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Cientistas querem usar uma ‘serpente gigante’ para limpar os oceanos

O planeta Terra está com vários problemas ambientais gravíssimos, não precisamos já de estudos científicos para perceber que o ar que respiramos não tem a melhor qualidade, que os nossos rios estão cheios de lixo e que os oceanos estão carregados de plástico. Agora como se resolvem estes problemas?

Para remover uma quantidade incalculável de lixo dos oceanos, os cientistas querem usar uma ‘serpente gigante’.


Foi há sete anos que um jovem holandês, Boyan Slat, entrou no mar na Grécia e ficou surpreso ao ver mais plástico do que peixe na água. Ainda não se dava qualquer importância ao facto, mas este cenário incomodou o adolescente que decidiu, por sua conta, começar uma campanha pela limpeza dos oceanos.

Obviamente que era um projeto inglório e não foi levado a sério, era apenas um universitário com uma ideia peregrina e olhando para o que queria fazer, parecia ainda mais estapafúrdia.

 

O mundo parece ter evoluído… mas na poluição dos mares

No passado sábado, dia 8 de setembro, um grupo de grandes investidores uniu-se a um ambicioso trabalho de engenharia que Slat havia projetado. Afinal o projeto de um adolescente de há sete anos parece agora um credível sistema de recolha de plástico que se assemelha a uma serpente.

O dispositivo saiu da baía de São Francisco (EUA) com destino à grande “ilha de lixo” do Pacífico – que fica localizada entre a Califórnia e o Havai.

Temos visto imagens aterradoras de ondas de lixo a vir dar à costa e são essas imagens que hoje já preocupam as pessoas, mas esse problema não é de agora.

O que tem sido feito apenas é atacar este problema em situações pontuais quando o lixo vem dar às praias e ao litoral, como é o caso deste vídeo em cima do Mar das Caraíbas, na República Dominicana, com ondas de lixo e resíduos de plástico.

 

Poucas são as iniciativas de tentar limpar os oceanos por dentro

Alguns especialistas parecem ter uma posição cética quando à iniciativa de Slat. E, apesar dos testes e simulações digitais, ninguém sabe ao certo se a “serpente” vai funcionar.

Alguns críticos referem mesmo que esta iniciativa, de resultados desconhecidos, pode sobretudo desviar as atenções quanto ao problema principal: o despejo de plástico no mar. Por outro lado, há o receio de que a operação possa causar sérios danos à vida marinha.

Boyan Slat e a sua equipa da organização sem fins lucrativos The Ocean Cleanup (A Limpeza do Oceano, em tradução livre) estão convencidos de que a enorme quantidade de plástico nos oceanos exige uma ação imediata.

O objetivo desta organização é alcançar o Pacífico oriental, em especial a ilha do lixo, onde as correntes circulares marinhas têm concentrado uma grande quantidade de plástico numa única área.

Esta ação poderá reduzir à metade a contaminação dessa área a cada cinco anos, de modo que em 2040 todo o lixo tenha desaparecido. Este parece ser para já a meta inicial.

O governo holandês é um dos principais patrocinadores, junto com algumas empresas e investidores endinheirados. O projeto, estimado em pelo menos 20 milhões de dólares, já deixou de ser uma ideia de um jovem para se transformar numa iniciativa internacional.

 

Como funciona?

O principal elemento do “projeto serpente” é o sistema de recolha, que é passivo. Isso significa que não há mecanismos ou máquinas. Em vez disso, foi projetado para se mover e agarrar gentilmente qualquer plástico no seu caminho.

A máquina tem a forma de uma cobra gigante e é composta por secções de tubos. Mede 600 metros de comprimento e flutua em forma de “U”. Por baixo, carrega uma tela de três metros.

O objetivo é que o sistema de recolha plásticos até formar uma massa densa. O peixe deve poder nadar debaixo dele e, como o aparelho tem superfícies lisas, a esperança é que nenhuma espécie sofra danos.

O sistema está equipado com sensores, câmaras, antenas e tudo isto é alimentado por painéis solares. Estas tecnologias comunicam com os satélites, informam da posição e evitam colisões. Depois, os sensores dão informações aos serviços de “recolha de lixo do oceano” para virem esvaziar a carga recolhida.

Todo o material recuperado deve ser transformado em produtos a serem comercializados com o selo de “feitos a partir de plástico marinho”. Terão um preço mais elevado que poderá ser usado para suportar o projeto.

 

Quais são os potenciais problemas?

Há vários problemas que estão a ser levantados, principalmente a interferência com a vida marinha. Embora a estrutura esteja pensada para ter uma ação suave nos mares, esta, como qualquer outra coisa lançada às águas, fica coberta de algas rapidamente, atraindo plânctons que, por sua vez, atraem peixes pequenos e, em seguida, peixes maiores.

É por isso que, por exemplo, frotas de pesca industrial instalam “dispositivos de agregação de peixes” para fazer o papel de engodo. Mas há já uma resposta a essas questões.

Segundo Lonneke Holierhoek, uma engenheira que tem passado as últimas duas décadas dedicando-se a projetos distantes das costas, há um estudo ambiental independente que descobriu que este impacto pode ser minimizado, por exemplo, gerando um ruído pouco antes do plástico ser recolhido, a fim de afugentar o peixe.

Mesmo assim, mesmo com todas estas tecnologias envolvidas, alguns investigadores não estão convencidos, como é o caso de Sue Kinsey, da Sociedade de Conservação Marinha, que não está convencida de que o projeto serpente vai ajudar a resolver o problema da poluição sem causar danos.

O professor Richard Lampitt, do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, também elogia o projeto, mas reconhece que grande parte do plástico que vai parar ao mar afunda relativamente rápido, de modo que o esforço não faria uma grande diferença.

Lampitt também destaca os efeitos ao meio ambiente para a construção e execução do projeto serpente, que prevê a construção de 60 dispositivos de recolha e o transporte dos barcos na sua ida e volta, tudo para recuperar aproximadamente 8 mil toneladas de plástico por ano.

A relação de custo benefício não é nada vantajosa

Referiu o professor Lampitt.

No entanto, um dos investigadores do projeto, Laurent Lebreton, diz que o esforço vale a pena. Ele argumenta que os resíduos humanos têm um impacto negativo no mundo natural.

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