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Por que razão os médicos desconfiam dos dispositivos vestíveis, como os smartwatches?

Os dispositivos vestíveis, como os smartwatches ou os anéis inteligentes, dão forma a uma indústria em crescimento, com cada vez mais alternativas a serem desenvolvidas e disponibilizadas às pessoas. A tecnologia que os equipa tem sido, também, alvo de significativas melhorias. Tendo em conta que parecem ser verdadeiramente úteis, para uma série de finalidades, por que razão os médios desconfiam deles?


Os smartwatches dominam a indústria dos dispositivos vestíveis, que se concentra, essencialmente, na monitorização da saúde e do bem-estar dos utilizadores. De facto, dependendo da gama do produto, muitos já afirmam monitorizar com precisão as rotinas de exercício, a temperatura corporal, o ritmo cardíaco, o ciclo menstrual, os padrões de sono, entre outros.

Alguns deles permitem, inclusivamente, a partilha dos dados captados com profissionais de saúde.

Apesar de parecerem verdadeiramente úteis, pelas leituras que fazem sobre o estado do utilizador, a BBC reporta que muitos médicos e especialistas em tecnologia continuam cautelosos relativamente à utilização de dados de saúde captados por este tipo de gadget.

Ao contrário de Jake Deutsch, um clínico dos Estados Unidos que aconselha os anéis inteligentes da Oura, afirmando que os dados dos dispositivos vestíveis lhe permitem “avaliar a saúde em geral com maior precisão”, Helen Salisbury, médica de clínica geral numa clínica em Oxford, diz que pode haver inúmeras razões pelas quais podemos obter temporariamente dados anormais, como um aumento da frequência cardíaca.

Penso que, para o número de vezes em que é útil, há provavelmente mais vezes em que não é muito útil, e preocupa-me que estejamos a construir uma sociedade de hipocondria e de monitorização excessiva do nosso corpo.

Preocupa-me o facto de estarmos a encorajar as pessoas a monitorizarem tudo a toda a hora e a irem ao médico sempre que a máquina pensa que estão doentes, em vez de o fazerem quando pensam que estão doentes.

Da sua experiência, não há muitos pacientes a chegarem com os seus dispositivos vestíveis. Contudo, o facto de esta tendência estar a aumentar, conforme notou, preocupa-a.

Ainda na sua perspetiva, o que os dispositivos vestíveis fazem é encorajar bons hábitos, mas a melhor mensagem que se pode retirar deles é o mesmo conselho que os médicos têm dado há anos: “O que podemos fazer é caminhar mais, não beber demasiado álcool, tentar manter um peso saudável; isso nunca muda”.

 

Sabemos dos casos de sucesso. Mas e quando os dispositivos vestíveis falham?

O Apple Watch é um dos smartwatches mais conhecidos e vendidos do mundo, com uma popularidade de “salva-vidas” cimentada.

Contudo, apesar de a Apple comunicar histórias verdadeiras de pessoas cujas vidas foram salvas devido à função de monitorização do dispositivo, com objetivos de publicidade, casos em que o smartwatch errou não são tão conhecidos.

De qualquer forma, Yang Wei, professor associado de tecnologias vestíveis na Universidade de Nottingham Trent, disse que, quando os doentes apresentam os dados que um dispositivo vestível recolheu aos profissionais de saúde, estes preferem tentar confirmá-los, utilizando o seu próprio equipamento, em vez de confiarem simplesmente no que o gadget captou.

Quando vamos ao hospital e medimos o ECG [eletrocardiograma], não nos preocupamos com o consumo de energia, porque a máquina está ligada à corrente. No seu relógio, não vai medir o ECG continuamente, porque gasta logo a bateria.

Disse o professor, acrescentando que o movimento, seja do próprio vestível no pulso ou da pessoa que o usa, pode “criar ruído” nos dados recolhidos, tornando-os menos fiáveis.

Relativamente aos anéis inteligentes, Yang Wei avisa que “o padrão de ouro para medir o ritmo cardíaco é a partir do pulso ou diretamente do coração”. Por isso, “se medirmos a partir do dedo, estamos a sacrificar a precisão”.

Segundo Yang Wei, não existe uma norma internacional para os dispositivos vestíveis, quer para os sensores e software que alimentam os dispositivos vestíveis, quer para os próprios dados, e mesmo para o formato em que são recolhidos.

Apesar de isto ser uma aresta a ser limada, o professor associado de tecnologias vestíveis na Universidade de Nottingham Trent acredita que quanto mais consistente for o uso de um dispositivo, mais precisos serão os seus dados.

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