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Câmara da NASA deixa às claras o lado escuro da Lua

O lado oculta da Lua sempre foi referido como um sítio misterioso, principalmente depois do célebre áudio que a NASA partilhou. Sons estranhos, captados pelas missões Apollo 10 e 11 enquanto passava por trás do satélite natural. Afinal, o que existe nesse lado escuro da Lua? Agora foi tudo desvendado graças a uma câmara da NASA instalada numa sonda sul-coreana.


Corria o ano de 1969 quando os astronautas da Apollo 11 registaram um som estranho “Havia um ‘woo-woo’ no meu auscultador”, escreveu O astronauta Michael Collins, que fez o voo enquanto os seus companheiros de missão, Buzz Aldrin e Neil Armstrong, permaneciam em solo lunar.

Durante décadas os testemunhos dos astronautas adensaram as dúvidas sobre o que estaria no lado negro do nosso satélite. Até que as missões de vários países começaram a fotografar e a analisar o solo.

Sonda sul-coreana Danudi fotografa crateras sombreadas

Em junho passado, a China completou com êxito uma missão histórica. Tornou-se a primeira nação a trazer de volta à Terra amostras do lado mais afastado da Lua.

Chamamos-lhe assim porque é a parte do hemisfério do satélite que não vemos da Terra (porque a Lua demora tanto tempo a rodar em torno de si própria como a rodar em torno da Terra). Em todo o caso, esta é a parte mais inóspita do satélite e, como referimos, até há pouco tempo, a sua “escuridão” era o maior segredo da Lua. Isso pertence agora ao passado.

Desde 2009, a sonda espacial Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA tem vindo a fotografar em pormenor quase toda a superfície da Lua, mas havia um problema: a câmara não era suficientemente sensível para ver o que quer que fosse nas crateras permanentemente sombreadas.

Acontece que não estamos a falar de uma escuridão total. Por vezes, a luz do Sol reflecte-se no solo e incide sobre a cratera, e depois reflecte-se para cima, na direção, por exemplo, do orbitador sul-coreano Danuri, quando passa por cima. Para além disso, outras imagens são iluminadas pela luz da Terra, a luz do Sol que reflecte a Terra em direção à Lua. Isto é suficiente para iluminar um pouco as crateras de sombra. Mas era preciso algo mais.

Um novo mosaico da cratera Shackleton Créditos: Mosaico criado pelas equipas LROC (Lunar Reconnaissance Orbiter) e ShadowCam com imagens fornecidas pela NASA/KARI/ASU

A ShadowCam

É então aqui que entra em ação a ShadowCam. Por detrás deste nome está o segredo do sucesso da NASA em revelar o que até agora era uma espécie de negro derretido. No fundo, trata-se de uma espécie de “óculos noturnos”, um instrumento que a NASA forneceu a Danuri quando esta aterrou na Lua. A câmara utiliza tecnologia avançada para detetar detalhes em áreas que não recebem luz solar direta, como as crateras polares.

A sua capacidade para obter imagens de alta resolução na penumbra lunar permite estudar a geologia destas áreas escuras e procurar possíveis depósitos de gelo, contribuindo significativamente para a nossa compreensão do ambiente lunar e para futuros esforços de exploração e colonização. De facto, como podemos ver, as imagens que tem vindo a fornecer são uma visão sem precedentes do nosso satélite vizinho.

Esta é possivelmente a caraterística principal do dispositivo. A ShadowCam é mais de 200 vezes mais sensível à luz em regiões sombreadas do que outras câmaras lunares. Capta imagens da superfície escura com base na “luz da Terra”, que é um reflexo da luz do nosso planeta que ilumina a Lua. A câmara também utiliza o reflexo da luz solar das montanhas e cristas da própria Lua.

Contudo, a saturação tornou-se no seu principal problema, especialmente em regiões muito iluminadas. No ano passado, por exemplo, a NASA tentou utilizar a câmara para captar a cratera Shackleton, que tem apenas três pontos que recebem luz solar durante cerca de 90% do ano. Estas partes iluminadas pelo sol acabaram por ficar branqueadas. A solução? Mosaicos.

Quando as regiões sobre-saturadas e iluminadas pelo sol da ShadowCam são substituídas por fotografias de outras câmaras lunares em órbita, toda a cena pode ser captada com um detalhe espantoso como nunca antes.

Prasun Mahanti, investigador principal adjunto da ShadowCam, disse ao New York Times esta semana que, quando os cientistas viram as primeiras imagens, a sua reação foi de alívio por o instrumento estar a funcionar como previsto.

Depois, o entusiasmo tomou conta de nós.

Explicou o investigador.

De facto, foi anunciado em março que, em certos locais e a certas horas, as sombras nem sequer são assim tão escuras.

Numa conferência, os investigadores que trabalharam na câmara referiram que a luz indireta era comparável a “níveis confortáveis de iluminação interior”. Por outras palavras, os astronautas que visitam estas regiões poderão não precisar de levar lanternas para verem para onde vão, embora os reflexos e as sombras longas possam continuar a ser um problema.

O mistério da água

Claro que, por detrás de todo este esforço, está a grande questão a que a ShadowCam e os outros instrumentos estão a tentar responder: onde está a água na Lua? O elemento chave para os futuros astronautas que passarão longos dias no satélite. Embora as imagens da câmara mostrem manchas brancas, até agora nenhuma parece ser gelo.

A maior parte dos pontos brilhantes parecem ser rochas, leitos rochosos expostos ou crateras recentes. Entre outras possibilidades, sugere-se que a água esteja coberta de poeira ou presa nos minerais das rochas. Seja como for, com a ShadowCam parece que o derradeiro mistério está perto de ser revelado,

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