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A importância do Software Livre no mundo de hoje

Por Luis da Costa para o Pplware!

Uma questão de conceitos, termos e liberdades.

Uma das grandes e mais importantes temáticas em discussão nos tempos que correm é a do Software Livre, Open Source e afins ….

Com um mercado cada vez mais saturado dos mais variados produtos, provenientes dos mais variados pontos do Mundo e desenvolvidos por uma cada vez maior diversidade de equipas de desenvolvimento, o conceito de Software Livre reveste-se de uma crescente importância.

No entanto, o conceito de Software Livre ultrapassa os simples conceitos de licenciamento e código aberto. Tal como Luis da Costa indica nas palavras que escreveu, trata-se de uma forma de estar, de pensar e de agir.

Antes de mais uma definição do termo impõe-se. Software Livre, ou “Free Software” (em inglês), designa um programa informático Livre (Liberdade) e não Grátis (Monetário). Para distanciar os dois é usado a expressão “Free as in free speech not as in free beer”, o significa “Livre como em Liberdade de Expressão e não como em Cerveja grátis”. A expressão tornou-se famosa graças ao Richard Stallman, e ao GNU Manifesto, publicado em 1985 dois anos depois do anúncio da criação do Projecto GNU e poucos meses antes da fundação da Free Software Foundation.

Um programa é Software Livre quando os utilizadores detêm as 4 seguintes liberdades essenciais:

Liberdade 0 : A liberdade para executar o programa, e isto qualquer que seja o propósito.

Liberdade 1 : A liberdade de estudar como o programa funciona, e modificá-lo de forma a que o mesmo se torne mais adequado à nossa computação. O acesso ao código fonte, também chamado de source code é uma pré-condição para tal.

Liberdade 2 : A liberdade de redistribuir cópias do programa de modo a que possa ajudar os outros.

Liberdade 3 : A liberdade de distribuir copias das vossas versões modificados aos outros. Dando desta forma uma chance de beneficiar das vossas mudanças à comunidade. O acesso ao código fonte é uma pré-condição.

Todo o software que não respeita uma destas liberdades é considerado “não ético” do ponto de vista das nossas liberdades informáticas essenciais.

Tais conceitos são por vezes confundidos com os conceitos e ideais promulgados pela OSIOpen Source Initiative, uma organização que foi criada de forma a promover o software dito de “código aberto” (ou Open Source). De forma resumida, a diferença entre um programa dito “Open Source Software” e um programa dito “Free Software”, é que o primeiro poderá não englobar os conceitos de liberdade do segundo, então que o segundo irá sempre englobar os conceitos de código aberto do primeiro (visto ser uma pré-condição). É por esta e outras razões que a terminologia dos dois conceitos deveria ser diferenciado com claridade de forma a deixar bem claro ao utilizador que género de software é que está em questão e quais as suas liberdades associadas.

 

O Software Livre no dia-a-dia

Hoje em dia considerar que o uso do Software Livre se reduz aos aproximadamente 1% de utilizadores GNU/Linux, seria fazer um erro de julgamento muito importante. Na realidade raras são as máquinas hoje em dia que não possuem um pedaço de Software Livre, e isto sem falar de todos os servidores aos quais temos acesso na internet e que usam Software Livre (nomeadamente os da Wikipédia, Google e por vezes até Microsoft e Apple).

No entanto raras são as máquinas de hoje que utilizam Software Livre a 100%. Bem pelo contrário, ao passar do tempo, temo-nos afastado de esta ideia, tendo-nos orientado cada vez mais para sistemas completamente fechados e proprietários, tais como os sistemas da Apple e Microsoft. Ao aceitar a utilização desses softwares que restringem a nossa liberdade, e essas licenças que foram feitas unicamente para proteger as empresas que as promulguem, estamos não só a apoiar esse sistema ajudando-os a se desenvolver cada vez mais, como também a limitar-nos em termos de liberdade computacionais e humanas.

