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Análise Prática ao serviço Starlink: Estará à altura do hype?

Recentemente, o serviço Starlink foi lançado pela SpaceX em Portugal. Consequentemente, recebi um kit para a Altar assim que as pré-encomendas abriram. Há algumas semanas, chegou a tão aguardada e elegante antena parabólica. Sem demora, juntamente com alguns developers da minha equipa, retirámo-la da caixa e fomos instalá-la no jardim no exterior do escritório.

Desde esse dia, tivemos a oportunidade de usar o Starlink de forma intensiva, e de fazer alguns testes ao seu potencial. Vamos examinar isso mais à frente neste artigo, mas começamos pelas primeiras impressões.


Starlink Unboxing & Primeiras Impressões

Dos primeiros kits a chegar a Portugal, o Pplware abriu-o e mostrou as primeiras impressões. Esta análise posterior teve a colaboração da equipa da Altar.io.

Dentro da caixa:

A montagem do equipamento é extremamente simples. Clique na antena no suporte do tripé, ligue os cabos PoE do router e a antena no adaptador de energia, ligue-a na tomada, faça download da aplicação para iOS ou para Android e está pronto para começar.

O hardware é bem projetado, particularmente, o router Wi-Fi de metal, que parece ter sido recém-extraído de um Cybertruck.

O prato em si é de plástico e é montado numa haste de metal. O cabo PoE está permanentemente ligado à antena. Aliás, é importante destacar esta última parte – uma vez que não existe uma maneira de desligar facilmente o cabo PoE da antena, poderá ter que substituir a antena inteira se o cabo for danificado.

Para o utilizar fora da sua casa, deve fazer um buraco na parede ou deixar uma janela permanentemente aberta, pois o cabo é bastante espesso (7 mm) e inclui um cordão de ferrite com maior espessura (19 mm).

A aplicação também é extremamente bem desenhada, com a interface consistente tal como seria de esperar de uma empresa como a SpaceX. A configuração continua aqui sem requisitos de login – mantendo a essência da experiência “plug and play”.

 

Configuração Starlink & Testes de Internet

Para resumir a história, o serviço Starlink oferece uma conexão de banda larga que é moderadamente rápida (embora um pouco inconsistente) – nas circunstâncias certas. Inicialmente, o prato Starlink foi montado no jardim. Apesar de não existirem obstruções diretamente acima do prato, o jardim está localizado no centro do prédio e é cercado por todos os lados.

Isso foi suficiente para obstruir o sinal e não deixar ligar à internet através do Starlink (após 30 minutos a ajustar o posicionamento do prato). É importante notar que a proposta da Starlink não é direcionada para o uso no centro da cidade. Bem pelo contrário, o seu principal objetivo é conseguir levar a internet de alta velocidade às áreas rurais.

Desta forma, empacotamos novamente o Starlink, e fomos para outras paragens mais ” a céu aberto”.

Inicialmente, montamos o Starlink no jardim, a 5 metros de casa. Apesar de ser um espaço muito mais aberto do que o escritório, ainda estava obstruído pela altura da casa (~7 metros).

Portanto, depois de termos efetuado todos os testes pretendidos, movemos o Starlink para um campo aberto sem obstruções, e fizemos de novo os testes. Apesar da colocação do prato (jardim/obstruído e campo/desobstruído), mantivemos todos os outros aspetos dos parâmetros de teste iguais.

Estes foram os resultados:

Um teste de velocidade estima a capacidade disponível da rede entre o cliente e o servidor. A taxa de transferência dos testes depende da distância entre os 2 pontos (tempo de ida e volta). Desta forma, o servidor de medição de taxa de transferência mais próximo irá fornecer resultados mais precisos – no nosso caso, o servidor foi escolhido automaticamente pela aplicação Ookla.

De acordo com a recomendação da Association for Computing Machinery (ACM), executamos os testes em horários selecionados de forma aleatória ao longo do dia (incluindo horários de pico e fora de pico).

 

Teste #1: Taxa de transferência (Downstream, Upstream)

Através da aplicação Nativa Ookla, fizemos 31 medições em intervalos aleatórios ao longo de dois dias em relação ao servidor próximo mais rápido (selecionado automaticamente pela aplicação Ookla).

