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Os termómetros de rua são inúteis e só desinformam

Com esta vaga de calor a assolar a Europa em geral, um dado que tem servido de “medidor” da problemática ambiental é a temperatura máxima atingida num país ou em determinadas zonas. Por exemplo, no recorde de Portugal está a Amareleja, localidade historicamente mais quentes em Portugal. Aliás, o recorde da temperatura máxima mais alta no nosso país, 47,3 °C em 2003, foi registada lá.

Contudo, todos os dias somos enganados pelos termómetros de rua. Nunca está tão quente como nos mostram.


A informação, partilhada pelo site La Vanguardia, espelha perfeitamente a realidade também no nosso país. As notícias mostram-nos um ecrã com as regiões do país e a ênfase nas temperaturas extremas, nas pessoas a refrescarem-se nas fontes e lagos, com um acompanhar de dicas para lidar com a situação da melhor maneira possível.

Depois, para ilustrar de facto que está calor, lá aparecem uns termómetros de rua, sendo tudo menos precisos. Quase sempre este medidor de temperatura dá valores desproporcionais. E isso é fácil de ver, basta andar para uma rua ao lado e ver no termómetro da farmácia no seu exterior. Há logo uma diferença de 3 ou 4 graus (quando não é mais).

 

Então, porque é que confiamos nos termómetros de rua?

A pergunta, que é feita pela publicação, é interessante e leva-nos para a dimensão da nossa vontade de acreditar. Mas, na verdade, nunca o devemos fazer. E há 5 razões para não ligarmos a este tipo de informação que está incorreta.

1. Situação

Se andar por qualquer cidade, notará que a maioria dos termómetros está localizada em zonas ensolaradas. Algumas destas áreas ficarão ao sol durante pelo menos quatro a cinco horas; outras, no entanto, é provável que fiquem ao sol todo o dia. Estamos a começar mal: não parece que um dispositivo com tanta exposição horária ao sol possa dar uma temperatura muito fiável.

De facto, segundo o guia da Organização Meteorológica Mundial (OMM) para medir temperaturas em áreas urbanas, os termómetros devem ser mantidos bem longe de áreas que tenham qualquer exposição ao sol.

2. Materiais

Os materiais de que são feitos os termómetros urbanos podem variar dependendo das circunstâncias, mas são geralmente muito semelhantes.

A OMM estipula que, em condições ótimas, estes dispositivos devem ser feitos de materiais semelhantes à madeira e que a placa metálica que mede a temperatura do ar deve ser colocada dentro de um abrigo que permita uma ventilação adequada e constante.

Contudo, nos termómetros urbanos, o metal é frequentemente o material predominante, tanto no interior como no exterior. Além disso, a ventilação questionável dos abrigos tem sido sempre criticada por vários organismos climatológicos.

3. Sobreaquecimento

Como já vimos, as condições não parecem ideais. Um termómetro de cidade pode ser capaz de medir a temperatura com bastante eficácia de manhã cedo ou mesmo à noite, mas é evidente que a sua fiabilidade tenderá a ser zero quando estivermos nas horas mais quentes do dia.

E porquê? Perguntarão vocês. Bom, porque, mais cedo ou mais tarde, a situação física do termómetro e da sua composição acabará por conduzir ao seu sobreaquecimento. Por outras palavras, a partir de um certo ponto, o termómetro já não medirá a temperatura do ar na rua, mas a temperatura da sua própria placa metálica, que nessa altura já estará visivelmente mais quente do que o normal.

4. Cientificamente pouco fiáveis

Se voltarmos ao guia da OMM para analisar as temperaturas nas zonas urbanas e as compararmos com as características dos termómetros que conhecemos, veremos que o disparate é mais do que óbvio.

Enquanto a OMM requer medições em áreas não expostas ao sol, com termómetros devidamente construídos e abrigos devidamente equipados, os termómetros urbanos cumprem praticamente o oposto, o que significa que a sua validade científica para medir temperaturas é total e absolutamente inexistente.

5. O IPMA não mede a temperatura desta forma

A falta de fiabilidade das temperaturas marcadas por termómetros torna-se ainda mais evidente quando vemos que o próprio Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) nem sequer confia no método e é guiado por outros canais quando se trata não só de fazer previsões, mas também de identificar a temperatura num determinado momento.

O IPMA cumpre os requisitos da OMM. Não só nos materiais das suas estações de medição, mas sobretudo na sua localização. O facto é que o centro de uma cidade não parece ser o melhor lugar para avaliar com fiabilidade uma temperatura: há sol durante uma grande parte do dia, há edifícios altos nas proximidades, carros que poluem o ar, há asfalto… em suma, uma série de elementos que são contraproducentes quando se trata de analisar o clima.

O IPMA, contudo, tende a ir para áreas muito mais afastadas do centro. Acima de tudo, em locais fora da cidade ou perto de aeroportos, onde as condições de medição exigidas pela OMM podem ser facilmente reproduzidas.

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