Um dos exemplos mais óbvios do perigo associado ao software proprietário, foi o escândalo NSA divulgado por Edward Snowden. O qual veio demonstrar que ao não termos controlo sobre o software em si, ao aceitarmos algo que desrespeite as 4 liberdades essenciais (e isto mesmo se nem sempre nos associamos a uma delas na área dos conhecimentos pessoais), o programador/entidade/empresa que detêm o software, é que controlam a nossa computação, e não o contrário. Podendo assim desta forma eliminar à distancia, alterar sem pré-aviso, censurar ou até mesmo bloquear o acesso, a qualquer pedaço de informação e ou ferramenta que seja da nossa possessão. Um tal controlo permite até, como já foi explicado no caso NSA, escutar as nossas conversas, guardar logs das nossas informações pessoais, e até eliminar informações à distancia localizadas nas nossas máquinas.

Poderão entender isto desta forma :

– Com o Software Livre são Vocês que controlam a vossa computação.

– Com o Software Proprietário são Eles que controlam a vossa computação.

Como resolver o problema do Software Proprietário ?

A adopção de Software Livre seria a solução mais óbvia e imediata. No entanto temos de ter certos aspectos em consideração antes de efectuar tal mudança. Mesmo sabendo que o Software Livre é benéfico em todos os aspectos para a nossa utilização da informática moderna (seja ela em computador, telemóvel, carros ou outros) o mesmo ainda não se conseguiu desenvolver como devia, isto também devido ao facto de que mais e mais pessoas utilizam Software Proprietário e vêm no Software Livre algo de não funcional, perigoso, não seguro, bom só para o passatempo, entre outros. Tais ideias nunca foram verdade e nunca o serão.

No mundo da informática existem dois tipos de Software, o bom e o mau, e isto independentemente da empresa que o criou, da linguagem (de programação) utilizada, da licença utilizada, e por aí adiante. No entanto, e como explicado anteriormente, qualquer Software Livre será sempre melhor(em termos de liberdade principalmente) do que a sua contra parte proprietária, já que a qualquer momento qualquer pessoa poderá fazer as modificações necessárias de forma a melhorar o software, algo que não é possível com o software proprietário. E caso não saiba como fazer estas modificações, poderá sempre contratar algum programador, ou empresa especializada, o que também irá ajudar fortemente a criar postos de trabalho.

De forma a resolver estes problemas existe uma solução simples, barata, e que ajuda todos no processo sem excepção. Esta solução é a de promover a utilização única e exclusiva de Software Livre no ensino público. Evitando assim os custos astronómicos associados a licenças de Software proprietários (Microsoft, Dell, HP entre outros), que obrigam as escolas a dependerem das mesmas para qualquer actualização e/ou resolução de problemas. Tal promoção se for estendida para as faculdades poderá ainda ser útil na contribuição e desenvolvimento de actuais e futuros programas livres. O estudo e contribuição desses códigos poderá também ser extremamente benéfico para os futuros Programadores e/ou Engenheiros Informáticos, para além de ser uma boa prática em si na contribuição ao trabalho da comunidade e ao ensino próprio.

E no que toca ao Hardware ?

Por fim, o tema do Hardware é ainda hoje um tema sensível. Hoje em dia podemos afirmar que não existe nenhuma solução 100% livre comercialmente disponível, e quando se fala em “livre” no âmbito do Hardware, fala-se do facto de ter um computador/telemóvel/… funcionando única e exclusivamente com software livre, isto desde a bios até ao sistema operativo passando pelos drivers e firmwares. Desta forma, e em termos de hardware, o que se fala mais são de “Freedom compatible hardware” ou Hardware compatível com a liberdade (de software) em Português, sendo um hardware que possui o necessário para fazer funcionar um Sistema Operativo livre sem a necessidade de instalar drivers/firmwares proprietários.

Em termos comerciais existem diversas empresas que vendem material compatível com o software livre, sabendo que nem todas têm como objectivo o único propósito do Software Livre, mas sim limitando-se a vender máquinas sem Sistemas Operativo ou similar. Dentro das empresas que promovem o Software Livre com a venda do seu material, podemos falar da já conhecida ThinkPenguin (USA) ou da recém criada LibreTrend (Portugal).

Com isto deixarei a cada um a possibilidade formar a sua opinião. De pesquisar mais um pouco se estiver interessado. E talvez até de experimentar, porque não, mais a fundo todo este mundo de liberdades informáticas, que poderão não parecer importantes no mundo de hoje (já repleto de problemas complexos de natureza não só económica), mas que é, a meu ver, um assunto de actualidade e de extrema importância, tanto para nós como utilizadores como para a nossa liberdade como humanos.

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