Abaixo, podemos ver os resultados da taxa de transferência para as condições obstruídas e desobstruídas:

Depois de concluir os testes de taxa de transferência, passamos para o teste de Latência & Timeouts.

 

Teste #2: Latência & Timeouts

Para este teste, fizemos uma medição contínua durante 260 minutos. O objetivo aqui era medir o número de timeouts que ocorrem nos cenários obstruídos e não obstruídos. No cenário obstruído (no jardim, a 5 metros da casa de ~ 7 metros de altura), observamos 576 timeouts no teste de 260 minutos.

Ou seja, existia a possibilidade de haver uma interrupção a cada minuto:

Em contraste, no cenário desobstruído (campo aberto), observamos 47 timeouts no teste de 260 minutos.

Desta vez, a possibilidade de interrupção foi reduzida para uma vez a cada 5 minutos:

Principais conclusões:

Não existem duas interpretações, para uma conexão ideal, o lugar de posicionamento do prato é fundamental. Assim, num cenário desobstruído, não tivemos problemas em trabalhar ao utilizar o Starlink. Conseguimos manter uma ligação à base de dados na maior parte do tempo, enquanto utilizávamos o Spotify, fazíamos download de ficheiros e navegava na internet.

No entanto, com o cenário obstruído, era praticamente inutilizável para o trabalho. Havia muitas interrupções. A ligação foi interrompida com bastante frequência, a ligação à base de dados estava instável e muitas vezes tínhamos que atualizar as páginas da web e esperar para que funcionassem.

Apesar disso, para uma utilização normal do smartphone, não houve diferenças percetíveis entre os cenários obstruído e desobstruído. À “utilização normal do smartphone”, referimo-nos a streaming de música/vídeo e utilização das redes sociais/aplicações de chat).

Relativamente ao consumo de energia, o Starlink consome cerca de 100W – embora isso possa variar se os motores da parabólica estiverem ativos.

Não observamos nenhum superaquecimento ou problemas térmicos com nenhuma das peças do kit, e o prato parece ficar a uma temperatura confortável de 23ºC – 25ºC durante o uso.

 

Será o Starlink um verdadeiro concorrente da banda larga a cabo em espaço rural?

Nas zonas rurais com uma boa infraestrutura de internet (fibra ótica básica, por exemplo), o Starlink não pode competir neste momento. No entanto, é nas áreas onde as conexões mínimas de banda larga por cabo são instáveis, que o Starlink começa a brilhar.

O outro bónus do Starlink é o facto de que não tem contrato. Portanto, caso vá para uma zona rural de forma temporária (onde um contrato de 24 meses não vale a pena), poderá ser útil instalar um kit Starlink.

Afinal de contas, o kit é seu depois de o adquirir, e, embora não possa revendê-lo, mesmo que não o utilize, poderá ser uma bela (embora bastante cara) mesa de centro.

 

Conclusão:

O Starlink é um projeto notável de engenharia e a capacidade da SpaceX de o transformar num produto de consumo, é realmente impressionante. Dito isso, é importante referir que o Starlink não vai derrubar as empresas de cabo tradicionais num futuro próximo.

Em primeiro lugar, tem um preço elevado, pois além do equipamento ter o custo de 500€, acresce a taxa de serviço mensal de 99€ aqui em Portugal.

É ainda muito caro para o que oferece: uma banda larga razoável, que corre com uma conectividade inconsistente e grandes oscilações na latência. Provavelmente esse cenário irá mudar à medida que a SpaceX lançar mais satélites. Talvez venha a ter melhor desempenho quando rodeado por árvores altas ou edifícios, mas isso ainda está por verificar.

No entanto, penso que as empresas de telecomunicações tradicionais deveriam estar em alerta com o Starlink. A execução do produto, a agitação e entusiasmo de uma ligação democratizada à internet, não auguram nada de bom para os gigantes da indústria.

A disrupção está a chegar.

Esta análise teve o apoio da Altar.io e dos seus responsáveis.

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