Desde o ano 2000 que a Google tinha um slogan muito interessante “Don’t be evil” ou, em português, “Não seja mau”. Este seu lema foi agora alterado, com as alterações ao seu código de conduta.
Essa exclusão pode parecer pequena, mas também pode ser vista como o mais recente sinal de que a Google pode estar a mudar as suas prioridades morais. E dado que a empresa agora fornece muito mais do que apenas respostas às nossas perguntas mais importantes (ou mais idiotas), essa alteração pode significar “problemas” para o futuro da humanidade.
Não damos conta de como “estamos nas mãos” destes gigantes, de como influenciam as nossas decisões do mais simples ao mais complexo pormenor da vida.
A Google é a mais poderosa máquina de influência da humanidade e isso é inegável quando tudo o que fazemos, direta ou indiretamente, passa pela gigante “outrora” das pesquisas. Deixamos aqui três sinais que mostram que a Google está a mudar de atitude.
Projeto Maven
A humanidade já se habituou a ter uma avaliação muito ampla sobre o que é o bem e o que é o mal. De pessoa para pessoa, as opiniões e ações morais variam, o que para uma é justiça, para outra é a injustiça, por vezes bastam simples atitudes.
Usar tecnologia para matar pessoas é por um lado condenável, mas por outro lado, há meios que justificam os fins. É aqui que cabe o mais recente projeto da Google.
No passado mês de março, surgiram notícias que davam conta que a Google estava a ajudar o Departamento de Defesa dos EUA com o Projeto Maven, uma iniciativa para construir drones artificialmente inteligentes para usar em cenário de guerra. Milhares de funcionários da Google protestaram contra a parceria e criaram uma petição. Alguns, na semana passada, até se demitiram em protesto a esta “aliança” da Google.
Apesar dos protestos, a Google não abandonou o desenvolvimento do Projeto Maven e, como os funcionários disseram ao Engadget, a empresa parece estar cada vez mais interessada em operações militares e menos interessada no que os seus funcionários pensam.
Inteligência Artificial falaciosa
Mentir é outra área moral e cinzenta, e é uma das que a Google parece estar mais confortável a navegar. Os funcionários não só referiram ao Engadget que a Google não era tão transparente quanto antes, como também apontaram o relacionamento da empresa com o público.
No início deste mês, a empresa demonstrou o novo recurso Google Duplex, recorrendo à dita evolução do seu Google Assistente, uma nova filosofia de tecnologia inteligente que demonstrou poder fazer chamadas sem que o interlocutor do outro lado desse conta que não era uma pessoa a ligar.
A Internet, dias depois, recorrendo a várias teses, deu conta de várias alegações de que a demo mostrada poderia ter sido falsificada. Segundo a opinião do website Axios, as chamadas poderão ter sido editadas. Para esta afirmação, a publicação realça o facto da pessoa do cabeleireiro ou do restaurante nunca se ter identificado ou ao negócio, como é habitual.
As experiências da Google parecem ter sido projetadas para enganar. Mesmo que eles não pretendam enganar, pode dizer-se que eles foram negligentes em não ter certeza de que não enganam.
Referiu Thomas King, investigador do Laboratório de Ética Digital do Instituto de Internet de Oxford.
O Registo pessoal
Na semana passada, o The Verge teve acesso a um vídeo que circula internamente na Google desde 2016 intitulado “The Selfish Ledger“, o vídeo retrata um futuro em que a Google não apenas recolhe dados sobre os utilizadores, mas usa esses mesmo dados, em última análise, com o objetivo de controlar o comportamento das pessoas.
O site entrou em contato com a Google para que esta pudesse comentar. Um porta-voz não negou o fator assustador, mas afirmou que a coisa toda era meramente teórica:
Entendemos que isso é perturbador – é projetado para ser. Esta é uma experiência mental da equipa de Design de há uns anos atrás que usa uma técnica conhecida como “design especulativo” para explorar ideias e conceitos desconfortáveis para provocar discussão e debate. Não está relacionado a nenhum produto atual ou futuro.
Ainda assim, não é difícil ver como a Google poderia tecnicamente criar o Selfish Ledger, uma espécie de registo pessoal. Além disso, o vídeo observa que o objetivo seria alinhar as ações das pessoas com os “valores da Google”, como a sustentabilidade ambiental. Se os valores da Google mudaram, a direção em que o projeto orienta os utilizadores… também mudou!
A Google é um mundo de soluções, de mecanismos capazes de tudo para uma empresa visa o lucro. É uma organização que tem ações de grande solidariedade, de evolução da espécie e está permanentemente a orientar o seu desenvolvimento para enriquecer esta aldeia global, mas o mundo muda constantemente pelas mãos destas gigantes, como já tivemos provas substanciais este ano.
Com tanto poder, se um dia a Google mudar mais que o slogan e deixar para trás o “não sejas mau”, provavelmente não haverá muito que consigamos fazer para travar um comportamento destrutivo.