A Deteção de acidentes foi uma das grandes novidades apresentadas no evento de setembro. Esta funcionalidade, complexa, funciona na nova linha do iPhone 14, Apple Watch Series 8 e Apple Watch Ultra. Segundo a Apple, esta tecnologia tem a capacidade de interpretar vários sinais e dados recolhidos pelos sensores de forma a identificar um acidente automóvel e disparar um pedido de socorro. Vários testes e alguns cenário menos prováveis, contudo, já colocaram a tecnologia à prova.
Questionados dois executivos da Apple sobre a funcionalidade a ser ativada em passeios de montanha-russa, estes disseram que a deteção fiável de um acidente de viação é complexa, mas que funciona muito bem.
Segundo a Apple, a nova funcionalidade de Deteção de acidente pode atuar se o iPhone 14 detetar que o ocupante do veículo teve um acidente de automóvel grave. Então, o dispositivo liga para os serviços de urgência e notifica os seus contactos de emergência. Aliás, pode mesmo utilizar as chamadas de emergência via satélite.
Toda a tecnologia envolvida é combinada para um resultado o mais perfeito possível. Para isso, disse a empresa, a tecnologia utiliza uma grande variedade de pistas, incluindo coisas tão pouco visíveis como sinais Wi-Fi.
Então em termos práticos o que usa a tecnologia para detetar um acidente?
A empresa de Cupertino colocou dentro do iPhone, Apple Watch 8 e Ultra um sistema que recebe dados do acelerómetro, giroscópio, barómetro, microfone e GPS (além de mais dados de outros sistemas). Depois, com esses dados, recorrendo à aprendizagem automática e a um algoritmo treinado, o sistema deteta que houve um acidente e faz o contacto de emergência.
Na linha do iPhone 14, mais concretamente e em todos os modelos, a Apple colocou também nova tecnologia. Aliado aos mesmos sensores presentes nos Apple Watch deste ano, a Apple introduziu nos novos iPhones um giroscópio de gama alta dinâmica, assim como um acelerómetro de dois núcleos capaz de detetar forças de 256 Gs.
O sistema avalia da seguinte forma, citando a Apple:
- Mudanças repentinas da velocidade: O novo acelerómetro de força-g elevada deteta acelerações e paragens extremas até 256 g.
- Alterações na pressão da cabine: O barómetro deteta as alterações de pressão quando os airbags abrem.
- Alterações abruptas da direção: O giroscópio de elevada amplitude dinâmica deteta mudanças drásticas na orientação do automóvel.
- Sons altos provocados por impacto: Durante a condução, o microfone capta os níveis extremos do som de uma colisão. Para salvaguardar a sua privacidade, o processamento é feito no seu iPhone.
- Testes de colisão em laboratório: Desenvolvemos algoritmos avançados de movimento através de testes de colisão frontal, traseira, lateral e capotamentos.
- Dados de colisões reais: Recorremos também a dados públicos sobre sinistralidade para que a Deteção de acidente seja o mais precisa possível.
A Apple refere mesmo que o iPhone consegue identificar colisões graças a 1 milhão de horas de dados sobre condução e acidentes reais. Contudo, vários “youtubers” e outros meios que não da especialidade, executaram estes que… demonstraram uma fiabilidade variável nos testes de colisão.
No entanto, um problema que veio a lume é que a funcionalidade pode ser ativada inadvertidamente quando o utilizador está numa montanha russa.
O que diz a Apple sobre este assunto?
A TechCrunch falou com o vice-presidente do departamento sensing & connectivity, Ron Huang, e com o vice-presidente de marketing de produtos iPhone a nível mundial, Kaiann Drance.
Segundo estes executivos, a Apple explicou que forças Gs elevadas são a maior pista para um utilizador estar envolvido num acidente de automóvel, e isso explicaria porque é que também seria ativado em passeios de montanha russa, nos quais forças G relativamente elevadas podem ser brevemente experimentadas.
É sobretudo a detecção da Força G. A tecnologia é capaz de detectar a Força G até 256 Gs. Esta foi uma das principais diferenças para os novos acelerómetros que os novos relógios e telefones têm.
Disse Kaiann Drance.
No entanto, a empresa diz que toda a área é complexa, e não existe “nenhuma bala de prata” em termos de um indicador único e fiável. Em vez disso, a tecnologia da Apple combina uma gama diversificada de sinais para tentar detetar o acidente.
Em última análise, o giroscópio e o acelerómetro são apenas duas das peças (sensores) neste esquema. A lista inclui também o GPS para determinar que o utilizador viaja a alta velocidade, o microfone para monitorizar os sons de uma colisão e o barómetro, que deteta a mudança de pressão que ocorre quando os airbags são acionados. […]
Não há a bala de prata, em termos de ativação da deteção de acidentes. É difícil dizer quantas destas coisas têm de desencadear, porque não é uma equação direta. Dependendo da rapidez com que a velocidade de viagem foi feita, determina que sinais temos de ver mais tarde, também. A sua mudança de velocidade, combinada com a força de impacto, combinada com a mudança de pressão, combinada com o nível de som, é tudo um algoritmo bastante dinâmico” […]
O Bluetooth e Carplay são também utilizados para determinar que se está num carro, embora nenhum deles seja estritamente necessário para a função. Para além disso, acrescentámos muitos sinais. Se se trata de ruído da estrada ou do motor, também podemos recolher essa informação. Podemos ver que os routers Wi-Fi que está a utilizar estão a mudar muito rapidamente – mais rapidamente do que se estiver a andar a pé ou de bicicleta, etc.
Explicou Ron Huang.
A Deteção de colisões pode utilizar automaticamente o SOS de satélite
A Apple disse também que o sistema tem múltiplas formas de encaminhar chamadas de emergência, que podem ser necessárias em áreas remotas. Isto inclui tentar automaticamente a capacidade SOS via satélite.
Tal como qualquer chamada 911 (112 em Portugal), tentaríamos marcar primeiro através da rede do utilizador. Se essa rede não estiver disponível, tentaremos encaminhá-la para qualquer outra operadora disponível, mesmo que não seja a operadora que tem com o seu SIM. Quando não houver cobertura, esta será ligada ao SOS de emergência via satélite.
Se por acaso tiver um acidente como este, e não houver cobertura absolutamente nenhuma onde se encontra, continuaremos a tentar ligar-nos via satélite através da capacidade de SOS de emergência.
Concluiu o executivo da Apple responsável por esta área.
Portanto, e em resumo, a tecnologia Deteção de acidentes precisa sobretudo de inputs dos sensores que medem as forças Gs, recorrendo, contudo, a outros dados registados pelos equipamentos. Além disso, e à medida que a Apple vai recolhendo mais cenários de falsos positivos, o sistema irá ser afinado até conceber um alerta perto do ponto exato.
Fica também registado que a mensagem de pedido de socorro primeiro sai pelo operador do equipamento, depois é procurado outro operador móvel, mesmo que não seja o que tem o contrato com o cliente e, por fim, o sistema de SOS por satélite é acionado.