Até agora, os especialistas não tinham encontrado uma forma de perceber se a morte de uma pessoa poderia ter sido causada por um relâmpago, devido à inexistência de tecido mole no seu corpo. Então, contornando o problema, um grupo de investigadores encontrou nos ossos uma forma de identificar as vítimas mortais deixadas pelas descargas de energia.
Aparentemente, os restos do esqueleto humano são suficientes, tendo em conta uma marca única deixada pelo fenómeno.
Segundo a University of the Witwatersrand, Johannesburg, na África do Sul, os relâmpagos mortais são um fenómeno muito comum, não só entre os animais selvagens e o gado, mas também entre as pessoas. Aliás, as alterações climáticas são apontadas como um fator de risco para o aumento da gravidade e incidência das ocorrências.
Por exemplo, na Índia, acredita-se que a crise climática desencadeou uma panóplia de mortes provocadas por relâmpagos. Anualmente, em todo o mundo, estima-se que morrem cerca de 24.000 pessoas vítimas de relâmpagos.
Para identificar a causa dessas mortes, os especialistas dependem da deteção do padrão traumático nos tecidos moles, como os órgãos ou a pele. Contudo, segundo a Wits University, quando se tem à disposição apenas os restos mortais de uma vítima suspeita, “a morte por relâmpago não pode ser atribuída”.
Relâmpagos deixam marcas únicas nos ossos das vítimas
Num novo estudo levado a cabo por uma equipa multidisciplinar de investigadores da Wits University, da Northumbria University e da South African Nuclear Energy Corporation (NECSA), foram procurados vestígios traumáticos de um relâmpago nos ossos do esqueleto humano.
Para isso, os investigadores geraram raios artificias, em ambiente de laboratório, e direcionaram-nos a amostras de ossos humanos – estes que foram doados por pessoas que morreram de causas naturais.
Gerar correntes de impulso tão elevadas permitiu-nos imitar o efeito de um raio que passa através do esqueleto. Os relâmpagos naturais podem muitas vezes ter níveis de corrente significativamente mais elevados, mas esta configuração experimental deu-nos muito mais controlo do que tentar de alguma forma colocar tecido humano no caminho de um relâmpago natural.
Escreveram Patrick Randolph-Quinney, Nicholas Bacci e Tanya Nadine Augustine, num artigo de opinião no website da Wits University.
No vídeo, o relâmpago artificial produz uma corrente de alto impacto e atravessa a amostra de osso humano. Posteriormente, os investigadores cortaram essa amostra óssea em fatias finas e observaram-nas através de microscopia ótica e micro-CT.
Aí, os investigadores detetaram um padrão de danos “exclusivamente causado por uma corrente de relâmpagos de curta duração que atravessa as células”. Além disso, explicaram que o “padrão geral dos danos pareceu muito diferente quando comparado com outros traumas de intensidade energética, tais como o causado pela queima no fogo”.
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