A Huawei pretende contornar o bloqueio da Google ao seu sistema operativo Android ao criar o seu próprio sistema operativo para smartphones. Aliás, de acordo com os últimos relatos o seu OS pode ser apresentado e distribuído já no final de 2019, mas poderá a Huawei ter sucesso onde a China já falhou?
Quão realista é um novo sistema para smartphones, bem como para computadores?
No entanto, desenvolver de raíz um novo sistema operativo, sobretudo se também for destinado aos computadores, não é uma tarefa fácil. Aliás, a Samsung já tentou, ou até mesmo a Microsoft com o seu esforço falhado no mercado dos smartphones. Poderá agora a Huawei ter sucesso onde outras falharam?
A China, a Huawei, a Google e o seu Android
Recordamos que já várias fabricantes e grandes tecnológicas sediadas na China tentaram desenvolver o seu próprio sistema operativo. Contudo, todas viriam a falhar, com os produtos das respetivas empreitadas a cair no esquecimento. A propósito, podemos recordar algumas das “tentativas” mais famosas.
Em primeiro lugar, a tentativa da China em substituir o Windows da Microsoft. Chamava-se Red Flag Linux e foi criado em 1999. Era um sistema de fonte aberta, baseado no Linux, desenvolvido pela academia chinesa das ciências, mas chegou ao fim em 2014, aparentemente por falta de interesse e investimento.
Pronunciando-se sobre a alternativa chinesa ao Windows, um dos engenheiros estatais afirmou o seguinte:
Utilizar o sistema era como andar de bicicleta numa das maiores artérias de Pequim. Era politicamente correto, por vezes bem divertido, mas extremamente extenuante – e sempre solitário.
Recordamos ainda outras tentativas, menos famosas, como o Kylin OS, criado pelo exército chinês. Ou até mesmo o Start OS. Contudo, nem mesmo o bloqueio temporário do Windows 8 da Microsoft em computadores utilizados pela administração do estado chinês viria a estimular o crescimento destes sistemas alternativos.
A China já tentou fazer frente à Microsoft, e “perdeu”
Não foi certamente por falta de tentativas e alternativas. Aliás, o caso mais recente remonta ao período compreendido entre 2014 e 2016. Durante esse período, a Microsoft foi investigada por supostas violações das imposições legais antimonopólio. No entanto, as alternativas ao Windows viriam a cair no esquecimento.
Olhando agora para os smartphones, e mais concretamente para a Huawei, o cenário é idêntico. A China já teve alternativas ao Android e ao iOS como, por exemplo, o OPhone, apresentado em 2009. Na prática, era uma versão modificada do sistema operativo Android da norte-americana Google. Viria a desaparecer em 2010.
Entretanto, a China voltou a apresentar algo similar em 2014, o seu China Operating System (COS). Esta aposta recebeu forte divulgação mediática e obteve algum sucesso dentro de fronteiras. Ainda assim, não pode ser apelidado de sucesso estrondoso, sendo uma total incógnita fora da China.
As alternativas prévias ao Android da Google
Entre os vários fracassos concebidos pela China, há uma lição a ser retirada. A “culpa” não é do país, ou da Huawei, ou de qualquer outra entidade. Vivemos numa sociedade global em que o idioma já não é barreira e unida pela nossa dependência e confiança nos computadores e dispositivos móveis.
Antes da Huawei já a Nokia tentou singrar com o seu Symbian, também ele uma alternativa ao Android, então nos seus primeiros passos. Ou, mais recentemente, a Samsung com o seu Tizen, remetido agora para os relógios inteligentes. Nenhum destes precedentes viria a impôr-se perante o sistema bicéfalo em vigência.
Existe o Android e existe o iOS. Agora, a Huawei quer dar-nos o HongMeng OS, ou Huawei OS, mas independentemente do nome, a história não jogará a seu favor. Internamente apelidado de “Project Z“, o sistema colheu inspiração na mitologia chinesa na escolha do seu nome.
A Huawei sabe construir smartphones, mas um novo OS?
Tal como a fabricante se poderá aperceber em breve, um novo sistema operativo não é propriamente o mesmo que um lote de novos smartphones. De acordo com o analista Charlie Dai da agência Forrester, “não são apenas as complexidades tecnológicas”.
O ecossistema de um sistema operativo para smartphones requer a participação de diferentes parceiros. Desde a produção do hardware, até às aplicações e respetivos programadores. E claro, não nos esqueçamos das comunidades dedicadas ao software e à programação.
A propósito, a Huawei tem vindo a colher as opiniões de vários programadores com o intuito de angariar mão de obra para a sua nova plataforma. O reflexo das lições do passado, desde a Nokia à Microsoft com os seus projetos falhados no mercado mobile.
So are UK and USA software developers going to produce games for Huawei's Hongmeng OS? They would be foolish not to. pic.twitter.com/qxUFnIhCG9
— Steve Brookstein (@stevebrookstein) May 20, 2019
Bryan Ma, analista da IDC, acaba por atribuir o sucesso, ou falhanço de um novo sistema operativo, aos programadores. De acordo com o seu testemunho, um sistema de nada vale se não tiver aplicações. E um ecossistema depende, portanto, da vontade de quem as cria.
Se os serviços e aplicações da Google não chegarem ao sistema operativo da Huawei, o seu sucesso esgota-se dentro das fronteiras da China. O destino da gigante chinesa repousa agora, em grande parte, nas mãos dos programadores e no seu “apetite” pelo mercado asiático.