Não é por acaso que as organizações dedicadas a alertar e combater a poluição estão cada vez mais em voga. Não é por moda, é mesmo por urgência. Há cada vez mais lixo nos oceanos e o plástico é um cancro que tem de ser combatido. Assim, poderá ter surgido uma fonte inesperada de apoio para a resolver esse terrível problema ambiental: micróbios marinhos que comem plástico, limpando o lixo omnipresente.
Sabia que atualmente há mais de 150 milhões de toneladas de plástico nos oceanos? Sabia que há uma estimativa que refere que por ano entram nos oceanos cerca de 4,8 a 12,7 milhões de toneladas de plástico?
Micróbios que se alimentam de plástico
Numa recente investigação, uma equipa internacional de cientistas estudou a forma como certas comunidades microbianas se acumulam nos plásticos poluidores do oceano. Dessa forma, foi percebido que a acumulação resulta para a degradação desse plástico. Assim, estamos perante um mecanismo biológico natural que poderíamos explorar. Mas para tal, é preciso que este seja mais bem compreendido.
Uma vez que o plástico entra no oceano, torna-se intemporal. Quer isto dizer que não se pode calcular o tempo de vida. Assim, existem vários fatores não biológicos, incluindo radiação UV, temperaturas flutuantes e forças de abrasão na água do oceano, que podem determinar esse tempo.
Estes processos ambientais iniciam a devolução do material em fragmentos de microplásticos e nanoplásticos cada vez menores. No entanto, estes agentes não agem sozinhos.
A degradação abiótica precede e estimula a biodegradação desde que os grupos carbonilo são gerados na superfície [do plástico].
Portanto, uma ampla gama de organismos pode estabelece-se na superfície desgastada, usando-a como substrato e como fonte de carbono.
Referiram os investigadores liderados pelo engenheiro ambiental Evdokia Syranidou da Universidade Técnica de Creta na Grécia.
Praias são “santuários” de amostras de plásticos deteriorados pelos oceanos
Para estudar o quão eficiente é esta mastigação microbiana, em termos de partir ainda mais os plásticos, os investigadores recolheram amostras de detritos de polietileno (PE) e poliestireno (PS) naturalmente desgastados em duas praias da Grécia.
Segundo os investigadores, estes resíduos recolhidos foram lavados e depois cortados em pequenos pedaços. Posteriormente, os fragmentos de plástico foram mergulhados numa solução salina que agia tal como se fosse água do oceano.
Estes fragmentos foram então expostos a dois tipos diferentes de comunidades microbianas: organismos que ocorrem naturalmente no oceano (compreendendo várias espécies diferentes), e estirpes bio-aumentadas ajustadas para formar biofilmes mais fortes em superfícies plásticas.
O tempo mostrou que o plástico era “comido” pelos micróbios
Após cinco meses de exposição microbiana, as peças de plástico foram pesadas, revelando que os organismos nativos haviam conseguido reduzir o peso do poliestireno em cerca de 11% e resistido ao polietileno até 7%.
A estirpe de bioengenharia não comeu tanto plástico, embora a equipa tenha observado que “parece mais eficiente em aderir às peças desgastadas e desenvolver uma comunidade de biofilme” de maior abundância.
Os resultados com mais sucesso, de longe, foram de uma experiência que usou “micróbios aclimatados” – organismos já expostos aos plásticos numa simulação anterior.
Por outras palavras, parece que estes micróbios podem desenvolver um gosto pelos plásticos e melhorar ao comê-los com o tempo.
Além de mastigar o plástico, a exposição microbiana também resultou em mudanças químicas na superfície dos materiais, produzindo grupos carbonílicos e ligações duplas. Revelando processos como a cisão de cadeias que afetavam o plástico no nível molecular.
Será que esta descoberta será a solução dos problemas?
Seguramente não é a primeira vez que os cientistas examinam o poder dos micróbios para lidar com problemas do plástico. Ademais, durante anos, os cientistas investigaram formas dos organismos poderem comer resíduos de plástico.
Cada avanço que é feito, não importa o quão pequeno seja, pode ajudar um dia nos esforços de limpeza. Na verdade, o problema está a montante, nos hábitos dos consumidores. A fonte do problema somos nós.
Os resultados são relatados no Journal of Hazardous Materials.