O Telescópio Espacial James Webb (JWST) voltou a superar o seu próprio recorde, ao identificar a galáxia mais distante já observada. A nova candidata é a MoM-z14, visível apenas 280 milhões de anos após o Big Bang.
Descoberta da galáxia MoM-z14 empurra limites da observação cósmica
Segundo um estudo publicado a 23 de maio na plataforma científica arXiv, esta galáxia é “a fonte espectroscopicamente confirmada mais distante até à data, levando a fronteira da observação a meros 280 milhões de anos após o Big Bang”.
Ou seja, a luz da MoM-z14 foi emitida nesse período primordial e, após uma longa viagem pelo cosmos, está agora a chegar à Terra e a ser captada pelos sensores infravermelhos do JWST.
É bastante entusiasmante. Confirma que existem realmente estas galáxias muito brilhantes no universo.
Comentou Charlotte Mason, astrofísica da Universidade de Copenhaga, à New Scientist.
Desde que entrou em funcionamento em 2022, o JWST tem detetado mais galáxias brilhantes e antigas do que o esperado, desafiando as teorias existentes sobre os primórdios do universo.
Esta população inesperada eletrificou a comunidade científica e levantou questões fundamentais sobre a formação galáctica nos primeiros 500 milhões de anos após o Big Bang.
Escreveram os autores do estudo.
A equipa liderada por Rohan Naidu, astrofísico do MIT, examinou imagens anteriores do JWST em busca de galáxias iniciais e identificou a MoM-z14 como um alvo promissor. Em abril de 2025, o telescópio foi então apontado para o objeto.
Investigadores confirmam redshift recorde e levantam novas questões
Uma das formas de medir a antiguidade de um objeto astronómico é através do seu desvio para o vermelho (redshift). Quanto mais distante estiver o objeto, maior é o alongamento da sua luz, deslocando-se para comprimentos de onda mais vermelhos.
No novo estudo, ainda não revisto por pares, foi confirmado que a MoM-z14 apresenta um redshift de 14,44 — superior ao recorde anterior, da JADES-GS-z14-0, com 14,18.
Apesar de emitir grande luminosidade, a MoM-z14 é bastante compacta: tem cerca de 240 anos-luz de diâmetro, o que a torna 400 vezes mais pequena que a nossa galáxia. A sua massa é comparável à da Pequena Nuvem de Magalhães, uma galáxia-anã satélite da Via Láctea.
Foi observada numa fase de intensa formação estelar e apresenta uma abundância de nitrogénio relativamente elevada face ao carbono, característica semelhante à dos enxames globulares da Via Láctea.
Estes agrupamentos antigos e densos de estrelas são considerados alguns dos objetos mais velhos do cosmos próximo. A semelhança poderá indicar que a formação estelar já ocorria da mesma forma nessa fase tão precoce da história do universo.
O universo está em expansão e esta expansão estica a luz que viaja pelo espaço, num fenómeno conhecido como desvio para o vermelho cosmológico (cosmological redshift). Quanto maior for o desvio para o vermelho, maior é a distância que a luz percorreu. Como resultado, são necessários telescópios com detetores de infravermelhos para ver a luz das primeiras galáxias, as mais distantes.
Embora ainda haja mais galáxias com alto redshift por confirmar, os cientistas esperam descobrir muitos mais candidatos com o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, previsto para lançamento até maio de 2027.
Contudo, o JWST poderá voltar a bater o seu próprio recorde antes disso.
O próprio JWST parece estar prestes a impulsionar uma série de grandes expansões na fronteira cósmica. Redshifts antes inimagináveis, aproximando-se da era das primeiras estrelas, já não parecem tão distantes.
Referiram os autores.
A questão que se coloca agora é: até onde pode o Telescópio Espacial James Webb “olhar”?