Este tem sido o tema, extrovertido, no que toca ao nosso jardim cósmico. O cometa interestelar 3I/ATLAS continua intacto e perfeitamente normal, apesar de recentes rumores que sugeriam uma explosão após a sua passagem próxima do Sol. As mais recentes observações desmentem a teoria e voltam a colocar o cometa no centro de um debate entre ciência e especulação.
3I/ATLAS: o rumor da explosão
O cometa 3I/ATLAS parece estar normal e intacto, apesar de alguns relatos que indicavam que o visitante interestelar teria explodido após a sua aproximação ao Sol. Os entusiastas do cometa podem respirar de alívio: segundo especialistas, não há sinais de destruição.
No dia 10 de novembro, o site Futurism divulgou que o cometa poderia ter-se fragmentado depois de reaparecer do outro lado do Sol. A publicação baseou-se num texto do astrofísico da Universidade de Harvard, Avi Loeb, que afirmou que o cometa teria perdido uma quantidade significativa de massa, com base em imagens captadas em Espanha no dia 9 de novembro.
Imagem profunda empilhada do 3I/ATLAS, captada entre 5:08 e 5:22 UT em 9 de novembro de 2025, através da combinação de 5 exposições, cada uma com duração de 3 minutos, com dois telescópios. A direção do sol está no canto inferior esquerdo. (Crédito: Frank Niebling e Michael Buechner, publicado aqui)
Especulação e críticas crescentes
As avaliações de Loeb têm sido alvo de crescente escrutínio. O cientista voltou a usar o seu blogue para sugerir que o cometa poderia ser uma nave alienígena. Contudo, a maioria dos investigadores mantém confiança de que se trata de um objeto natural e que, de facto, não explodiu.
Um cometa saudável e normal. Todas as imagens que vi mostram um cometa perfeitamente normal e saudável.
Não há qualquer sinal de que o núcleo se tenha fragmentado.
Afirmou Qicheng Zhang, investigador do Lowell Observatory, no Arizona.
3I/ATLAS: um reencontro com o Sol
O cometa desapareceu temporariamente atrás do Sol, atingindo o periélio, o ponto mais próximo da estrela, no dia 29 de outubro. Agora que reaparece, os astrónomos observam-no atentamente para estudar a sua composição. O calor solar faz sublimar o gelo da superfície, libertando gases que podem ser detetados e analisados.
Estes gases libertados formam jatos potentes, uma nuvem que envolve o cometa, a coma, e uma longa cauda que brilha sob a radiação solar. Assim, até os astrónomos amadores conseguem observá-lo com um pequeno telescópio, em grande parte do hemisfério norte.
O cometa mais intrigante da atualidade
Desde a sua descoberta em julho, o 3I/ATLAS tornou-se o centro de especulação cósmica. Loeb e outros chegaram a sugerir que o cometa, um visitante de fora do Sistema Solar com cerca de 7 mil milhões de anos, poderia ser uma sonda alienígena.
Contudo, a maioria dos astrónomos considera tratar-se de um corpo natural proveniente de outro sistema estelar da Via Láctea.
As suas origens naturais são, em si, motivo de entusiasmo: o 3I/ATLAS é apenas o terceiro cometa interestelar já registado, o mais massivo do género e possivelmente o mais antigo alguma vez observado.
Imagens e cálculos contestados
Numa imagem captada por astrónomos amadores, Michael Buechner e Frank Niebling, no dia 9 de novembro, parecem surgir jatos a sair do cometa.
Loeb usou esses dados para calcular a massa libertada e concluiu que, se fosse natural, o cometa precisaria de uma superfície muito maior. A partir daí, deduziu que o objeto deveria ter-se fragmentado em pelo menos 16 pedaços, algo que as observações futuras podem facilmente desmentir.
Verifiquei o blogue de Avi Loeb e parece-me que ele construiu um castelo de cartas baseado numa interpretação incorreta dos parâmetros orbitais do cometa, um erro que qualquer astrónomo reconheceria de imediato.
Afirmou Zhang.
Antes mesmo desta publicação, Loeb já vinha a ser criticado. Jason T. Wright, professor de Astronomia e Astrofísica na Universidade Estatal da Pensilvânia, desmantelou ponto por ponto dez das alegadas “anomalias” citadas por Loeb, acusando-o de falta de rigor e de más interpretações científicas.
O que esperar nas próximas semanas
O cometa 3I/ATLAS fará a sua aproximação mais próxima à Terra no dia 19 de dezembro.
Até lá, multiplicar-se-ão novas observações e teorias, que, como avisam os astrónomos, devem ser vistas com cautela.