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Descoberto que sinais de Bluetooth do smartphone podem permitir seguir o utilizador

Uma equipa de engenheiros da Universidade da Califórnia em San Diego demonstrou pela primeira vez que os sinais Bluetooth emitidos constantemente pelos nossos telefones móveis têm uma impressão digital única que pode ser usada para monitorizar e rastrear os movimentos dos indivíduos.

Por várias vezes se levantou a hipótese da utilização dos beacons Bluetooth para fins menos “ortodoxos”. Contudo, só agora foi possível aos investigadores, pela primeira vez, demonstrarem que é viável seguir indivíduos.


O seu smartphone pode “denunciar” por onde andou o utilizador

Os dispositivos móveis, incluindo telefones, smartwatches e bandas fitness, transmitem constantemente sinais, conhecidos como beacons Bluetooth, a uma taxa de aproximadamente 500 beacons por minuto. Estes ativam recursos como o serviço de monitorização de dispositivos perdidos da Rede Encontrar “Find My” da Apple; aplicações de seguimento COVID-19, e permite que os smartphones se liguem a outros dispositivos, como auscultadores sem fio.

Em investigações anteriores já havia sido possível identificar que a impressão digital sem fio existe na rede WiFi e noutras tecnologias sem fios. A perceção crítica da equipa da UC San Diego foi que esta forma de monitorização também pode ser feita com recurso ao Bluetooth, de maneira altamente precisa.

Isto é importante porque no mundo de hoje o Bluetooth representa uma ameaça mais significativa, pois é um sinal sem fio frequente e constante emitido por todos os nossos dispositivos móveis pessoais.

Explicou Nishant Bhaskar, estudante de mestrado no Departamento de Ciência da Computação e Engenharia da UC San Diego e um dos principais autores do artigo.

A equipa, que inclui investigadores dos Departamentos de Ciência da Computação e Engenharia e Engenharia Elétrica e de Computação, apresentou as suas descobertas na conferência IEEE Security & Privacy em Oakland, Califórnia, a 24 de maio de 2022.

 

Imperfeições que providenciam uma identificação única do Bluetooth

Todos os dispositivos sem fio têm pequenas imperfeições de fabrico no hardware que são exclusivas de cada dispositivo. Estas impressões digitais são um subproduto acidental do processo de produção. Estas imperfeições no hardware Bluetooth resultam em distorções únicas, que podem ser usadas como uma impressão digital para rastrear um dispositivo específico.

Para o Bluetooth, isso permitiria que um invasor contornasse técnicas anti-monitoriazação, como alterar constantemente o endereço que um dispositivo móvel usa para se ligar a redes da Internet.

O rastreio de dispositivos individuais via Bluetooth não é simples. As técnicas anteriores de impressão digital criadas para WiFi contam com o facto de que os sinais WiFi incluem uma longa sequência conhecida, chamada de preâmbulo. Mas os preâmbulos para sinais de beacon Bluetooth são extremamente curtos.

Em vez disso, os investigadores projetaram um novo método que não depende do preâmbulo, mas analisa todo o sinal Bluetooth. Eles desenvolveram um algoritmo que estima dois valores diferentes encontrados em sinais Bluetooth. Estes valores variam de acordo com os defeitos no hardware Bluetooth, dando aos investigadores a impressão digital exclusiva do dispositivo.

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Experiências no mundo real

Os pesquisadores avaliaram o seu método de monitorização, ou rastreio, através de várias experiências reais. Na primeira experiência o grupo descobriu que 40% de 162 dispositivos móveis vistos em áreas públicas, como cafés, eram identificáveis ​​de forma única.

Em seguida, ampliaram a experiência e observaram 647 dispositivos móveis numa via pública durante dois dias. A equipa descobriu que 47% desses dispositivos tinham impressões digitais únicas. Finalmente, os investigadores demonstraram um ataque de monitorização real através de impressões digitais e seguindo um dispositivo móvel da propriedade de um voluntário do estudo enquanto eles entravam e saíam da sua casa.

 

Bluetooth: Será preocupante esta descoberta?

Embora esta descoberta possa orbitar o preocupante, os investigadores também descobriram vários desafios que um invasor enfrentará na prática. Mudanças na temperatura ambiente, por exemplo, podem alterar a impressão digital do Bluetooth. Certos dispositivos também enviam sinais Bluetooth com diferentes graus de potência, e isso afeta a distância na qual estes dispositivos podem ser rastreados.

Os especialistas também observam que o seu método exige que um invasor tenha um alto grau de experiência, portanto, é improvável que seja uma ameaça generalizada para o público hoje.

Apesar dos desafios, o grupo descobriu que o rastreio por Bluetooth é provavelmente viável para um grande número de dispositivos. Também não requer equipamentos sofisticados: o ataque pode ser realizado com equipamentos que custam menos de 200 euros.

Quando ativa ou desativa o Wi-Fi ou Bluetooth utilizando os respetivos botões na Central de controlo, o dispositivo desliga-se imediatamente dos acessórios Wi-Fi e Bluetooth. Contudo, o Wi-Fi e o Bluetooth continuarão a estar disponíveis para que possa utilizar as funcionalidades AirDrop, AirPlay, Apple Pencil, Apple Watch, Funcionalidades do Continuidade, como o Handoff e o Instant Hotspot, Instant Hotspot, Serviços de localização e Desbloquear com o Apple Watch.

 

Então, como o problema pode ser corrigido?

Fundamentalmente, o hardware Bluetooth teria que ser redesenhado e substituído. Mas os investigadores acreditam que outras soluções mais fáceis podem ser encontradas. A equipa trabalha atualmente numa maneira de ocultar as impressões digitais do Bluetooth através do processamento de sinal digital no firmware do dispositivo Bluetooth.

Os responsáveis por este estudo também estão a explorar se o método desenvolvido por eles pode ser aplicado a outros tipos de dispositivos. Além disso, notaram que apenas desligar o Bluetooth pode não necessariamente impedir que todos os telefones emitam beacons Bluetooth. Por exemplo, os beacons ainda são emitidos ao desligar o Bluetooth na Central de controlo no ecrã inicial de alguns dispositivos Apple.

Até onde sabemos, a única coisa que definitivamente impede os beacons Bluetooth é desligar o telefone.

Disse Bhaskar.

Apesar de tudo o que foi revelado, os investigadores têm o cuidado de dizer que, embora possam rastrear dispositivos individuais, eles não podem obter nenhuma informação sobre os proprietários dos dispositivos.

O estudo foi revisto pelo Conselho de Revisão Interno do campus e pelo conselho do campus.

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