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Videojogos com Saúde

Actualmente a indústria dos videojogos, uma das mais lucrativas de sempre, enfrenta não só barreiras de cariz técnico mas também relacionadas com uma área bem mais delicada: a Saúde. Frequentemente se associam (negativamente) os efeitos dos videojogos à saúde física e psicológica de quem os joga, culpabilizando os casos de agressividade, vício, ansiedade, stress, comportamentos menos adequados e também outras doenças como a obesidade e atrofia muscular. Como resultado do lançamento cada vez mais comum dos jogos ditos “violentos”, inúmeras vozes se têm levantado contra esta indústria. Esta temática já foi em parte aqui discutida, no Pplware, no excelente post da Marisa Pinto, sobre a dependência geradas por esta indústria.

No entanto, e com o objectivo de desmistificar um pouco esta ideia que paira sobre o mundo do entretenimento virtual, pretendo mostrar que os videojogos também podem ser um grande auxílio ao ser humano. Embora o possam ser a vários níveis e em diferentes áreas, irei focarr as próximas linhas, talvez na área mais sensível de todas, a Saúde.

À medida que as tecnologias evoluem e que o nosso conhecimento sobre o Mundo dos Videojogos se vai tornando mais completo, vão sendo dados a conhecer ao público cada vez mais estudos e exemplos práticos sobre o papel positivo que os jogos podem e, já têm, no nosso quotidiano e com algumas conclusões interessantes no que toca à sua aplicabilidade especificamente na área da Saúde e do Bem-Estar.

Esta ideia de associar os videojogos à Saúde e Bem-Estar não é nova, e desde os velhinhos Atari 2600 que as equipas de desenvolvimento tentam arranjar uma forma de levar o jogador a fazer exercício físico, por exemplo, enquanto joga. Na altura havia o famoso JoyBoard. Em anos mais recentes apareceram as câmaras para a Playstation, os jogos de Fitness como o Your Shape, ou as plataformas para exercício da Wii Fit.

Num outro âmbito, o uso de jogos no auxílio a tratamentos médicos é também ele, antigo. Desde a década de 90 que sistemas de Realidade Virtual são usados para tratamento de fobias. Na University of Washington jogos de computador, ajudam vítimas de queimaduras, colocando-os por exemplo, em espaços virtuais gelados. Nesta universidade também tratam por este método pessoas que sofrem de Aracnofobia.

Um estudo feito em 1990 por Richard Haier, professor de Psicologia da Universidade da California, usou o famoso jogo Tetris como cobaia para atingir determinados resultados interessantes. Usando PET Scanners, tentou avaliar o consumo de glicose pelo cérebro dos jogadores que jogavam Tetris. Os níveis de consumo de glicose indicam a taxa de trabalho do cérebro. Haier determinou que enquanto nos primeiros níveis de jogo (enquanto era novidade) os jogadores consumiam largas quantidades de glicose, passado um mês, e com níveis mais difíceis esses consumos eram manifestamente inferiores. A conclusão indicia que o cérebro foi treinado e evoluiu num sentido mais prático no que toca à ocupação do espaço (ideia base do jogo), e numa tentativa de melhoria das suas capacidades, denominado pelos psicólogos cognitivos de Regime da Competência.

Os jogos são igualmente úteis para os cirurgiões, revelou um outro estudo sobre a perícia dos médicos. James Rosser do Beth Israel Medical Center em N.Y., inquiriu 300 cirurgiões e chegou à conclusão de que aqueles que jogam 20 minutos imediatamente antes de operarem, cometiam menos erros e eram mais rápidos que os restantes. Uma das conclusões é que os médicos que jogam são mais eficientes ao conseguirem obter uma melhor coordenação das capacidades visuais e tempo de reacção.

Uma outra área para a qual os jogos podem ser uma mais-valia é na área da Saúde, é precisamente no pain management, ou a Gestão da Dor, de doentes ou acidentados. Segundo Mark Griffiths, professor da Notthingham Trent University, essa é uma das áreas nas quais os jogos podem realmente ser importantes. ” Uma aplicação inovadora dos videojogos na Saúde é a sua utilização na Gestão da Dor, dado que o grau de atenção necessário para jogar um jogo consegue distrair o jogador da sensação de dor”, explica Griffiths. Mark explica também que os videojogos podem providenciar distracções mentais para crianças que estejam sujeitas a sessões de quimioterapia.

Kurt Squire, professor da University of Wiscounsin-Madison e estudioso dos videojogos, referiu recentemente na conferência Games For Health em 2009, que “Os jogos usados devido a razões comportamentais ou terapêuticas, tais como ajudar crianças diagnosticadas com hiperactividade, ajudam a focar a sua atenção, mas têm sido tradicionalmente ferramentas de último recurso, quando todas as outras terapias falham. Os estudos do futuro poderão olhar para estes jogos terapêuticos como ferramenta complementar das outras terapias.”

