Se antes os filtros nas redes sociais serviam brincadeiras e eram descontraidamente aplicados, agora, o cenário é diferente. De tal forma, que as redes sociais, nomeadamente o TikTok, poderão estar mesmo a empurrar os utilizadores mais jovens para procedimentos estéticos e a promover uma série de disfunções.
Embora não fosse esse o seu propósito, inicialmente, a verdade é que, por alojarem muita gente e, consequentemente, muitas vidas, as redes sociais são, atualmente, uma alarmante fonte de comparação. Aliás, em 2021, vimos que uma recolha de dados interna conduzida pelo Facebook revelou que a saúde mental dos adolescentes sofria um impacto negativo devido ao Instagram – 32% das raparigas com menos de 18 anos diziam sentir-se mal com o seu corpo e admitiam que a rede social agravava esse ponto.
Recentemente, a chegada de um novo filtro ao TikTok levantou questões relativas a esta problemática e foi já tema em alguns meios de comunicação.
Filtro superrealista alarma especialistas e os próprios utilizadores
O filtro Bold Glamour chegou, recentemente, ao TikTok e, assim como a maioria, utiliza tecnologia de reconhecimento facial para detetar as características faciais do utilizador, melhorando aquelas que a tecnologia do filtro considerar pertinentes. Contrariamente aos filtros a que estamos habituados, que saem de cena quando, por exemplo, passamos a mão na cara, este é superrealista e permanece colocado.
— memo akten (@memotv) February 26, 2023
Conforme analisado pela Genbeta, o filtro mascara o rosto com os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, atualmente: lábios mais cheios, maçãs do rosto marcadas, nariz estreito, sobrancelhas perfeitamente alinhadas, sem olheiras, sem rugas e sem imperfeições labiais.
Estará o TikTok a empurrar os jovens para a ânsia da perfeição?
O realismo associado ao filtro, bem como os vários padrões que o compõem, deu origem ao debate: sendo o filtro (quase) indetetável, a sua utilização poderá resultar em inseguranças.
Conforme introduzido pelo Boston Medical Center, poderemos estar perante aquilo a que chamam de “dismorfia de selfie”, que nada mais é do que utilizadores que procuram cirurgias plásticas que os aproximem do que veem online. Aliás, segundo uma reportagem da BBC, as adolescentes que utilizam filtros são mais propensas a considerar procedimentos estéticos, e os cirurgiões plásticos assinalam um aumento de clientes que solicitam ajustes que aproximem o seu aspeto daquele conseguido pelo filtro.
Há vários estudos a corroborar a ideia de que o TikTok está a prejudicar os jovens, neste sentido. Por exemplo, este concluiu que as raparigas (entre 14 e 18 anos) que viram selfies alteradas e originais ficaram menos satisfeitas com a sua aparência; ou este, conduzido pela Dove, que sugere que 85% das raparigas usaram uma aplicação de maquilhagem aos 13 anos e que uma em cada duas diz ter baixa autoestima devido ao conteúdo tóxico de beleza nas redes sociais; ou este, desenvolvido pela Universidade Aberta da Catalunha, que percebeu que os filtros podem resultar numa perturbação dismórfica corporal. Isto é, uma perceção distorcida da imagem que pode provocar o desenvolvimento de comportamentos obsessivo-compulsivos.