos próximos anos, “especialmente no que diz respeito à escrita, pelo que as instituições de ensino precisam de definir políticas que regulem a utilização dos modelos linguísticos, de modo a assegurar a aprendizagem pretendida e a justiça. Em segundo lugar, porque estas ferramentas de IA levantam questões no que à propriedade intelectual diz respeito.

Estas ferramentas estão na sua infância, dado o seu potencial. Por enquanto, acredito que existem soluções para as suas atuais limitações.

 

Daniel Acuña, professor associado de Informática, University of Colorado Boulder

Sou um utilizador regular do GitHub Copilot, uma ferramenta para ajudar as pessoas a escrever código informático, e passei inúmeras horas a brincar com o ChatGPT e ferramentas semelhantes para texto gerado por IA. Na minha experiência, estas ferramentas são boas para explorar ideias que nunca tinha pensado antes.

Segundo o professor, as ferramentas de IA “são úteis para descobrir novas formas de melhorar o fluxo de ideias, ou para criar soluções com pacotes de software” que ele não sabia que existiam.

Assim que vir o que estas ferramentas geram, posso avaliar a sua qualidade e editá-las pesadamente. Em geral, penso que elevam a fasquia sobre o que é considerado criativo.

Daniel Acuña, professor associado de Informática, University of Colorado Boulder

Na sua opinião, um dos problemas dos modelos linguísticos, como o ChatGPT, é o conjunto de imprecisões que podem gerar, sejam elas significativas ou não. Nesse sentido, considera que “se os utilizadores não forem críticos em relação ao que as ferramentas produzem, elas são potencialmente nocivas”. Aliás, conforme recorda, recentemente, a Meta encerrou “o seu modelo para textos científicos, Galactica, porque inventava factos” ao mesmo tempo que “soava muito confiante”.

Além dos preconceitos que os modelos linguísticos podem aprender, Daniel Acuña também apontou o plágio como um problema de sistemas de IA. Ambos são, para o professor, mais flagrantes nos modelos de geração de imagens.

Kentaro Toyama, professor de Informação Comunitária, University of Michigan

Nós, seres humanos, adoramos acreditar na nossa especialidade, mas a ciência e a tecnologia têm provado repetidamente que esta convicção está errada […] Entretanto, a tecnologia anulou, uma a uma, a afirmação de que as tarefas cognitivas requerem um cérebro humano.

O professor questiona a forma como a inteligência e a criatividade humana serão valorizadas, no momento em que as máquinas conseguirem tornar-se mais inteligentes e criativas. Segundo refere, “em alguns domínios”, ainda que um computador seja capaz de fazer melhor, a vertente humana ainda é valorizada.

Em outros domínios, a perícia humana parecerá dispendiosa e irrelevante. Veja-se a ilustração, por exemplo. Na sua maioria, os leitores não se importam se o gráfico que acompanha um artigo de revista foi desenhado por uma pessoa ou por um computador – apenas querem que seja relevante, novo e talvez divertido. Se um computador pode desenhar bem, os leitores importam-se se a linha de crédito diz Mary Chen ou System X?

Kentaro Toyama, professor de Informação Comunitária, University of Michigan

Kentaro Toyama assegura que não será tudo “preto no branco” e que “muitos campos serão um híbrido”. Na manufaturação, por exemplo, uma parte do trabalho já é executada por robôs, havendo humanos a supervisionar as máquinas. No entanto, a par disso, “continua a haver um mercado para produtos feitos à mão”.

Mark Finlayson, professor associado de Informática, Florida International University

Como qualquer nova tecnologia poderosa que automatize uma habilidade – neste caso, a geração de texto coerente, embora algo genérico – afetará aqueles que oferecem essa habilidade no mercado.

O professor de Informática admite que os grandes modelos linguísticos, como o ChatGPT, que foram treinados com um número recorde de palavras, surpreendem muitos, incluindo especialistas em IA, pela sua flexibilidade e sensibilidade.

Mark Finlayson, professor associado de Informática, Florida International University

Além disso, acredita que os novos modelos linguísticos “permitirão novas formas de trabalho e resultarão em novos trabalhos ainda inimagináveis”. Embora sejam impressionantes ajudantes, o professor sugere que os criativos e os profissionais do conhecimento olhem para as falhas dos novos sistemas de IA como oportunidades.

Afinal, conforme enumera, pode ser necessário adaptar, humanamente, a linguagem gerada por um modelo, garantir que os resultados são adequados, e assegurar que a informação gerada vai ao encontro do senso comum (apreendido pelos seres humanos).

Casey Greene, professor de Informática Biomédica, University of Colorado Anschutz Medical Campus

O ChatGPT envolve um modelo de linguagem de grande dimensão de última geração, afinado para o chat, numa interface altamente utilizável.

O professor Casey Greene acredita que “tal como acontece com muitos avanços tecnológicos, a forma como as pessoas interagem com o mundo irá mudar na era dos modelos de IA amplamente acessíveis”. Afinal, sistemas como o ChatGPT colocam “uma década de rápido progresso da IA na ponta dos dedos das pessoas”.

Casey Greene, professor de Informática Biomédica, University of Colorado Anschutz Medical Campus

Na sua opinião, a pergunta que impera passa por perceber se a sociedade vai utilizar estes modelos de IA para “promover a equidade ou para exacerbar as disparidades”.

 

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