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Descoberta revela que molécula de açúcar pode impedir o crescimento de células tumorais

Um dos grandes desafios da atualidade para a Biologia e Medicina são os tumores. A sua regulação e desencadeamento no organismo, passando por soluções para os eliminar, são verdadeiros mistérios para os investigadores. Deste modo, estão a ser realizados diversos trabalhos científicos para descobrir mais sobre estas peculiares e perigosas células.

Num dos mais recentes, publicado na revista Nature, foi descoberto que uma molécula específica de açúcar consegue retardar o crescimento celular das células tumorais e ainda ter um efeito sinérgico em conjunto com a quimioterapia.


O açúcar é comummente, e com razão, associado a doenças como a diabetes. Não obstante, os glícidos têm diversas funções fisiológicas no nosso organismo, sendo particularmente importantes no fornecimento de energia e rigidez estrutural a células e tecidos.

Para além disso, e conforme foi descoberto neste novo trabalho, os açúcares têm muito mais funções no nosso organismo e podem mesmo ajudar a reduzir o crescimento de tecidos tumorais!

Um artigo recentemente publicado na revista Nature seguiu a teoria de que todas as células necessitam de glicose para as suas funções metabólicas. Contudo, como seria a sua reação a outros hidratos de carbono? Foi isso que estes cientistas estudaram e os resultados foram bastante surpreendentes.

Para isso, implementaram células de osteossarcoma num meio nutritivo, variando no tipo de glícido usado no meio. De todos os glícidos usados na experiência, um destacou-se verdadeiramente pela sua capacidade em impedir o crescimento celular das culturas de células tumorais.

Ora, o tal monossacarídeo responsável pela inibição era a manose. Podendo ser fruto do mero acaso, foram realizadas vários ensaios para garantir a veracidade deste poder inibitório e perceber os processos biológicos inerentes a este fenómeno.

 

Como é que a manose tem este poder?

Os cientistas compararam, mais uma vez, o crescimento de células tumorais em meios preenchidos com diversos sacarídeos, nomeadamente glicose, frutose, galactose e manose. O objetivo era determinar o mecanismo que concede estas propriedades à manose face a outros compostos glicolíticos.

Inicialmente foi equacionado que a manose estaria a interferir com o transporte de glicose, um nutriente essencial à sobrevivência das células. Esta suspeita foi levantada pelo facto de estes glícidos usarem o mesmo transportador para penetrarem a camada exterior das células.

Testes posteriores demonstraram que o principal efeito da manose não se relacionava com a entrada de glicose nas células, mas sim com as enzimas envolvidas nas vias metabólicas da glicose.

Um dos fenómenos metabólicos afetados é o Ciclo de Krebs, usado pelas células para gerar energia através da respiração aeróbica.

Todavia, este efeito não se restringe ao Ciclo de Krebs, sendo a própria via das pentoses-fosfato – igualmente com o propósito de fornecer energia à célula – e a síntese de glicanos afetadas pela presença de manose no meio.

Experiências efetuadas em organismos vivos

Estando provada a eficácia da manose em inibir o crescimento de células tumorais em meios controlados in vitro, era importante testar essa realidade em organismos vivos.

Deste modo, foram usados ratos com tumores, tendo sido alimentados com quantidades consideráveis de manose para testar os efeitos biológicos registados anteriormente.

Os resultados foram positivos, tendo sido registado um menor crescimento de células tumorais no organismo dos ratos e ainda um efeito sinérgico em quimioterapia com cisplatina e doxorrubicina!

Não obstante, há células tumorais mais sensíveis à manose do que outras. Os investigadores descobriram que a sensibilidade à manose era inversamente proporcional aos níveis de uma enzima que metaboliza a manose nas células. Eliminar a enzima em culturas celulares tumorais tornou qualquer célula sensível aos efeitos da manose.

Os investigadores analisaram um conjunto de cancros humanos – ovário, renal, mama, próstata, colorretal – tendo constatado que a enzima variava entre eles, mas não tinha significado pragmático nos efeitos.

Isto deve-se muito provavelmente à baixa presença de manose no organismo, especialmente em relação à glicose. Contudo, os tumores colorretais tendem a ter níveis especialmente baixos da enzima, deste modo, poderão ser bons candidatos para os tratamentos iniciais com manose.

 

Atualização dia 26/11/2018 com a inclusão da palavra molécula no título do artigo

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