Por Francisco Franco para o PPLWARE.COM Todos nós conhecemos o Windows Mobile dos tempos dos PDA, aqueles tijolos enormes com ecrãs horríveis e com interacção usando uma caneta…mas isso era numa altura em que a palavra “smartphone” era praticamente desconhecida ao público.
Volvidos alguns anos, são já poucos os utilizadores que não têm um Android ou um iPhone. E um Windows Mobile? Será que a nova versão Mango está aqui para ficar e para roubar utilizadores às outras duas plataformas móveis? Depois das primeiras impressões sobre o HTC Radar (ver aqui), hoje apresentamos uma análise mais aprofundada por alguém especialista na modificação de kernels Linux para arquitectura ARM.
O HTC Radar é um dos primeiros telemóveis no mundo a vir com o Windows Phone 7.5 de raiz, o tal Mango, e veio para substituir o HTC Trophy e o HTC Mozart. Vem equipado com um S-LCD de 3’8 polegadas com uma resolução de 800×480. Este ecrã é bastante nítido e definido, algo que me surpreendeu pela positiva pois já tinha estado em contacto com este tipo de ecrãs e este foi sem dúvida o melhor LCD com que me deparei. Mesmo a nível de cores está fantástico. Apesar de não estar ao nível de um AMOLED ou um Super AMOLED, a Microsoft está de parabéns pelo trabalho de refinamento das cores deste ecrã.
Vem também com um CPU Scorpion a 1 Ghz e uma Adreno 205 como GPU. São especificações algo modestas tendo em conta a altura do seu lançamento e tendo também em conta que os dual cores ou mesmo single cores a frequências superiores já estão disponíveis há algum tempo. Posso arriscar em dizer que em termos de hardware este dispositivo está com um ano de atraso…algo lamentável tendo em conta que a Microsoft pretende ganhar utilizadores e solidificar a sua quota de mercado.
O Radar vem equipado com 512MB de RAM e com 8GB de memória interna. Infelizmente não tem slot para um cartão SD, e com apenas 6,5GB livres para o utilizador usar a sua vontade esta vai de certeza um factor importante na hora da decisão de comprar ou não este terminal. Uma má opção por parte da Microsoft.
Passando a parte do hardware, em termos de qualidade de construção é fantástico, muito semelhante ao nosso conhecido HTC Desire. Eu como gosto de dispositivos pesados fiquei muito feliz quando peguei nele pela primeira vez. Claro que esta sensação varia de pessoa para pessoa, pois há quem prefira telemóveis mais leves, mas neste caso acho perfeito já que o terminal é algo pequeno devido ao tamanho do seu ecrã. Este tipo de construção tem um problema para mim, como tenho uma pele algo áspera o facto da traseira ser de metal o telemóvel escorrega muito facilmente e por duas ou três vezes esteve na iminência de cair.
O dispositivo vem com todas as tecnologias já habituais hoje em dia como 3G, Wi-Fi, Bluetooth e GPS, e tem a já nossa conhecida jack de 3,5mm para os nossos headphones. O sinal de rede no Radar é surpreendentemente agradável, não tive qualquer problema durante o tempo que tive o telemóvel, muito pelo contrário, em certos espaços do meu apartamento não tenho rede com os meus Androids, e com este dispositivo conseguia apanhar rede em todas as divisões. Não tem NFC, mas isso já era de esperar, ainda é uma tecnologia muito recente e muito pouco suportada em todo o mundo.
Em termos de som, é um dispositivo normal, não é mau mas também não deslumbra como por exemplo um Nexus S com Voodoo Sound.
Vem também com uma câmara de 5MPX que grava a 720p. Não deslumbra mas faz o essencial, apesar de em ambientes com pouca luz a qualidade deixar algo a desejar.
Software e user interface – Mango
O HTC Radar foi a minha primeira experiência com o Windows Mobile, portanto comparar a versão 7.0 com esta 7.5 é um bocadinho difícil. Mais importante do que focar 50 mil aspectos técnicos com nomes estranhos, não há nada melhor do que expor a minha experiência e utilização real.
Logo após ligar o telemóvel houve algo que não gostei – tive que esperar 5-10 minutos para que o sistema ficasse a instalar programas. Não entendo qual o objectivo da Microsoft, ninguém gosta de esperar, quanto mais quase 10 minutos. Por exemplo no Android quando se liga um dispositivo pela primeira vez se este ficar 2 minutos a reconstruir o cache da dalvik machine já é muito.
Passado esse período a primeira coisa que me chamou à atenção foi a disposição do home screen e as cores que contrastam firmemente com o fundo preto. Apesar de já ter visto este cenário nos vários Windows Phones, nunca pude admirar com atenção os pequenos pormenores do Metro UI. A fluidez é incrível para um dispositivo com um SoC (system on a chip http://en.wikipedia.org/wiki/System_on_a_chip) tão antigo como este. A transição entre os menus é algo de muito intuitivo e que é feita sem ter que pensar muito.
Passado o “choque” inicial da fluidez do sistema, começa-se a configurar o telemóvel para as nossas necessidades. A primeira tarefa que fiz foi adicionar as minhas contas de hotmail, gmail, twitter e facebook, e para meu espanto, após todas as sincronizações, todas as contas estavam ligadas ao mesmo tempo!! No mesmo ecrã eu podia ver todas as notícias e novidades relativas às minhas contas todas, tudo num só feed, sem ter que andar de menu em menu. Claro que se pode escolher qual o serviço que se quer activo no feed. Se eu quisesse o Facebook era só escolher, e o mesmo para todos os outros serviços que tinha activo. Isto é algo que falta ao Android. A integração das redes sociais com o Mango é algo fantástico, e algo que eu nunca tinha experimentado. Tanto tinha todos os chats ligados no mesmo menu como se fosse só uma conta, como podia ver todas as fotos do Facebook, como as do Twitter, como as do Hotmail. Para mim esta é sem dúvida uma mais valia para a compra deste dispositivo, ou um outro Windows Phone com o Mango.
