A água fria tem conquistado, nos últimos anos, entusiastas do bem-estar, atletas e investigadores. Desde os mergulhos gelados no mar aos duches frios em casa, esta prática parece ter potencial para melhorar a saúde das pessoas. Mas será a água fria realmente benéfica?
Pelas redes sociais, já deve ter visto pessoas, sejam elas atletas ou entusiastas do bem-estar, a mergulhar em água gelada ou a promover os duches desconfortavelmente frios. Com o potencial de bem-estar que está associado a estas práticas, importa perceber se elas são realmente benéficas.
Por isso, num novo estudo, uma equipa de investigadores da University of South Australia (UniSA) procurou percebê-lo, por via da mais completa revisão sistemática e meta-análise do género.
Os investigadores analisaram dados de 11 estudos que envolveram 3177 participantes, estudando a forma como a imersão em água fria influencia os seguintes parâmetros:
- Níveis de stress;
- Qualidade do sono;
- Qualidade de vida em geral.
De ressalvar que a imersão em água fria consiste em submergir o corpo em água com temperaturas que variam normalmente entre 10 e 15 graus Celsius.
Os resultados sugerem que a imersão em água fria pode, de facto, ter efeitos positivos. Contudo, mostram que estes benefícios são frequentemente de curta duração e altamente dependentes do contexto.
A imersão em água fria tem sido amplamente investigada e utilizada em contextos desportivos para ajudar os atletas a recuperarem.
No entanto, apesar da sua crescente popularidade nos círculos da saúde e do bem-estar, pouco se sabe sobre os seus efeitos na população em geral.
Explicou Tara Cain, investigadora da UniSA e coautora do estudo.
Uma das principais conclusões do estudo foi que a imersão em água fria pode reduzir os níveis de stress, mas apenas temporariamente. Os participantes sentiram menos stress durante cerca de 12 horas após a exposição.
Curiosamente, aqueles que incluíram os duches de água fria nas suas rotinas relataram ligeiras melhorias na sua qualidade de vida. Estes duches duraram entre 20 e 90 segundos, sugerindo que mesmo uma breve exposição à água fria pode ter efeitos positivos.
Os investigadores notaram, contudo, que estes benefícios tendiam a desaparecer ao fim de três meses, indicando que a consistência pode ser a chave para manter quaisquer ganhos.
Também encontrámos algumas ligações entre a imersão em água fria e melhores resultados em termos de sono, mas os dados restringiam-se ao sexo masculino, pelo que a sua aplicação mais ampla é limitada.
Esclareceu Cain.
Estudo analisou duches frios, banhos de gelo e mergulhos frios
Para este estudo, os dados só foram incluídos se os participantes tivessem estado imersos ao nível do peito ou acima dele durante um mínimo de 30 segundos. Práticas como duches frios, banhos de gelo e mergulhos frios foram todas incluídas na análise.
Segundo Ben Singh, coautor do estudo, um aspeto inesperado dos resultados é que a imersão em água fria provoca um aumento temporário da inflamação.
À primeira vista, isto parece contraditório, pois sabemos que os banhos de gelo são regularmente utilizados por atletas de alta competição para reduzir a inflamação e a dor muscular após o exercício.
No entanto, o pico inicial de inflamação não é necessariamente prejudicial. Pelo contrário, representa a resposta do organismo ao frio como fator de stress.
Tal como o exercício físico causa danos musculares a curto prazo antes de conduzir a músculos mais fortes, esta resposta inflamatória pode ajudar o corpo a adaptar-se e a recuperar ao longo do tempo.
Aliás, esta ideia pode explicar por que razão os atletas continuam a utilizar a terapia com água fria, apesar do aumento temporário da inflamação.
O aumento temporário da inflamação, embora benéfico em determinados contextos, pode representar riscos para as pessoas com doenças crónicas ou outros problemas de saúde. Por isso, o estudo destaca a necessidade de cautela, particularmente entre indivíduos com condições de saúde pré-existentes.
Sabendo isto, as pessoas com condições de saúde pré-existentes devem ter um cuidado extra se participarem em experiências de imersão em água fria, uma vez que a inflamação inicial pode ter impactos prejudiciais para a saúde.
Alertou Ben Singh.
A investigação sublinha a importância de compreender o próprio corpo e o estado de saúde antes de mergulhar em práticas com água fria, reforçando a ideia de que o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra.
Para Cain, “quer se trate de um atleta de alta competição ou de uma pessoa que procura o bem-estar quotidiano, é importante compreender os efeitos daquilo a que submete o seu corpo”.
Pondere antes de se aventurar na imersão em água fria
A par dos resultados promissores, o estudo revelou lacunas significativas na compreensão da imersão em água fria.
Por exemplo, embora haja muitas alegações de que pode aumentar a imunidade e o humor, as provas que sustentam estas afirmações continuam a ser fracas.
Os investigadores da UniSA observaram que é necessária mais evidência de alta qualidade e estudos que avaliem o longo prazo para determinar quem beneficia mais e qual seria a abordagem ideal.
Os dados atuais têm um âmbito limitado, centrando-se principalmente em populações específicas e em resultados a curto prazo. A expansão da investigação para incluir grupos mais diversificados e períodos de observação mais longos será essencial para descobrir todo o potencial desta prática.