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Há uma missão pensada para intercetar uma possível nave espacial extraterrestre

Não, não estamos a falar em ficção cientifica e também poderá não ser propriamente um devaneio. Na realidade, há quem continuem no meio científico a teimar que o objeto interestelar ‘Oumuamua não é um asteroide, uma rocha de outro sistema solar ou um pedaço de um planeta destruído. Há astrofísicos que continuam a insistir que é uma nave espacial extraterrestre. E querem provar que têm razão. A missão já começou!


O Projeto Lyra está à procura do ‘Oumuamua, um objeto interestelar que não parece ser de origem natural e que poderá ser a primeira relíquia tecnológica observada pertencente a outra civilização.

 

‘Oumuamua, um asteroide ou uma nave espacial extraterrestre?

Corria o ano de 2017 e os astrónomos descobriam o primeiro objeto que fora do Sistema Solar. Deram-lhe o nome de Oumuamua (do havaiano: “mensageiro de longe que chegou primeiro”). A “imagem” conseguida pelos telescópios foi ilustrada como um formato bizarro, plano, esguio, como se fosse um “charuto”.

A sua passagem por perto levantou muitas dúvidas e teorias, algumas fortalecidas pelo evento do seu afastamento, rápido e sem explicação do Sol, porque não apresentou a “normal” evaporação cometária. As suas anomalias em relação aos asteroides ou cometas do sistema solar permanecem por resolver devido aos limitados dados recolhidos sobre ele quando passou perto da Terra em outubro e novembro de 2017.

A incerteza deve levar-nos a todos a manter o espírito aberto à possibilidade de, de tempos a tempos, podermos observar um objeto fabricado por uma civilização tecnológica extraterrestre.

Por esta razão, uma equipa de astrónomos quer encontrar o `Oumuamua e estudá-lo de perto no próximo século. Um novo artigo delineia os parâmetros orbitais necessários para uma missão relacionada com o “Projeto Lyra” que poderá alcançar o `Oumuamua no ano 2086 ou 2175.

Segundo as informações partilhadas pelos astrónomos, quando o `Oumuamua foi encontrado como um inesperado Objeto Próximo da Terra, não levou de imediato a comunidade a agitar-se com toda a curiosidade que este objeto merecia. Só depois dele ter saído de perto é que se percebeu que afinal havia muito interesse e necessidade de o estudar mais, de depositar sobre ele mais atenção.

 

Não será preferível tentar estudar candidatos semelhantes?

Os desafios para intentar uma aproximação ao objeto que pode ser alienígena é um desafio questionável. Então a ideia poderia passar por procurar candidatos que possam ter características semelhantes. Esta última abordagem é sugerida pela “aplicação de encontros” do LSST no Observatório Rubin no Chile, que em breve começará a sondar o céu meridional com a sua câmara de 3,2 mil milhões de pixeis a cada quatro dias.

Para auxiliar a esta tarefa, alunos e pós-doutorados do Projeto Galileo, estão a conceber um software que permitirá encontrar objetos interestelares anómalos como `Oumuamua no fluxo de dados do LSST.

Membros da equipa da câmara do LSST preparam-se para a instalação da lente L3 no plano focal da câmara. | créditos: Jacqueline Ramseyer Orrell/SLAC National Accelerator Laboratory

 

Teimar em perseguir `Oumuamua é de loucos

Possivelmente existem outras linhas de pensamento mais sóbrias, para ir ao encontro de objetos semelhantes. Por outro lado, o desafio de perseguir `Oumuamua no Sistema Solar é assustador e desafiante. Este objeto interestelar está atualmente a uma distância de 5,4 mil milhões de quilómetros da Terra, 36 vezes a separação Terra-Sol. Consequentemente, é 60 milhões de vezes mais fraco do que na altura da sua maior aproximação à Terra.

A sua magnitude de 37,8 está ordens de grandeza abaixo da sensibilidade até das imagens mais profundas do Telescópio Espacial Webb.

Conforme refere o ElConfidencial, estima-se que Oumuamua tenha um tamanho da ordem dos cem metros. Ora isso implicaria colocar um enorme telescópio a bordo de uma nave espacial para encetar uma perseguição. Esta tecnologia teria de ser capaz de distinguir objetos com 10 píxeis no limite de difração e apenas se a nave espacial se aproximasse a uma distância de aproximação ao `Oumuamua da ordem do diâmetro da Terra.

Portanto, ter este tipo de tecnologia no espaço é muito dispendioso e seguramente seria um desafio com muitos momentos de frustração. Aliás, não seria só pelo tamanho do telescópio e pela exigência da perseguição. Há outros desafios técnicos. Por exemplo, para haver esta oportunidade de aproximação, a nave espacial terá de ultrapassar a velocidade do `Oumuamua. Teria então de viajar a 26,5 quilómetros por segundo. A esta velocidade, o encontro seria seguramente curto.

O tempo de encontro será na ordem da duração de uma travessia do dobro do diâmetro da Terra a uma velocidade de dezenas de quilómetros por segundo, cerca de dez minutos.

Conceito artístico do objeto interestelar1I/2017 U1 (‘Oumuamua) quando passou pelo sistema solar após a sua descoberta em outubro de 2017. O rácio de aspeto de até 10:1 é diferente do de qualquer objeto visto no nosso próprio sistema solar. Crédito da imagem: Observatório Europeu do Sul / M. Kornmesser

 

Faz sentido o Projeto Lyra?

Colocando tudo num prato da balança, vemos que o projeto vai gastar um século para chegar a `Oumuamua e depois passar apenas dez minutos na sua vizinhança. Sim, esta aventura é muito questionável. Será que vale a pena o esforço? Dado que a maioria de nós não estará viva para testemunhar os encontros em 2086 ou 2175, possivelmente não valerá o esforço.

Uma abordagem muito melhor para aprender sobre objetos interestelares é tratar a descoberta de 2017 como uma chamada de atenção e encontrar outros objetos interestelares semelhantes a `Oumuamua nos próximos anos.

A paralaxe resultante do rastreio de qualquer um deles com o Telescópio Espacial James Webb e um telescópio na Terra revelaria qualquer aceleração não gravitacional com uma precisão requintada. Além disso, a deteção da emissão infravermelha dos objetos permitiria inferências sobre a sua superfície, uma vez que a temperatura da superfície é ditada pela distância medida em relação ao Sol.

A deteção espectroscópica simultânea da luz solar refletida e da emissão infravermelha permitir-nos-ia inferir a refletância (albedo) e a composição da superfície dos objetos, que permanecem desconhecidas para o `Oumuamua. Se algum dos futuros objetos do tipo `Oumuamua for detetado muito antes da sua maior aproximação à Terra, poderá ser previsto o lançamento de uma nave espacial que os encontre ao longo da sua trajetória.

Os parâmetros de uma tal missão são descritos num documento recente da equipa do Projeto Galileu. O aumento de velocidade necessário para um tal encontro é uma ordem de grandeza superior ao do planeado Comet Interceptor da ESA e exige uma nova conceção da missão.

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