Outro aspecto que me surpreendeu foi a inclusão do Internet Explorer 9. Como se sabe a Microsoft tem vindo a percorrer um caminho interessante no que toca ao seu browser nos últimos anos depois do fiasco que foi a versão 6 em termos de segurança e velocidade, mas apesar disso o IE 9 nos desktops ainda está algo longe dos seus rivais Firefox e Chrome, mas será que neste sistema operativo é uma mais valia? A resposta é muito simples: SIM! Até ter experimentado o browser nativo do do Android 4.0, este IE 9 tinha sido o browser mais rápido e mais fluído que já tinha usado até hoje (em dispositivos móveis claro), portanto foi uma agradável surpresa. Mesmo não tendo suporte para Flash (suporte cada vez mais inútil hoje em dia tendo em conta os desenvolvimentos do HTML5), é um browser 5 estrelas, e é acelerado por hardware, um dos seus pontos fortes.
Passando para outros domínios a integração do Office também está óptima, e tem um aspecto gráfico submile. O único aspecto do Office que não entendi foi o facto de não ter suporte para criação de apresentações Power Point. Das duas uma, ou foi lapso meu, ou lapso da Microsoft pela não inclusão de criação de .ppts.
A aplicação para fazer uso do GPS é fantástica, muito rápida e sem qualquer tipo de abrandamentos no seu uso. Apesar de não dar muito uso a este tipo de funcionalidade no meu Android, dei por mim a usá-lo neste dispositivo.
O Mango também tem integração com a nossa conta do Xbox Live. Como não tenho Xbox não foi possível testar esta funcionalidade com rigor, mas fica a menção da sua existência.
O Marketplace é um pouco fraco. As aplicações gratuitas que experimentei eram horríveis, com qualidade muito abaixo do aceitável, e aplicações como Angry Birds que no Android são grátis, aqui tem que se pagar, e não é pouco. Não entendo esta política, ainda por cima sendo um sistema operativo com pouca quota de mercado não é assim que vão cativar mais utilizadores.
Uma das novidades deste Mango é sem dúvida a introdução do multi-tasking. Esta funcionalidade tão bem presente no Android, e muito aperfeiçoada no Ice Cream Sandwich era indispensável e é uma mais valia gigante neste update da Microsoft. Para aceder ao multi-tasking basta ficar a pressionar no símbolo da Microsoft (chamado de soft button que se encontra na parte mais abaixo do ecrã) durante alguns segundos para aparecer um conjunto de aplicações e menus antes visitados pelo utilizador. Não funciona tão bem como o multi-tasking do Android, pois nem sempre mostra todas as acções realizadas por nós, mas é um começo.
O Radar vem também com alguns programas da HTC. Não lhes dei muita utilização para ser sincero, apesar de serem um pouco lentas, na minha opinião não acrescentavam muito ao sistema. Mas esta opinião varia sem dúvida de pessoa para pessoa.
Nem tudo é um mar de rosas neste dispositivo. Um dos seus maiores problemas é o facto de não ter uma bateria removível. Se o telemóvel bloquear temos um grande problema. Não sei se estive a usar uma versão de produção, mas o dispositivo que tive a oportunidade de testar tinha um bug terrível: cada vez que eu fazia uma chamada o ecrã ficava totalmente preto e não havia maneira de sair dali sem ser a outra pessoa desligar a chamada. Eu pesquisei e de facto existe um menu que aparece quando se está numa chamada, podendo terminar a chamada, trocar para altifalante etc, mas no meu caso tive grandes problemas com isso, pois o ecrã ficando todo preto chegou me a bloquear algumas vezes e sem poder tirar a bateria das duas uma, ou eu carregava em todas as teclas possíveis e imaginárias para o Radar reiniciar ou então tinha de esperar que ficasse sem bateria. Espero que não seja um bug presente nas versões comerciais, pois se o for é gravíssimo.
Outro problema com que me deparei foi o facto de não conseguir aceder aos conteúdos do cartão de memória do HTC a partir do meu Linux. Como eu só uso Linux no meu pc, foi realmente um grande problema só resolvido com uma virtual machine.
A nível de bateria é fantástico. Dois dias de uso normal e não tive de o carregar uma só vez. E ainda por cima tem uma funcionalidade mesmo direccionada para a poupança da bateria e que depois de activada consegue aumentar a vida desta por umas boas horas. Também mostra as suas a sua estimativa de quantas horas ainda tem de carga, algo sem dúvida muito agradável.
Veredicto final
Não há muito mais a dizer acerca deste dispositivo. Tem as suas limitações em termos de software, como por exemplo a falta de Dropbox (hoje em dia não há informático que não use este serviço), e nem mesmo com as aplicações da HTC há maneira de salvar este problema.
Este dispositivo é principalmente direccionado a utilizadores que queiram um sistema que funcione sem se ter que andar a flashar roms e kernels a toda a hora. É rápido, é fluído, tem uma óptima bateria, é muito direccionado às redes sociais, tem todas as outras funcionalidades inerentes a todos os telemóveis, e trata-as bem.
Perde essencialmente por não ter grande suporte a nível de aplicações, que é onde o Android e o iOS ganham com uma GRANDE margem.
A Microsoft fez um grande trabalho com este update Mango em relação à versão 7.0, por isso a expectativa é muito grande para updates futuros. Veremos o que o futuro nos trará.