Já vimos por aqui projetos que ambicionam retirar o dióxido de carbono da atmosfera, em larga escala. Ora, juntando o útil ao… útil, um grupo de empresas anunciou ter conseguido prender, em betão, dióxido de carbono retirado da atmosfera.
O funcionamento do mundo como o conhecemos tem, em várias medidas, um impacto muito grande no ambiente. O dióxido de carbono que emitimos e que fica alojado na atmosfera surge de muitas fontes, maioritariamente criadas por nós, seres humanos. Uma delas é, exatamente, o betão.
Afinal, segundo ressalva o The Verge, é o material mais utilizado, na Terra, além da água, e, por isso, é um elemento de peso quando o assunto são as alterações climáticas.
Por ter esta importância e, ao mesmo tempo, ser responsável por cerca de três vezes mais poluição de dióxido de carbono do que a aviação, a limpeza do betão tornou-se num dos desafios climáticos mais complexos. Esta complexidade, por sua vez, tornou-se num atrativo investimento para as empresas atentas.
Limpar a atmosfera, prendendo o problema no betão
Perante o problema do betão, há empresas a investir seriamente na limpeza das emissões de dióxido de carbono que resultam do fabrico do material. Associando este a outro, o objetivo passa por retirar o CO2 da atmosfera para o prender no betão.
A empresa Heirloom, com sede na Califórnia, foi responsável pelo primeiro passo nesse processo. A tecnologia utilizada por esta e pela sua parceira, CarbonCure Technologies recorre ao óxido de cálcio de calcário, que atua como uma esponja para extrair dióxido de carbono do ar.
Para já, a Heirloom só o conseguiu fazer em pequena escala, com uma fábrica de demonstração, em Brisbane, na Califórnia, e com o apoio do fundo de investimento de Bill Gates, Breakthrough Energy Ventures.
Repensar um processo para realocar o dióxido de carbono
Para o projeto de demonstração com a Heirloom, a CarbonCure injetou o dióxido de carbono nas águas residuais, de modo a que pudesse ser reutilizado para fazer novo betão.
Normalmente, as águas residuais seriam descartadas, porque são demasiado reativas para serem utilizadas novamente. Contudo, essas águas residuais têm algum cimento de sobra. O cimento, que é o principal ingrediente do betão, é muito poluente, porque é tipicamente aquecido a temperaturas muito elevadas, consumindo muita energia. Além disso, a reação química no processo de fabrico do cimento gera emissões adicionais de CO2.
Ora, a chave para fazer betão de uma forma menos prejudicial para o ambiente é utilizar menos cimento na mistura. A adição de CO2 às águas residuais torna-as menos reativas e salva os restos de cimento nelas contidos. Depois, quando se reutiliza essa água, também se reutiliza esse cimento. Desta forma, não é necessário colocar tanto cimento fresco na mistura de betão.
É neste momento do processo que entra a terceira empresa responsável pelo projeto, a Central Concrete Supply Company. Esta utilizou as águas residuais tratadas para fazer betão, na sua fábrica, em San Jose, na Califórnia.
Embora seja promissor, o projeto de demonstração utilizou menos do que 38 quilos de CO2 capturados, pelo que a amostra é muito redutora. Além disso, não existem medidas exatas relativamente à quantidade de emissões que poderiam ser evitadas através da reutilização das águas residuais.
Deveria haver mais análises e, para isso, precisamos de dados que estejam publicamente disponíveis.
Partilhou Dwarak Ravikumar, professor assistente de engenharia civil e ambiental na University of Waterloo.
Assim, as empresas esperam aumentar a escala do projeto e recolher mais dados, no sentido de perceber a aplicabilidade concreta deste método que desenvolveram para captura de CO2 da atmosfera e posterior integração no betão.
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