Pplware

Europa quer que seja possível apagar a app “Fotografias” do iPhone. Mas quem pediu isso?

A União Europeia continua a analisar as grandes empresas tecnológicas sob a lei dos mercados digitais. Após a obrigação de utilizar o USB-C e poder descarregar aplicações fora da App Store, surge um novo pedido da UE. Os utilizadores do iPhone já “acusam” a UE de estar a transformar o iOS no Android.


App Fotografias tem de ser possível desaparecer do iPhone

A Europa quer que seja possível apagar a aplicação “Fotografias” do iPhone. Mas, na verdade, desde há muitos anos que somos utilizadores deste sistema operativo e nunca ouvimos ninguém dizer que queria tal coisa. Nem nunca se viu, publicamente, nalgum sítio, utilizadores do iOS a solicitar tal coisa. Então, quem pediu essa opção?

Meta, Amazon, Google, Apple, Microsoft… As maiores empresas de tecnologia do mundo estão sob o olhar atento da Comissão Europeia. Para já, a grande visada tem sido a Apple. Conforme já demos a conhecer, a empresa foi obrigada a incluir o USB-C no iPhone 15, teve de mudar as suas regras e permitir downloads de lojas de terceiros fora da App Store a partir do iOS 17.4, entre outras obrigações que ainda estarão a aparecer.

Segundo o que foi agora dado a saber, o próximo passo da UE é abordar a aplicação Fotografias da Apple. Este organismo quer que seja possível desinstalá-la e escolher outro serviço de galeria ou armazenamento fotográfico. Seja, por exemplo, o Google Fotos ou o OneDrive. Esta mudança vai muito além de onde visualizamos as nossas fotografias e vídeos e tem um impacto direto nas funções de privacidade dos nossos dispositivos Apple.

Para simplificar, vamos passo a passo explicar este assunto. Primeiro, temos de perceber o que a União Europeia exige, depois quais as vantagens ou desvantagens e, por último, como a Apple poderia torná-lo possível.

 

Mas será que isto beneficia o utilizador Apple?

Europa quer que a aplicação Fotografias possa ser desinstalada do iPhone dos utilizadores. Como já explicámos, dentro do novo enquadramento legal dos mercados digitais, exige-se às grandes empresas que haja concorrência entre elas. É por isso que agora podemos escolher o navegador por defeito no iPhone para que o utilizador saiba desde o início que há mais para além do Safari.

Com a aplicação Fotografias, querem alcançar algo semelhante. Como tal, querem que o utilizador, ao abrir a aplicação, tenha um menu onde poderá escolher entre os mais variados serviços de armazenamento de fotografias e vídeo.

Num exercício académico, poderíamos entender que esta alteração poderá trazer ao utilizador que migra os seus serviços algum conforto. Por exemplo, um utilizador do iPhone que passe para um Android, teria apenas de configurar a conta Google Fotos e estava tudo pronto. Isto porque não poderá “levar” para o Android a aplicação Fotografias, muito bem integrada no iCloud.

Claro, a Apple tem no seu serviço cloud vantagens em ter a app Fotografias do seu lado, visto que vende alojamento para lá da oferta dos 5GB gratuitos. Com 50GB a 0,99€ mês, a oferta de espaço torna-se muito interessante!

Neste caso e poucos mais estamos a ver, o utilizador, em princípio, poderá ter vantagens, mas a aplicação Fotografias vai além de onde os nossos momentos são guardados.

Quem vê com bons olhos esta exigência é a Google, que tem planos interessantes no seu Google One, ou mesmo a Microsoft com o OneDrive… entre outros serviços.

Medidas poderão pôr em risco a segurança e privacidade dos utilizadores?

As opções são muitas e nada melhor do que o utilizador escolher qual usar. No entanto, a integração com a aplicação Fotografias no iOS e macOS é muito poderosa. Por exemplo, podemos escolher quais as aplicações que têm acesso às nossas fotos ou não. E até dar acesso a uma fotografia específica e depois fechar o acesso.

Isto, no campo da privacidade, é muito interessante. Além disso, as fotografias e vídeos contêm muitos mais dados do que o próprio conteúdo multimédia. Há informações de localização e dados do próprio dispositivo. Por isso, seria deixado ao utilizador a escolha de uma aplicação de fotos supostamente que sabe o que faz depois com os seus dados. Este problema não existe neste momento, já que a aplicação Fotografias é a única pré-definida pelo dispositivo.

Voltando às vantagens, se alguma vez trabalhou com elementos visuais no iPhone ou iPad, terá precisado de lidar, em maior ou menor medida, com a aplicação Fotografias.

Claro que temos de ver como vai funcionar esta alteração. Porque, se for, por exemplo, como funciona a app Ficheiros, a história é outra. Como sabemos, ao usar a aplicação Ficheiros e quiser incluir outros serviços de cloud, é possível. Podem adicionar o Box, o Google Drive, o OneDrive…

Pelo contrário, na aplicação Fotografias, só pode visualizar o que tem na galeria ou no iCloud. Se quiser manipular fotografias guardadas noutro local ou na nuvem, tem de as importar para a galeria forçosamente para as poder usar com outras aplicações. Simplesmente, se não quiser a aplicação Ficheiros, apaga e pronto. Pode continuar a gerir os ficheiros na sua cloud a partir de qualquer outra aplicação, incluindo os ficheiros do iCloud. A aplicação Fotografias não pode ser apagada nem ocultada.

Sabendo que é uma exigência da União Europeia e que a Apple terá de a cumprir, pode tomar dois caminhos. Ambos, com certeza, com um desafio tecnológico pela frente.

Em primeiro lugar, poderiam transformar a aplicação Fotografias num hub cloud e serviços como acontece com os Ficheiros. Não seria necessária a eliminação da aplicação, como pede a Europa, já que dentro dela poderá escolher qual o serviço a utilizar. Seja o armazenamento físico do iPhone, o iCloud, o Google Drive, etc.

Por outro lado, a Apple poderá desenvolver uma API que as aplicações de Fotos de outras empresas aplicariam em relação à privacidade mencionada anteriormente. Ou seja, que o Google Fotos integre uma API para o sistema entender que, por defeito, será essa a aplicação a utilizar.

A partir daí, a gestão do acesso à galeria desde a câmara ou a permissão de acesso às fotos a partir das aplicações estaria integrada graças a essa API.

Sabemos que a Apple é ótima a fornecer estas funções aos programadores, e de facto vimos essa abertura na democratização da App Store no iOS 17.4. Fizeram-no de uma forma magistral, conservando a maior segurança possível para o utilizador e, ao mesmo tempo, abrindo o sistema operativo.

Há opiniões para todos os gostos. Uns não querem esta abertura, por receio de perderem a qualidade e segurança. Outros acham que as apps de outras lojas podem aumentar a concorrência e trazer algo melhor, eventualmente preços, dado que qualidade já existe na oferta dentro da App Store.

Estão a tornar o iPhone menos iPhone? Muita gente diz que sim e sempre que dão oportunidade aos utilizadores de escolher, eles continuam a escolher as aplicações da Apple. Mas, o futuro mostrará quem tem razão.

Exit mobile version