Uma equipa de investigadores utilizou um algoritmo de pesquisa para encontrar dezenas de potenciais antibióticos naturais no corpo humano. Tendo em conta o aumento da resistência das bactérias aos antibióticos e a ameaça que isso representa, esta é uma descoberta muito promissora.
O estudo foi feito por investigadores da University of Pennsylvania.
As bactérias apresentam uma crescente resistência aos antibióticos que têm vindo a ser desenvolvidos ao longo dos anos, representando, por isso, uma ameaça à saúde pública que só tenderá a piorar. Isto, porque, por estarem em constante evolução, desenvolvem resistência aos medicamentos. Assim, infeções que eram outrora tratáveis, tornam-se mais agressivas e perigosas.
De acordo com as previsões, esta adaptação das bactérias aos antibióticos poderá causar 10 milhões de mortes por ano até 2050. Estando essa defesa a começar a dar sinais de fraqueza, os cientistas têm investido na procura de soluções.
Então, uma equipa de investigadores da University of Pennsylvania poderá ter descoberto novos antibióticos dentro dos próprios seres humanos. Aqueles utilizaram um algoritmo de pesquisa para encontrar dezenas de potenciais peptídeos antimicrobianos no corpo humano.
Corpo humano poderá conter antibióticos naturais
Para o novo estudo, os investigadores procuraram novos peptídeos antimicrobianos no corpo humano. Da mesma forma que são procuradas palavras específicas num documento escrito, os especialistas utilizaram um algoritmo para encontrar os peptídeos com propriedades antimicrobianas dentro do proteoma humano – a “biblioteca” das proteínas produzidas pelo corpo.
A equipa começou por procurar peptídeos antimicrobianos com características comuns: comprimento entre oito e 50 aminoácidos, carga positiva, e moléculas hidrofóbicas e hidrofílicas. Desta forma, encontrou 2.603 resultados e, como não tinham qualquer ligação ao sistema imunitário, a equipa apelidou-os de peptídeos “encriptados”.
Desses mais de 2.000 resultados, a equipa selecionou 55, e testou a sua eficácia contra oito bactérias patogénicas.
Verificámos que 63,6% destes 55 peptídeos encriptados apresentavam atividade antimicrobiana. Curiosamente, estes peptídeos não só combateram a infeção por algumas das bactérias mais nocivas do mundo, como também visaram organismos comensais do intestino e da pele que são benéficos para nós. Especulamos que isto poderia ser indicativo de um papel modulador da macrobiótica que estes peptídeos também podem possuir.
Disse César de la Fuente, investigador principal do estudo.
Os peptídeos antimicrobianos revelaram-se ainda mais eficientes quando agrupados com outros da mesma região do corpo humano, tendo os investigadores detetado um aumento do seu potencial em 100 vezes. Mais do que isso, em testes realizados em ratos, a equipa percebeu que os peptídeos que descobrira tinham um desempenho tão bom quanto os antibióticos existentes, sem quaisquer sinais de toxicidade.
Posteriormente, os investigadores examinaram se os peptídeos encriptados iriam influenciar as bactérias a criar mais resistência.
O que descobrimos foi que estas moléculas encriptadas atacam as bactérias permeando as suas membranas externas, uma organela essencial para a sobrevivência. Esta permeação da membrana exigiria uma grande quantidade de energia e múltiplas gerações de mutações para criar resistência nas bactérias, indicando que estes peptídeos recentemente descobertos são bons candidatos a antibióticos sustentáveis.
Explicou César de la Fuente.
Para os investigadores, este estudo pode desencadear descobertas de novos antibióticos naturais, que serão cada vez mais importantes no combate à resistência das bactérias.
O estudo completo foi publicado aqui.
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