Os asteroides são de todas as formas e tamanhos e têm traços únicos que os identificam e classificam. Assim, os astrónomos do MIT interessaram-se por um asteroide que tem tantas crateras que recebeu o nome de “asteroide bola de golfe”.
O curioso corpo celeste é o terceiro maior objeto da cintura de asteroides, com cerca de 400 quilómetros de diâmetro.
Pallas, o asteroide que parece uma bola de golfe
O asteroide chama-se Pallas, em homenagem à deusa grega da sabedoria, e foi originalmente descoberto em 1802. Pallas é o terceiro maior objeto na cintura de asteroides e tem cerca de um sétimo do tamanho da Lua. Durante séculos, os astrónomos notaram que esta rocha orbita ao longo de uma rota significativamente inclinada em comparação com a maioria dos objetos na cintura de asteroides, embora o motivo da sua inclinação permaneça um mistério.
Assim, num artigo publicado agora na Nature Astronomy, os investigadores revelam pela primeira vez imagens detalhadas de Pallas, incluindo a sua superfície com muitas crateras.
Os investigadores suspeitam que a superfície amassada de Pallas resultou da órbita inclinada da “bola de golfe”. Contudo, a maioria dos objetos na cintura de asteroides viaja mais ou menos ao longo da mesma rota elíptica ao redor do sol. Basicamente é como se fossem carros numa pista de corrida.
A órbita inclinada de Pallas é tal que a rocha tem de abrir caminho através da cintura de asteroides em inclinação. Quaisquer colisões que Pallas experimente ao longo do caminho seriam cerca de quatro vezes mais prejudiciais do que colisões entre dois asteroides na mesma órbita.
A órbita de Pallas acarreta impactos em alta velocidade. Com estas imagens, agora podemos afirmar que Pallas é o objeto com mais crateras que conhecemos na cintura de asteroides. É como descobrir um mundo novo.
Explicou Michael Marsset, autor principal do estudo.
A tilted orbit may explain the asteroid Pallas’ highly cratered surface, @MIT researchers report. “From these images, we can now say that Pallas is the most cratered object that we know of in the asteroid belt. It’s like discovering a new world.”https://t.co/oCR5RCZ5Iw pic.twitter.com/61tQ7AsK38
— MIT EAPS (@eapsMIT) February 10, 2020
Rocha com aparência única na cintura de asteroides
A equipa obteve imagens de Pallas recorrendo ao instrumento SPHERE no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul. Este é um conjunto de quatro telescópios, cada um com 8 espelhos de um metro de largura, situado nas montanhas do Chile.
Em 2017, e novamente em 2019, a equipa reservou um dos quatro telescópios vários dias de cada vez para ver se podiam captar imagens de Pallas num ponto na sua órbita mais próximo da Terra.
A equipa obteve 11 séries de imagens em duas corridas de observação, capturando Pallas de ângulos diferentes enquanto girava. Após compilar as imagens, os pesquisadores geraram uma reconstrução 3D da forma do asteroide, com um mapa de crateras dos seus polos, juntamente com partes da sua região equatorial.
“Impressão digital” de Pallas
Segundo as observações conseguidas pelos astrónomos, foram identificaram 36 crateras com mais de 30 quilómetros de diâmetro – cerca de um quinto do diâmetro da cratera Chicxulub da Terra, cujo impacto original provavelmente matou os dinossauros há 65 milhões de anos.
Conforme pode ser lido no artigo, as crateras de Pallas parecem cobrir pelo menos 10% da superfície do asteroide, o que é “sugestivo de uma violenta história colisional”.
Além destas evidências, os investigadores fizeram duas descobertas adicionais a partir das suas imagens. Em primeiro lugar descobriram um ponto curiosamente brilhante no hemisfério sul do asteroide. Em segundo lugar descobriram uma bacia de impacto extremamente grande ao longo do equador do astro. Aliás, a zona de impacto é de tal forma grande, 40 quilómetros de largura, que despertou a curiosidade em perceber a causa.
A partir das simulações, a equipa conclui que a grande bacia de impacto foi provavelmente o resultado de uma colisão há cerca de 1,7 mil milhões de anos. Terá sido o impacto de um objeto com 20 a 40 quilómetros de largura, que posteriormente expulsou fragmentos da rocha para o espaço, num padrão que, por acaso, combina com uma família de fragmentos que foram observados atrás de Pallas hoje.