A Intel é a mais poderosa empresa a fabricar processadores. Tem dinheiro, tem segmentos onde lidera, como no segmento desktop e portáteis, e tem uma tentacularidade global no que toca à utilização das suas tecnologias. Há, contudo, um segmento onde está com dificuldades em entrar: os dispositivos móveis. Depois de ter passado com pouco sucesso pelos dispositivos Windows Phone/Mobile e alguns Android, a empresa cancelou os SoCs Atom Mobile.
Agora, com possíveis clientes de outra força, poderemos ver os primeiros chips ARM da Intel até final do ano, segundo deu a conhecer a gigante americana na recente conferência ARM Tech Con 2017.
Preâmbulo
A Intel confunde-se um pouco com a história moderna da computação. Fundada em 1968, por Gordon Moore (da famosa Lei de Moore) e por Robert Noycea, a empresa é hoje o número um no fabrico de microprocessadores e luta lado a lado com a Samsung pela liderança também no fabrico de semicondutores. A gigante norte-americana tem as mais avançadas instalações do mundo para a concepção e fabrico, conta com um grupo de engenheiros com o melhor currículo e experiência da atualidade e o seu departamento de I+D está à altura dos melhores.
Todo este poder é imprescindível no mercado atual para poder projetar, produzir e comercializar processadores por si só, algo que poucas empresas são capazes de o fazer. A sua carteira de clientes e o seu património são hoje um garante para qualquer empresa parceira, quer no que toca ao poder de inovar quer mesmo no poder de colocar no mercado unidades em quantidade suficiente para abastecer a procura planetária.
Dificuldades no mundo mobile
Por várias razões que a história consegue explicar, mas sobretudo pela rápida mudança de paradigma na computação – que passou do computador de secretária / portátil para o “computador de bolso”, tendo o smartphone como o representante máximo desse conceito que cresceu à velocidade da luz -, a Intel teve de se render. Não acompanhou e perdeu a oportunidade de liderar também este segmento principalmente quando tentou, em vão, estabelecer a sua arquitetura x86.
Depois de investimentos pesados, onde tentou sem sucesso atrair empresas como a Apple e outros com base no Android, teve ainda o percalço do fiasco no Windows Phone/Mobile, que levou a empresa a cancelar os SoCs Atom Mobile da série Broxton e SoFIA, deixando virtualmente o mercado de smartphones e tablets.
ARM Holdings: Culpada
Quem está “por detrás” deste insucesso da Intel tem um nome: ARM Holdings.
A ARM Holdings é uma empresa de tecnologia britânica, fundada em 1990, uma empresa conhecida pelo desenvolvimento de microprocessadores. Esta também projeta, licencia e vende ferramentas de desenvolvimento de software sob as marcas RealView e Keil, bem como sistemas e plataformas, os famosos system-on-a-chip (SoC) e software.
Na realidade, esta é uma pequena empresa em volume de negócios e lucros que não vende, não distribui nem fabrica nenhum produto no setor de semicondutores mas que empurrou para as cordas, no segmento da mobilidade, a gigante Intel. O seu maior trunfo é o modelo de licenciamento, uma excelente relação potência / consumo / preço que está na base do sucesso que esta empresa representa no mundo atual.
Tecnologia ARM da Intel
A Intel há muito tempo que conta com licenças ARM e pensa agora aproveitá-las. Na informação que fez chegar ao mercado, o desenvolvimento mais interessante é um SoC fabricado no processo de 10 nanómetros usando a próxima geração do Cortex-A da ARM, com frequências de 3,5 GHz e com um consumo contido em 0,25 mW/MHz.
Embora sejam empresas “rivais”, a Intel detém licenciamento que poderá usar para fabricar tecnologia com amplo benefício para ambas as marcas. A Intel tirará proveito de toda a sua capacidade de fabrico e das suas avançadas fábricas para poder competir com a Qualcomm, com a Samsung e também com outros fornecedores como a TSMC.
A informação revelada, contudo, não permite saber qual será o alcance que estes chips irão ter, se irão ser desenvolvidos a pedido de clientes (como a Apple por exemplo) ou se a empresa pretende ter uma política de colocação no mercado como tem na sua gama não mobile.
Seja qual for o método de comercialização, será muito interessante verificar que a empresa irá retomar o fornecimento de SoCs para smartphones e tablets. A Intel possui uma estratégia para se deslocar de uma empresa que depende principalmente de receitas de chips de PC para outros objetivos de maior crescimento e rentabilidade. Estão certamente na sua alçada os sensores, os chips para os equipamentos “vistíveis” (wearables), o enorme mercado IoT e outros segmentos nos quais vimos desenvolvimentos recentemente, como a inteligência artificial com Nervana, o armazenamento e memórias com o Optane e os chips necessários para as próximas redes 5G.
Em resumo…
Se há movimentações do lado da Broadcom para aquisição da Qualcomm, a verdade é que há sobretudo e “rearmar” de estratégias pelo lado da Intel para enfrentar nos próximos anos os seus adversários, atraindo os maiores clientes neste segmento. Não será por acaso que a marca Apple, juntamente com a marca Intel, têm estado tão em voga ultimamente.