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Bases de dados desenvolvidas pelos EUA poderão ser uma arma para os talibãs

Ao longo de duas décadas, os Estados Unidos da América e os seus aliados trabalharam na construção de bases de dados para o povo do Afeganistão. O objetivo do significativo investimento de centenas de milhões de dólares era, declaradamente, promover a lei, a ordem e a modernização.

Contudo, devido aos acontecimentos recentes protagonizados pelos talibãs, essas bases de dados poderão não ter o destino esperado.


Durante muitos anos, os EUA foram reunindo, em bases de dados criadas por si, informações relativas ao povo afegão. Apesar dos motivos que os levaram a desenvolvê-las, aquando da tomada do poder pelos talibãs, em agosto deste ano, a maior parte desse suporte digital poderá ter caído nas mãos erradas.

De acordo com a Associated Press (AP), essas bases de dados foram desenvolvidas através de sistemas de baixa proteção, pelo que os conteúdos reunidos, que incluem dados biométricos para verificação de identidades, por exemplo, correm o risco de serem usados para vigilância. Ou seja, à medida que os talibãs forem ganhando poder, surge a preocupação de as bases de dados serem usadas para controlo social e para punir potenciais inimigos.

Se, por um lado, os EUA pretendiam utilizar as bases de dados construtivamente – impulsionando a educação, dando poder às mulheres, combatendo a corrupção –, por outro, surgem rumores que referem que os dados governamentais podem estar a ser utilizados pelos talibãs para identificar os afegãos que trabalharam com as forças americanas.

Bases de dados americanas poderão cair nas mãos dos talibãs

Segundo Neesha Suarez, diretor dos serviços constituintes da Seth Moulton de Massachusetts e um veterano da Guerra do Iraque, os cidadãos do Afeganistão estão a receber chamadas telefónicas e mensagens de texto ameaçadoras.

Embora os talibãs saibam que o mundo estará atento à forma como atuarão daqui em diante, Ali Karimi, um académico da University of Pennsylvania, receia que as bases de dados lhes deem fundamentos rígidos para perseguirem potenciais inimigos. Mais do que isso, de acordo com Nader Nadery, um negociador de paz e chefe da comissão de serviço civil do antigo governo, todos os afegãos têm a obrigação de garantir que os dados governamentais sensíveis apenas são usados para “fins de desenvolvimento” e não para policiamento e controlo social pelos talibãs.

Por exemplo, e conforme expõe a AP, o Afghan Personnel and Pay System possui dados sobre mais de 700.000 membros das forças de segurança, e datam de há 40 anos. Essa base de dados inclui datas de nascimento, números de telefone, nomes de pais e avôs, impressões digitais e outros dados biométricos. Apesar do perigo associado, os EUA garantem ter apagado essa base de dados.

Segundo William Graves, engenheiro-chefe do gabinete de gestão de projetos biométricos do Pentágono, antes de se retirarem do Afeganistão, os EUA terão apagado uma outra base de dados, a Afghanistan Automated Biometric Identification, com um software de limpeza de dados de grau limitar. Da mesma forma, foram também apagados dados recolhidos de telecomunicações e contactos feitos através da Internet, desde 2001.

Graves revelou ainda que, das bases de dados cruciais, restaram o Afghanistan Financial Management Information System, que contém extensos pormenores sobre empregadores, e uma base de dados do Ministério da Economia, que compila todas as fontes de financiamento de agências internacionais de desenvolvimento e ajuda.

Mais do que isso, existe uma outra base de dados que agrega a digitalização da íris e impressões digitais de cerca de nove milhões de afegãos. Esta, por sua vez, é controlada pela National Statistics and Information Agency.

Como estas bases de dados, existem outras a reunir dados pessoais e profissionais dos cidadãos do Afeganistão. Se cair nas mãos dos talibãs, é improvável que sejam usados para promover a lei, a ordem e a modernização.

 

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