A promessa havia ficado no ar, algo de muito importante para o mundo da astronomia estava para ser desvendado. Tal como fora prometido, foi revelada esta quinta-feira a primeira imagem de Sagittarius A*, o buraco negro supermassivo no centro da Via-Láctea. Com esta descoberta, são já dois buracos negros captados pelos olhos humanos.
Esta imagem foi conseguida pelo Event Horizon Telescope (EHT), que é um conjunto de vários telescópios.
Sagittarius A* é o buraco negro supermassivo da Via Láctea
Provavelmente estarão lembrados da excitação que foi a primeira apresentação no mundo da astronomia da imagem conseguida de um buraco negro. Na altura foi captada a imagem de um buraco negro supermassivo da galáxia M87.
Durante uma conferência à imprensa, o EHT, formado em 2015, reuniu especialistas para apresentar a imagem, explicar o processo que levou à sua captação e falar sobre o que de facto havia sido fotografado, o tal evento que existe no coração da nossa galáxia.
Sagittarius A* (ou Sgr A*) não é fácil de captar, tal como nenhum buraco negro o é. Contudo, apesar da equipa por de trás desta conquista ter sido confrontada com alguns desafios peculiares, a imagem é um feito para a humanidade.
Os astrónomos já suspeitavam da presença de Sgr A*, que está a cerca de 27 mil anos-luz da Terra, pela existência de estrelas em órbita de algo invisível, compacto e muito maciço no centro da Via Láctea, que alberga o Sistema Solar.
A imagem foi obtida após os dados recolhidos das observações feitas em 2017 terem sido processados e analisados durante cinco anos com o auxílio de supercomputadores.
Apesar de os buracos negros Sgr A* e M87* serem muito parecidos, o do centro da Via Láctea é cerca de mil vezes menor e menos maciço do que o da galáxia Messier 87.
Em ambos os buracos negros, o gás circundante move-se à mesma velocidade, quase à velocidade da luz (e nada é mais rápido do que a velocidade da luz). No entanto, o gás leva entre dias e semanas a orbitar o M87* e apenas minutos a completar uma volta em torno de Sgr A, tornando o brilho e o padrão do gás muito variável.
Einstein estava certo
Apesar das diferenças verificadas, os dois buracos negros estão dentro das previsões feitas pelo físico Albert Einstein (1879-1955) na Teoria da Relatividade Geral, publicada em 1915. Os resultados do trabalho que deu origem à imagem de Sgr A são descritos em seis artigos publicados na revista da especialidade The Astrophysical Journal Letters.
Segundo o Observatório Europeu do Sul, organização astronómica da qual Portugal faz parte, a equipa do Event Horizon Telescope começou a “utilizar os novos dados para testar teorias e modelos” de como é que o gás se comporta em torno de buracos negros supermaciços, um processo que os cientistas pensam que “desempenhe um papel crucial na formação e evolução das galáxias”.