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Facebook Papers: Afinal, em que alicerces se constrói o império das redes sociais?

Nos últimos dias muito se tem lido sobre o caso “Facebook Paper”. As práticas duvidosas do ponto de vista ético já eram mais do que suspeitas. O caso Cambridge Analytica veio expor a empresa da maior rede social, mas o passar do tempo fez com que o mundo esquecesse as hipotéticas más condutas.

A forma como o Facebook trata certos assuntos mais polémicos está novamente na berlinda, depois de Frances Haugen, antiga funcionárias da empresa, ter divulgado um conjunto de documentos internos. Mas afinal, o que é que dizem estes documentos?


Facebook Papers, o início de uma longa história (sem fim à vista)

Os documentos partilhados por Frances Haugen ao The Wall Street Journal revelaram uma realidade pouco abonatória sobre o Facebook e sobre a forma como a empresa aborda questões relevantes da sociedade, como direitos humanos, política, discursos de ódio ou racismo, perante os seus objetivos em termos de lucros.

Além da entrevista e de vária documentação já conhecida, recentemente foram partilhados mais documentos internos reveladores das más condutas da empresa. Esta informação faz parte de mais de 10 mil documentos internos que já estão a ser analisados pelo Congresso.

O impacto deste processo é de tal ordem que poderá não tardar muito para a empresa Facebook Inc. mude de nome, para se afastar da rede social e continuar o seu trabalho no metaverso, que é o atual grande objetivo da empresa.

Afinal, em que alicerces se constrói o império das redes sociais?

De entre as muitas acusações já feitas, existe informação nestes documentos que revela bem o carácter e a forma como a rede social é gerida. Vamos mostrar aqui alguns exemplos dos assuntos mais polémicos que têm ainda muito para serem explorados.

A remoção de conteúdo sensível é hoje uma preocupação das redes sociais e, do Facebook, já lemos em inúmeros relatórios que o sucesso, por exemplo, na remoção de publicações de discursos de ódio é acima dos 90%. No entanto, nos documentos agora tornados públicos, é revelado que, na verdade, apenas 5% desse tipo de conteúdo é apagado dos feeds.

Ainda na sequência deste tema, está o investimento da rede social em países onde a violência é uma realidade (seja, racial, religiosa ou sexual). Sem considerar o impacto político e social e sem conseguir dar uma resposta célere às publicações de incitação ao ódio e à violência, o Facebook está assim a abrir uma porta que facilita a propagação deste tipo de mensagens.

Já para não falar que o tratamento das partilhas feitas em língua que não o inglês é muito mais difícil de monitorizar. Em regiões como Mianmar e Etiópia, onde enormes distúrbios civis provocaram milhares de mortes, os documentos mostraram que a empresa não tinha recursos de triagem de idiomas em 2020, ou seja, era possível a estes militantes publicar os seus ideais livremente.

Facebook não sabe lidar com informação políticas

Um outro caso revelado nestes documentos prende-se com as eleições dos Estados Unidos que deram a derrota a Donald Trump e a invasão ao Capitólio. Ora, antes das eleições, a partilha de conteúdo político estava restringido para combater a propagação da desinformação. No entanto, a rede social, para aproveitar o buzz do pós eleições, removeu esses filtros. Aparentemente, esta abertura foi suficiente para que motins começassem a ser organizados, dando-se então a invasão ao Capitólio.

Sobre o tema desinformação eleitoral, a rede social é acusada de não conseguir lidar com este tema. As regras não são explicitas e, ao longo do tempo, os funcionários da empresa parecem ter feito vários alertas relacionados com o tratamento desta informação, sem que nunca lhes tivesse sido dado crédito.

E se o Facebook fosse utilizado como plataforma de tráfico humano? Um caso muito particular e que vem descrito nos documentos, revela que a plataforma eliminou diversos perfis que “vendiam” empregadas domésticas filipinas. No entanto, a realidade vai muito além disto. Continua a existir inúmeras contas que colocam pessoas à venda, com informações tão específicas quanto, nome, idade, fotografias e os respetivos preços

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