A ideia ainda não está a ser pensada cá em Portugal, mas já se mexe nos nossos antípodas. Câmaras poderão detetar a infração grave de conduzir a usar o smartphone. Nesse sentido, estão a ser tratadas as questões relacionadas com a privacidade para se avançar com mais esta medida de segurança nos transportes rodoviários.
Na década de 1980, foram introduzidos os testes móveis de alcoolemia e mais recentemente os testes móveis de drogas. Atualmente, o problema está no uso dos smartphones. Como se poderá combater este problema?
Austrália – Câmaras para detetar uso de smartphones durante a condução
O uso de smartphones durante a condução está a preocupar as autoridades australianas. Assim, no estado de Nova Gales do Sul, as autoridades estão a preparar a legislação rodoviária para legalizar o uso das câmaras rodoviárias. O intuito é apanhar os condutores a usar o smartphone durante a condução.
Conforme foi dado a conhecer, se o projeto for promulgado, as autoridades acreditam que dentro de meses poderá haver uma deteção generalizada de condutores a usar ilegalmente os seus telefones.
Atualmente, cerca de dois em cada três condutores (pelo menos) usam o smartphone durante a condução. Assim sendo, estes usam para fazer ou receber chamadas, enviar mensagens de texto ou navegar na internet. Assim, usando estas câmaras, o comportamento do condutor poderá mudar radicalmente.
Como funcionará o sistema?
Atualmente já existe hardware e software para avançar. Segundo as autoridades australianas, as câmaras (que podem ser fixas ou móveis) e o seu software de apoio foram desenvolvidos pela aliança das autoridades australianas e a empresa Acusensus.
Esta empresa é conhecida pela sua especialização em soluções de deteção de distração na condução. Conforme referiram as autoridades, estas câmaras, tal qual as de velocidade, podem ser usadas 24/7 na captação de imagem de alta resolução apanhando o veículo, a matrícula e o condutor em infração.
Apesar de parecer complexo, a empresa recorre à Inteligência Artificial para o sistema conseguir examinar as imagens e detetar a possibilidade de uso do dispositivo móvel. Apesar de todos os veículos serem captados, apenas alguns, com indícios da infração, são enviados ao revisor humano. Por questões de proteção, estas imagens têm a matrícula do veículo e o rosto dos passageiros ocultados.
Posteriormente, se for detetado um delito, as provas são encaminhadas às autoridades, que podem emitir multas.
Resultados dos ensaios de 2019
Foi realizado já um ensaio com estas tecnologias no início deste ano. Nos 8 locais onde as câmaras colocadas foram avaliados 8,5 milhões de veículos. Como resultado foram apresentados os seguintes números:
- 104.000 pacotes de provas de condutores que utilizavam um telemóvel foram detetados, rastreados e julgados como prova de uma infração;
- os condutores multados foram detetados mais em zonas com limites de velocidade mais baixos;
- os delitos ocorreram durante o dia e a noite, com apenas ligeiras variações: ligeiramente mais baixa a partir das 6h-9h; ligeiramente mais alta a partir das 19h-9h; e mais alta entre as 16h-5h;
- 15% dos condutores infratores conduziam um veículo pesado;
- 85% dos condutores infratores eram a única pessoa no veículo;
- 5% dos condutores infratores utilizaram o telemóvel com ambas as mãos enquanto o veículo estava em movimento;
- 75% dos motoristas usavam a mão esquerda para operar o telemóvel;
- os condutores infratores: enviavam SMS ou visualizavam o ecrã móvel (28%) falavam ao telefone (4%) seguravam simplesmente o telemóvel (25%) tinham o telemóvel no colo (43%).
Atualmente, em Nova Gales do Sul, cerca de 40.000 avisos de infração de tráfego são emitidos anualmente para uso móvel. Durante os testes, um número limitado de câmaras detetou mais de 104 mil infrações em meses.
O governo deste estado da Austrália anunciou planos para que pelo menos 135 milhões de veículos sejam vigiados anualmente. Se uma taxa de deteção semelhante for assumida, isso significa que 1,65 milhões de delitos podem ser detetados a cada ano pelas câmaras.
No entanto, estas estimativas estão a ser feitas por valores no máximo. Isto porque os condutores provavelmente mudarão o seu uso do dispositivo móvel rapidamente após o lançamento.
Planos para avançar
Atualmente, os motoristas que usam um telemóvel ilegalmente são multados em 337 dólares australianos (cerca 210 euros) e deduzidos 5 pontos na carta. Os condutores novatos, se cometerem esta infração, podem ser mesmo sancionados com uma suspensão de condução de três meses.
Entretanto, para este programa, haverá um período onde apenas serão atribuídas advertências nas cartas dos condutores em infração. Além disso, os locais onde as câmaras serão colocadas, terão sinalética vertical para avisar e consciencializar os condutores.
Apesar de ser uma medida apoiada pela população, as autoridades referem que a legislação proposta terá um impacto significativo no sistema judicial e na administração das cartas de condução, uma vez que um grande número de condutores será penalizado e poderá perder a carta de condução, podendo tentar contestar infrações.
Estão igualmente a ser debatidas as questões de privacidade e outros aspetos relacionados com a acusação e defesa do visado.