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Sabia que a redução dos voos comerciais tem um forte impacto na previsão meteorológica?

O tempo anda estranho, mas as previsões não andam melhores. Na verdade, embora os satélites meteorológicos sejam hoje muito precisos, ainda não conseguem dar uma previsão global, regional com a exatidão como estamos habituados. Então o que mudou?

A pandemia da COVID-19 reduziu em mais de 90% a operação comercial das companhias aéreas. Como tal, sem os aviões no ar, os meteorologistas deixam de receber importantes dados em tempo real. Vamos perceber como funciona esta dinâmica.


Aviões são importantes para uma melhor previsão meteorológica

Seguramente não temos essa noção, mas a verdade é que a meteorologia foi a primeira ciência afetada diretamente pela crise sem precedentes gerada pela COVID-19. Assim, para percebermos esta evidência temos de entender que a drástica diminuição dos voos regulares em todo o mundo impôs uma nova realidade a um setor que está com muitos problemas.

Como tal, mais que todos os outros assuntos económicos e financeiros, a quase suspensão completa das operações já causou impactos no próprio conhecimento humano.

 

Milhares de observações são feitas diariamente

Existem ao redor do planeta vários centros de previsões meteorológicas que utilizam os dados transmitidos por aviões comerciais. Estes dados são usados para uma montagem de sofisticadas e complexas análises climatéricas. Equipados com radares meteorológicos e sistemas de transmissão de dados em tempo real, os aviões comerciais transmitem para os cientistas mais de 230.000 observações diárias sobre o clima.

O Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Alcance (ECMWF) utiliza diariamente os dados e observações registadas pelas aeronaves para produzir previsões meteorológicas numéricas globais e outros dados ao redor do planeta.

Uma das principais fontes de observações baseadas em aeronaves (ABO) na previsão do tempo é o programa AMDAR (Aircraft Meteorological Data Relay), que recebe milhares de pacotes de dados sobre a temperatura do ar, pressão, altura do topo e base das nuvens, humidade relativa do ar, entre outros.

Assim, muitos dos relatórios de aeronaves são fornecidos por aviões das companhias aéreas norte-americanas, com uma cobertura particularmente densa sobre os Estados Unidos. Posteriormente, estes dados são somados aos dados europeus e o resultado traduz-se em contribuições significativas para a investigação meteorológica.

 

Sem aviões no ar, os dados são escassos

Com a condição a que durante meses a aviação foi confinada, o relatório europeu baseado no AMDAR foi particularmente atingido. Segundo as informações, após a semana do dia 16 de março, este e outros programas apresentaram reduções substanciais.

As informações mais recentes disponíveis pelas companhias aéreas sugerem que a cobertura europeia do AMDAR será reduzida em mais de 65% no próximo mês e isso deve continuar no verão.

Alertou há umas semanas Steve Stringer, gestor de programas europeu baseado no ABO.

Conforme foi percetível, nestas semanas após os aviões deixarem de voar, os Estados Unidos apresentaram uma diminuição importante na formação dos dados e na cobertura geográfica, que implicou a perda de capacidade nos centros de investigação.

Prevemos que a redução substancial na disponibilidade de dados AMDAR continue nas próximas semanas, provavelmente gerará algum impacto na produção dos nossos sistemas numéricos de previsão meteorológica.

Afirmou há umas semanas Christopher Hill, do NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), dos Estados Unidos.

 

Todo o planeta está a ser afetado até que tudo volte a uma normalidade

Nas semanas seguintes, após os EUA terem parado grande parte dos seus aviões, foi a Austrália a alimentar a informação com o seu programa AMDAR. No entanto, algum tempo depois houve igualmente uma grande interrupção do sistema com a suspensão dos voos Qantas Airways, a principal empresa aérea da Austrália.

Coincidentemente, em 2019 foi realizado um teste para estimar o estado do sistema meteorológico ao redor Terra com uma série de previsões realizadas sem o uso do AMDAR, que foram comparadas em tempo real com outra análise utilizando todos os dados enviados por aviões.

Conforme percebemos, os maiores impactos nas previsões ficaram centrados em torno de 250 a 200 hPa (cerca de 11 a 12 km de altura), justamente a altitude usual dos voos de cruzeiro das aeronaves comerciais. Os maiores impactos foram no intervalo de até 24 horas à frente, mas também houve uma redução significativa nas previsões com até 7 dias de antecedência. A faixa da perda de dados interfere numa série de previsões, visto que é onde ocorrem grandes deslocações de massa de ar.

Geograficamente os maiores impactos ocorreram no hemisfério norte, tanto para previsão de vento quanto temperatura. O motivo é ser justamente a região com maior número de voos comerciais, especialmente nos Estados Unidos, Europa e Atlântico Norte. Comparadas às observações com dados enviados por aviões, as previsões de temperatura de 12 horas no hemisfério norte se tornaram 9% piores.

Portanto, ter os aviões estacionados nos aeroportos também limita a condição humana. Surpreendentemente são grandes as discrepâncias entre o que as aplicações meteorológicas dizem e o que na realidade acontece. Está explicada a razão!

 

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