A tecnologia evolui à escala dos 2 nanómetros nos chips, com o mundo a produzir dados como nunca. O armazenamento deriva para a cloud, para datacenters no fundo do mar… mas a disquete, sim, aquele disco guardado num envelope plástico, continua viva. E dificilmente irá morrer na próxima década. Sabe por quê?
Máquinas industriais com disquetes, há? Há, muitas!
Há uns anos, num cliente, abordava uma nova secção que a empresa em causa havia comprado a uma terceira: tecelagem. A ideia era manter os teares a funcionar, mesmo os mais antigos. Só que os antigos exigiam que houvesse uma máquina para gravar os desenhos numa disquete, que depois alimentava o próprio tear.
Ainda hoje a mecânica existe, apesar de paulatinamente estes teares estarem a sair do ativo. Mas tão cedo a empresa não terá tudo substituído, a disquete aqui não morre nos próximos anos.
Assim, a maioria das empresas que ainda usa disquetes são pequenas empresas ou empresas com margens apertadas que, simplesmente, nunca atualizaram os seus equipamentos ou acharam muito caro fazê-lo.
Apesar deste exemplo anterior ser de equipamento de produção, antiquado e com um nível de serviço de baixa produtividade, há outros exemplos que são de alto risco, desempenho e funcionalidade. Retirados alguns exemplos de uma publicação e indo ao encontro de outras que no passado já deixámos, a verdade é que a disquete ainda é usada em muitas partes críticas do planeta.
Aviões atualizados com esta tecnologia? Sim, há!
Segundo é referido, o responsável de manutenção da Geosky, uma companhia aérea de carga com sede em Tbilisi, Geórgia, ainda usa disquetes para aplicar atualizações críticas a dois 747-200 de 36 anos, originalmente entregues à British Airways em 1987.
Quando uma atualização é lançada, precisamos descarregá-la para duas disquetes de 3,5 polegadas. Como já não há computadores com unidades de disquete integradas, tivemos de adquirir uma drive externa. Depois levamos os discos para a aeronave para atualizar o sistema de gestão de voo. A operação leva cerca de uma hora.
Explicou Davit Niazashvili, o responsável de manutenção da Geosky.
As atualizações contêm dados essenciais, como alterações em pistas e auxílios à navegação, e são divulgadas a cada 28 dias de acordo com um cronograma global fixo que já está definido até 2029.
Disquetes no arsenal nuclear dos EUA? Sim, era uma realidade
Atualmente, existem cerca de 20 Boeing 747-200 que permanecem em serviço em todo o mundo, e apenas em configurações militares ou de carga. A Força Aérea dos EUA opera seis, dois deles como Força Aérea Um.
Sobre o uso de disquetes noutras áreas militares, não está claro se ainda é uma realidade. Contudo, até há bem poucos anos, e falámos até 2019, os militares dos EUA empregaram as disquetes de 8 polegadas ainda mais antigas no seu arsenal nuclear.
Vários outros tipos de aeronaves comerciais também usam disquetes, incluindo variantes mais recentes do 747 e do 767, Airbus A320s mais antigos e alguns jatos executivos, como os Gulfstreams construídos até a década de 1990.
É possível atualizar de disquetes para pens USB, cartões SD ou até mesmo transferência sem fio, mas isso pode custar milhares de dólares – e significa fazer uma alteração em algo que, embora arcaico, é conhecido por funcionar.
Existem alguns outros estranhos becos sem saída evolucionários aos quais nos encontramos presos porque tudo tem que se curvar aos deuses da confiabilidade na aviação. Ainda usamos cartões PCMCIA e discos Zip, que também são cada vez mais difíceis de encontrar. Temos ciclos de design muito mais longos que parecem sempre estar a ficar para trás dos dispositivos de consumo, mas estamos a alcançar.
Disse Brian Ford, da ACI Jet, uma empresa de manutenção de aeronaves com sede na Califórnia.
Além destas máquinas, o mundo industrial está carregado de equipamento, antigo, que não pode dispensar a disquete. Por exemplo, ainda estão no ativo muitas máquinas de bordar, máquinas CNC, entre outros.
A título de exemplo, a empresa americana PLR Electronic tem na sua lista de equipamentos a funcionar com disquetes que vão desde teares, consolas de iluminação de palco, impressoras de placas de circuito, osciloscópios, impressoras digitais, eletrocardiógrafos, analisadores de sinais vetoriais, máquinas de moldagem por injeção, máquinas de curvar tubos e canos, serras em cubos, cortadores de fio, cortadores de plasma, prensas de metal, mesas de som, instrumentos musicais como pianos e teclados, entre outros equipamentos.
Marinha alemã ainda utiliza disquetes de 8 polegadas em quatro navios de guerra
As fragatas F123 da Marinha alemã usam disquetes para os seus sistemas de aquisição de dados a bordo (DAQ). Segundo um blogue alemão, que escreve sobre política de defesa e segurança, os DAQ são importantes para controlar as fragatas, incluindo a produção de energia, “porque os parâmetros de funcionamento têm de ser registados”, segundo uma tradução do Google. Os navios são especializados na guerra antissubmarina e na defesa aérea.
No início deste mês, o jornalista responsável pelo blog Augen geradeaus! detetou um concurso público publicado a 21 de junho pelo Gabinete Federal de Equipamento, Tecnologia da Informação e Apoio em Serviço da Bundeswehr (BAAINBw) para modernizar as quatro fragatas F123 da Marinha alemã. Os navios entraram em serviço de outubro de 1994 a dezembro de 1996.
Segundo a agência noticiosa alemã Heise, o uso continuado de disquetes de 8 polegadas, apesar de existirem alternativas modernas há anos, “tem a ver com o facto de os sistemas estabelecidos serem considerados mais fiáveis”.
Comboios de São Francisco ainda são “geridos” por disquetes
Reportado pela Agência de Transportes de São Francisco, o sistema de controlo dos comboios da cidade foi implementado em 1998 e nunca mais foi atualizado. Como tal, para evoluir um sistema que ainda recorre às velhas disquetes demorará uma década e custará centenas de milhões de dólares.
A Agência Municipal de Transportes de São Francisco (SFMTA) instalou o atual sistema de controlo de comboios da cidade em 1998 e as disquetes, como acabámos de ver, são uma parte fundamental da sua infraestrutura. É surpreendente que, apesar dos inúmeros avanços na computação nas últimas duas décadas e meia, uma instalação tão importante continue a utilizar um meio de armazenamento tão antigo, mas continua.
O bom funcionamento dos comboios de São Francisco depende de algumas disquetes.
Há milhares e tipos de dispositivos ainda com “floppy disk”
Empresas como a PLR são procuradas para se conseguir atualizar os sistemas por forma a deixar as disquetes em favorecimento de sistemas mais recentes, como as pens USB. O problema por vezes está nas alterações que são caríssimas, coisas simples que podem custar milhares de euros e as empresas não têm margem para estas atualizações de equipamentos que podem estar na eterna lista de modernização.
Assim, a disquete pode nunca realmente morrer.
Existem pessoas no mundo que ainda estão ocupadas a encontrar, a reparar e a manter fonógrafos de 1910, então é muito difícil acreditar que a disquete vai desaparecer completamente.
Disse Lori Emerson, professor da University of Colorado Boulder e fundador do Media Archaeology Lab.
Existe software que tenta substituir de forma transversal a necessidade da “drive A:”, como seguramente devem conhecer aplicações do tipo Virtual Floppy Drive. Portanto, se tem as suas, guarde, ainda poderão a fazer falta e render-lhe uns euros!