O título tem muita verdade à luz do poder tecnológico inserido num carregador moderno face à capacidade do computador que levou ao Espaço a nave Apollo 11. Assim, nas comemorações do 50.º aniversário do pouso na Lua, amplamente badalado no ano passado, recaiu sobre o Apollo Guidance Computer (AGC) um particular alvo de interesse. Afinal, qual será o poder dos chips usados nos smartphones comuns em comparação com os computadores que nos levaram à Lua?
Esta informação é muito interessante, mostra-nos o fantástico salto tecnológico que podemos ambicionar ver nos próximos 50 anos.
Carregador de telemóvel é mais potente do que o computador da Apollo 11
Forrest Heller, um engenheiro de software da Apple, fez uma comparação interessante entre os chips muito mais básicos dos normais carregadores USB-C, e o AGC. Basicamente, o engenheiro olhou com atenção ao detalhe do computador da Apollo 11. Surpreendentemente, chegou à conclusão que os chips modestos dos carregadores podem facilmente andar lado a lado com o computador que nos levou à Lua.
Claro que temos de ser realistas e colocar cada tecnologia enquadrada no seu uso previsto. Assim, foram feitas algumas advertências.
Para começar, como é natural, nenhum carregador USB-C no mercado foi concebido para sobreviver a viagens espaciais. Depois, dado o enorme mercado dos carregadores, também não foram vasculhadas as características de muitos para os comparar ao computador da nave dos anos 60, até porque as tensões da década de 1960 eram muito diferentes do que hoje temos nesses dispositivos.
Além disso, não podemos esquecer que o AGC tem uma classificação espacial, onde o preço da falha é alto. Nesse sentido, o computador possui muita redundância incorporada (executa cada cálculo três vezes). Bom, toda essa redundância ficou à parte nas conclusões finais (embora ele possa voltar ao assunto).
Então, como se podem comprar os dois?
Segundo a linha de investigação do engenheiro da Apple, analisou três carregadores USB-C e, finalmente, escolheu o mais poderoso. Assim, para termo comparativo, foi escolhido o Anker PowerPort Atom PD 2 e o seu chip Cypress CYPD4225, para levar a cabo a sua experiência mental.
Tendo em conta as décadas que separam uma da outra, a comparação não é nada direta. Grande parte do trabalho de Heller está na conversão. Dessa forma, o engenheiro descobriu que a CPU no carregador Anker é 563 vezes mais rápido que o Computador de Orientação Apollo 11.
Contudo, observa Heller, o que é impressionante não é a velocidade. Os cientistas da NASA optaram pela memória acima da velocidade. Um pequeno atraso valia a capacidade de carregar um programa maior e mais útil. Ou seja, a capacidade do computador supera a velocidade.
As grandes diferenças entre dispositivos está na memória. O modelo da Anker vem equipado com 8 kB de RAM e 128 kB de armazenamento Flash, enquanto o computador da Apollo 11 traz, respetivamente, 4 kB e 72 kB.
Nesta fase, Heller descobriu que os dois são um pouco mais comparáveis.
O carregador Anker PowerPort Atom PD2 possui um pouco mais de duas vezes a RAM e pode armazenar até 1,78 vezes mais instruções que o AGC. Isso significa que, embora nenhum carregador que compre por aí mande astronautas para a Lua, em teoria, com este dispositivo é possível carregar um pacote de software equivalente ao usado para executar as tarefas exigidas à sonda Apollo.
Com todas estas ressalvas, Heller conclui que qualquer um mortal atualmente precisaria apenas da capacidade de computação de quatro desses carregadores Anker USB-C. Assim, um seria para cada um dos três computadores nos módulos de comando lunar e um outro para o computador que usa o foguetão Saturno V. Depois disto, aperte o cinto, que já pode ir até à Lua.
Mas estará a desprestigiar o Computador de Orientação Apollo?
Nunca. Aliás, o AGC foi incrível. Para termos uma noção do poder deste computador é importante referir que este foi um dos primeiros e mais significativos computadores a usar chips de circuito integrado de silício. Conforme sabemos, esta é a mesma tecnologia básica por detrás dos chips que usamos hoje.
Além disso, o AGC tinha o tamanho de algumas caixas de sapatos quando os computadores eram salas cheias de tubos de vácuo. E mais, sem o AGC, nenhum piloto humano poderia manter a nave Apollo a caminho da Lua e voltar. Provavelmente, o mais incrível foi o quanto ele fez com o tão pouco. Aliás, se pensarmos bem, olhamos para um “carregador estúpido” e pensamos, como tanta tecnologia é disponibilizada para fazer tão pouco!
Este é o busílis da comparação
No fundo, o que foi deixado por esta pequena investigação é a tecnologia usada há mais de 50 anos em comparação do que usamos hoje. Naquela época, os computadores eram raros e cuidadosamente feitos à mão. Agora estes são uma mercadoria.
Nesse sentido, a tecnologia que hoje temos, que foi suficiente para levar o homem à Lua, cabe numa mão e custa apenas 50 euros… ou até menos.