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Marte: Cientistas gravam pela primeira vez o som de um diabo de poeira

Marte é um planeta que poderá ser pouso para os humanos ainda este século. Contudo, é preciso primeiro conhecer bem o planeta, e da “vida” que por lá mora. Não falamos de vida no real sentido da palavra, mas na atividade, nos acontecimentos, no borbulhar de fenómenos que existe no solo marciano.

Na procura deste conhecimento, os cientistas gravam pela primeira vez o som de um diabo de poeira marciano.


Sons de Marte que desvendam segredos

Quando o rover Perseverance pousou em Marte, lavou da Terra vários equipamentos onde constava o primeiro microfone em funcionamento à superfície do planeta. Os cientistas utilizaram-no para fazer a primeira gravação áudio de um redemoinho extraterrestre.

O estudo foi publicado na revista Nature Communications pela cientista planetária Naomi Murdoch e uma equipa de investigadores do ISAE-SUPAERO (Institut Supérieur de l’Aéronautique et de l’Espace) e da NASA. Roger Wiens, professor de ciências da Terra, atmosféricas e planetárias na Faculdade de Ciências da Universidade de Purdue, lidera a equipa do instrumento que fez a descoberta. É o investigador principal da SuperCam do Perseverance, um conjunto de instrumentos que compõem a “cabeça” do rover que inclui instrumentos avançados de deteção remota com uma vasta gama de espectrómetros, câmaras e o microfone.

Podemos aprender muito mais usando o som do que com algumas das outras ferramentas. Eles efetuam leituras a intervalos regulares. O microfone permite-nos gravar, não exatamente à velocidade do som, mas quase 100.000 vezes por segundo. Ajuda-nos a ter uma noção mais forte de como é Marte.

Disse Roger Wiens.

Os diabos de Jezero

O microfone não está ligado continuamente; grava durante cerca de três minutos a cada dois dias. A gravação do redemoinho, disse Wiens, foi fortuita, embora não necessariamente inesperada. Na Cratera Jezero, onde o Perseverance aterrou, a equipa observou evidências de quase 100 diabos de poeira – pequenos tornados de areia ou poeira. Esta é a primeira vez que o microfone estava ligado quando um passou pelo rover.

A gravação sonora do diabo de poeira, em conjunto com leituras da pressão de ar e fotografia “time-lapse”, ajudam os cientistas a compreender a atmosfera e a meteorologia marciana.

Conseguimos observar a queda de pressão, ouvir o vento, depois ter um pouco de silêncio que é o olho da pequena tempestade e depois ouvir novamente o vento e ver a pressão a subir. Tudo aconteceu em poucos segundos.

O vento é rápido – cerca de 40 quilómetros por hora, mais ou menos a velocidade de um fenómeno idêntico cá na Terra. A diferença é que a pressão do ar em Marte é tão baixa que os ventos, embora igualmente rápidos, empurram com cerca de 1% da pressão que um vento com a mesma velocidade teria no nosso planeta. Não é um vento poderoso, mas claramente o suficiente para levantar partículas para o ar e criar um diabo de poeira.

Explicou o professor de ciências da Terra na Faculdade de Ciências da Universidade de Purdue.

Ventos que limpam… mas também tapam

A informação indica que os futuros astronautas não terão de se preocupar com ventos de força bruta que sopram pelas antenas ou pelos habitats – sendo que os “Mark Watneys do futuro” não serão deixados para trás – mas o vento pode ter alguns benefícios. A brisa limpou grãos de areia dos painéis solares de outros rovers – especialmente do Opportunity e do Spirit -, o que os ajudou a durar tanto tempo.

Essas equipas assistiram a um lento declínio energético durante dias a semanas, e depois um salto positivo. Foi quando o vento limpou os painéis solares.

Tal como na Terra, há diferentes condições meteorológicas em diferentes áreas de Marte. A utilização de todos os nossos instrumentos e ferramentas, especialmente o microfone, ajuda-nos a ter uma noção concreta de como seria estar em Marte.

Concluiu Wiens.

A ausência de tais ventos e diabos de poeira em Elysium Planitia, onde a missão InSight pousou, pode ajudar a explicar a razão pela qual esta missão está quase a terminar.

 

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