Essa mesma conclusão foi também obtida por um outro estudo do Wheeling Jesuit University. Bryan Radenbush, responsável pelo estudo, revela que Os videojogos podem ser usados nas salas de espera para distrair pacientes que vão sofrer intervenções cirúrgicas.

Sergei Adamovich, cientista e professor na New Jersey Institute of Technology, é o coordenador duma outra investigação levada a cabo por essa instituição e afirmou que os jogos podem ser aplicados para tratamento e reabilitação de doentes com paralisia cerebral a par com a fisioterapia, revelando ainda que não estamos a usar jogos de PC só porque as crianças os jogam, mas porque eles provêm da ciência. Há um vasto, crescente campo de provas que afirma que se pode reorganizar o cérebro por simples estimulação.

 

Segundo uma outra investigação por parte de investigadores canadianos da York University, o simples facto de jogar um videojogo pode efectivamente atrasar o envelhecimento do cérebro, uma vez que a prática de jogar exercita a mente e é mesmo comparada com o que acontece com as pessoas bilingues. Um dos resultados mais interessantes deste estudo é o facto do jogo permitir aos jogadores focarem-se em tarefas diferentes em simultâneo.

Segundo esse mesmo estudo (tendo como amostra 100 estudantes) algumas conclusões interessantes podem ser sugeridas:

Ellen Bialystok, psicóloga da Universidade revela sobre os jogadores que, estão mais habituados a bloquearem informações irrelevantes para as tarefas que têm em mãos, e que se tornam melhores nas buscas rápidas de respostas a problemas.

Entretanto, numa outra pesquisa levada a cabo pelo Rotman Research Institute, a especialista Cheryl Grady refere que as crianças que jogam e são também bilingues podem vir a ser os indivíduos que apresentem melhores condições para no futuro filtrarem distracções.

 

O Dr. James Osborne, do Departamento de reabilitação do Hospital de Herrin, Sul de Illionois, referiu à CBSNews em 2008 que os doentes frequentemente denominavam a fisioterapia de PT (Pain and Torture, Dor e Tortura). Após a aquisição dum sistema de Wii para o Departamento, passaram-se a usar jogos para a consola que requerem movimentos similares aos usados nas terapias e que segundo a médica, conseguiram inverter esses sentimentos dos doentes de forma a passar a encarar melhor os seus tratamentos.

O Hines Veterans Affairs Hospital of Chicago, adquiriu também recentemente um sistema Wii para a sua unidade de Doenças da Espinal Medula, para tratamentos e como distracção para os seus soldados internados.

Também o Walter Reed Army Medical Center tem um Sistema Wii instalado para tratamento dos seus soldados minimizados (oriundos do Iraque e que cujas idades andam entre os 19 e 25 anos). Segundo a então Chefe do Departamento de Terapia Ocupacional, a Tenente-Coronel Stephanie Daugherty, “Os soldados pensam que isto é para os entretar, mas nós sabemos que é para fisioterapia”, quando questionada sobre o uso da Wii.

Também o Children’s Hospital of Arkansas, único Hospital Pediátrico do Arkansas e um dos maiores dos Estados Unidos, é um exemplo de sucesso no que toca à implementação dos videojogos na Saúde. Foram instalados nos departamentos de internamento sistemas em rede de Xbox 360º, que entre outras coisas permitem às crianças internadas um contacto com o exterior, seja em forma de Mail, Internet, como também de jogos.

 

Um outro aspecto da saúde onde os videojogos podem ser bastante úteis, é o potencial que eles têm para tratamento de traumas e problemas psicológicos. O Departamento da Defesa Americano fundou em 2008, 3 programas para investigar a importância do uso de realidades virtuais para tratamento de Síndroma Pós-Traumático comum nos veteranos regressados do Iraque. Um desses projectos de Realidade Virtual, “Virtual Iraqi” é mesmo baseado no jogo Full Spectrum Warrior, criado para o Ministério da Defesa, o que prova também que o investimento público nos EUA está cada vez mais ligado ao Mundo dos Videojogos. “Virtua Iraqi” é uma experiência virtual que possibilita aos soldados revisitar o Iraque duma forma inofensiva, de forma a normalizar as suas reacções no quotidiano. Projectos semelhantes foram levados a cabo com veteranos do Vietname e com vítimas do 11 de Setembro.

 

Um outro caso de interligação entre os videojogos e as instituições públicas dum País, leva-nos até ao National Health Service britânico, que no próprio site aconselha o jogo Beating The Blues como arma de combate à depressão. No site do jogo são revelados alguns resultados nos quais 8 em cada 10 pessoas que o jogam se sentem realmente melhores e o recomendam.

 

Creio que não será nenhum exagero se, no final deste texto, assinalarmos alguns pontos positivos no que toca aos Videojogos e à Saúde:

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