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Cientistas russos querem lançar satélites para iluminar os céus com publicidade

Não, a ideia não é nova e, se passar à realidade, o planeta estará seguramente em maus lençóis. Isto porque investigadores russos sugerem que poderíamos enviar constelações de satélites para o espaço para exibir anúncios comerciais no céu noturno sobre as cidades.

O projeto, que dizem poder ser viável financeiramente, seria usar os Cubesat em órbita para refletir a luz solar em diversas formações.


Será uma estrela cadente? Não, é publicidade aos medicamentos contra a azia

Esta não foi a primeira vez que se falou de tal aberração. Aliás, conforme devem estar lembrados, esta proposta já foi lançada para cima da mesa em 2019 pela mão da empresa russa StartRockets e tinha já como interessada a Pepsi. No entanto, e o coro de críticas foi tal, que ficou… na prateleira, mas não foi descartada!

É uma visão profundamente detestável do futuro, destinada a irritar os astrónomos – que já lutam com constelações de satélites altamente reflexivos que arruínam as suas observações – assim como qualquer pessoa que aprecie uma visão desobstruída do céu noturno.

Num novo artigo publicado na revista Aerospace, investigadores do Instituto Técnico Skoltech de Moscovo e do Instituto de Física e Tecnologia de Moscovo concluíram que o envio de uma formação de satélites em órbita para exibir publicidade acima dos centros populacionais poderia não só ser viável, como custar apenas 65 milhões de dólares por missão.

Há já algum tempo que estudamos alguns dos aspetos mais técnicos da publicidade espacial. Desta vez olhámos para o lado económico das coisas e, por mais irrealista que pareça, mostramos que a publicidade espacial baseada em 50 ou mais pequenos satélites a voar em formação poderia ser economicamente viável.

Explicou numa declaração o primeiro autor Shamil Biktimirov, um estagiário de investigação no Centro de Engenharia da Skoltech.

Cada “pixel” ou satélite individual do painel espacial teria de ser bastante maciço para refletir luz suficiente e tornar toda a coisa financeiramente viável. Nesse sentido, o investigador sugeriu que cada satélite cubesat pode ser tão grande como uma vela solar de 100 metros quadrados, referenciando a área do LightSail 2, a maior vela solar a ter sido enviada para o espaço até agora.

Biktimirov e os seus colegas calcularam que as receitas dependeriam de uma série de fatores, incluindo “nebulosidade, tempo frio mantendo as pessoas dentro de casa, e a composição demográfica da cidade”.

Os satélites não estariam a exibir um único anúncio de uma única marca. O projeto levaria a que os satélites mostrassem vários anúncios diferentes na próxima cidade mais rentável ao seu alcance.

Mas a abordagem tem também um grande inconveniente. Uma vez que os satélites funcionam refletindo a luz solar, só seriam realmente visíveis ao nascer e ao pôr do sol, e não à noite. Além disso, estes satélites e o seu brilho também poderiam prejudicar as observações do céu noturno a partir do solo, uma guerra já aberta com várias empresas, entre elas a Starlink.

Contudo, insistem os russos, em circunstâncias ideais, uma campanha de 91 dias poderia gerar 111 milhões de dólares após as despesas.

 

Russos conseguirão que as marcas fiquem ligadas a este ruído nos céus?

Claro, a ideia foi colocada contra alguns argumentos fortes. Até que ponto as marcas estariam mesmo dispostas a dar este salto, recorrendo aos seus slogans e logótipos poluindo o céu?

Obviamente a parte técnica não seria difícil de ultrapassar, mas esta outra vertente, seguramente não poderá ser dada como segura.

Como referimos, em 2019 a StartRocket auscultou várias marcas para dar corpo ao seu projeto. Três meses depois, a empresa russa anunciou que tinha assinado um contrato com a PepsiCo para enviar um “cartaz orbital” para o espaço. Contudo, a fabricante de bebidas revelou pouco depois que tinha abandonado quaisquer planos de prosseguir tal empreendimento. A ideia era de tal forma controversa que poderia ser um risco, até para a própria marca.

A luta seria com os astrónomos e não só. O mundo não deverá querer um céu cheio de lixo com publicidade.

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