Nos últimos anos, os investigadores em colaboração com as forças armadas dos Estados Unidos têm-se focado mais nas potenciais vulnerabilidades de segurança dos satélites em órbita. Estes dispositivos, construídos principalmente com durabilidade, confiabilidade e longevidade em mente, em grande parte nunca foram concebidos para serem ultra-seguros. Este manancial poderá ser atrativo para o mundo hacker.
Foi exatamente nesse sentido que, na conferência de segurança ShmooCon em Washington, DC na sexta-feira, o investigador de segurança de dispositivos incorporados Karl Koscher levantou questões sobre uma fase diferente do ciclo de vida de um satélite. Este especialista questionou o que acontece quando um satélite antigo está a ser desativado e em transição para uma “órbita de cemitério”? Poderá ser uma ferramenta para os hackers?
O artigo partilhado pela WIRED dá-nos uma perspetiva muito interessante de muita tecnologia “obsoleta”, mas que está funcional, para outras ações que não as desenhadas originalmente. Então, o que acontece quando um satélite antigo já não está a ser utilizado, mas ainda pode transmitir? Bom, torna-se num equipamento para os hackers “fazerem asneiras”!
A caminho do cemitério, um satélite pode ser uma ferramenta hacker
Koscher e os seus colegas receberam no ano passado autorização para aceder e emitir a partir de um satélite canadiano conhecido como Anik F1R, lançado para apoiar as emissoras canadianas em 2005 e concebido para 15 anos de utilização. A cobertura do satélite estende-se abaixo da fronteira sul dos EUA e até ao Havai e à parte mais oriental da Rússia.
O satélite mudará em breve para a sua órbita de cemitério, e quase todos os outros serviços que o utilizam já migraram para um novo satélite. No entanto, enquanto os investigadores ainda podiam falar com o satélite recorrendo a um acesso especial a uma licença de ligação ascendente e ao aluguer de slots de transponder, Koscher teve a oportunidade de assumir o controlo e transmitir para o hemisfério norte.
O meu desejo era realmente vê-lo a funcionar! É um pouco irreal passar de fazer streaming de vídeo e tê-lo a transmitir para toda a América do Norte.
Disse Koscher à publicação WIRED.
Koscher e os seus colegas do grupo de telecomunicações Shadytel e de hacking de dispositivos incorporados transmitiram uma emissão de outra conferência de segurança, ToorCon San Diego, em outubro.
Na ShmooCon da semana passada, o investigador explicou as ferramentas utilizadas para transformar uma instalação comercial não identificada de ligação ascendente (uma estação com uma antena parabólica especial para comunicar com satélites) num centro de comando para emissão a partir do satélite.
Neste caso, os investigadores tiveram permissão para aceder tanto à instalação de ligação ascendente como ao satélite, mas a experiência destaca a interessante área cinzenta quando um satélite defunto não está a ser utilizado, mas ainda não se afastou mais da Terra para a sua órbita de repouso final.
Tecnicamente, não há controlos neste satélite ou na maioria dos satélites – se conseguir gerar um sinal suficientemente forte para lá chegar, o satélite irá enviá-lo de volta à Terra. As pessoas precisariam de um grande prato e de um potente amplificador e de conhecimento do que faziam. E se um satélite fosse totalmente utilizado, os “invasores” teriam de dominar quem quer que fosse que estivesse a utilizar aquele ponto ou frequência de transponder em particular.
Explicou Karl Koscher
Por outras palavras, quem gritar mais alto para um microfone (em órbita geossíncrona) terá a sua voz mais amplificada, mas é difícil dominar os gigantes da radiodifusão estabelecidos – embora não sem precedentes. Em 1986, por exemplo, um hacker que se intitulava Captain Midnight (ou Capitão Meia-Noite) invadiu uma emissão da HBO de The Falcon and the Snowman ao sequestrar o sinal do satélite Galaxy 1.
Mais recentemente, os hackers tiraram partido de satélites subutilizados para os seus próprios fins. Em 2009, a Polícia Federal Brasileira prendeu 39 suspeitos por suspeita de sequestro de satélites da Marinha dos EUA utilizando antenas de alta potência e outros equipamentos ad hoc para as suas próprias comunicações rádio de curta distância CB (banda dos cidadãos).
Para além dos hackers independentes, Koscher salienta que a falta de autenticação e controlo dos satélites poderia permitir aos países sequestrar os equipamentos uns dos outros.
Uma implicação é que os estados que querem transmitir propaganda poderiam fazê-lo sem lançar o seu próprio satélite, poderiam usar outro satélite se tivessem o equipamento de terra.
Disse o investigador.
Ang Cui, um investigador de segurança de dispositivos, que lançou o projeto da estação terrestre de código aberto NyanSat em 2020, observa que os satélites desativados não são os únicos que poderiam ser sequestrados.
Poder-se-ia tomar conta até de satélites novos. Contudo, se pensarmos nos que se encontram na fase de fim de vida, há definitivamente coisas que estão apenas por aí.
Concluiu Cui.
Basicamente quer dizer que do tanto “lixo” que orbita a Terra, seguramente haverá muitos satélites que não estão devidamente desativados e podem ser um problema de segurança. Estão à mercê dos “piratas de equipamentos orbitais defuntos”. Tecnologia “meia-morta” que poderá tornar-se útil… para um lado negro.