Acha que já viu a verdadeira cor branca? Pois bem, repense: este cientista encontrou o branco mais branco do mundo, com o único objetivo de tornar as cidades mais frescas.
O professor de engenharia mecânica na Universidade de Purdue, Xiulin Ruan, tem dedicado os últimos anos a tornar a tinta branca o mais branco possível.
Em 2020, apresentou “CaCO3 acrylic” e, em abril do ano seguinte, voltou a ser uma estrela com uma solução ainda melhor do que a anterior. O seu propósito chamou a atenção até do Guinness, que decidiu incluí-lo na sua versão de 2022 com “a tinta mais branca” do mundo.
Neste momento, talvez queira perceber a razão pela qual Xiulin Ruan está à procura do branco mais branco do mundo. Ora bem, a resposta é simples e, apesar de tentador, não passa pela vontade de integrar o Guinness World Records.
Branco mais branco pode refrescar as nossas cidades e ajudar a reduzir o gasto de energia
O professor Ruan e os seus colegas têm em mente um objetivo muito mais ambicioso: uma pintura capaz de refletir, de forma impressionante, a luz do sol. De facto, em 2020, a tinta da equipa (CaCO3 acrylic) mostrou uma refletância solar de 95,5%. Um ano depois, contudo, a versão melhorada (BaSO4) conseguiu aumentar a fasquia para 98,1%.
Para referência, as tintas brancas disponíveis no mercado concebidas para este fim refletem apenas 80-90% da luz solar.
A ideia era criar uma tinta que refletisse a luz solar para longe de um edifício.
Explicou Ruan, esclarecendo que as superfícies, como as paredes, pintadas com uma camada de tinta são arrefecidas abaixo da temperatura ambiente, descartando a necessidade de dispositivos de ar condicionado ou ventoinhas.
Isto é possível graças a uma investigação que remonta aos anos 70 e que tem procurado formas de conseguir um “arrefecimento radiante”. Depois de avaliar inicialmente mais de uma centena de materiais diferentes, a equipa escolheu apenas 10, que submeteu a 50 formulações diferentes. O resultado: uma tinta “ultrabranca” com uma elevada concentração de sulfato de bário.
Os cientistas acreditam que, se a sua tinta fosse utilizada para cobrir uma área de telhado de cerca de 92,2 m2, forneceria cerca de 10 quilowatts de potência de arrefecimento.
De facto, as propriedades da tinta ajudam a manter os ambientes arejados sem a necessidade de climatização artificial. Para os cientistas, uma utilização em grande escala, permitiria uma significativa diminuição dos gastos com energia e das emissões que dela resultam, consequentemente.
Há uns dias, Jeremy Munday, da Universidade da Califórnia Davis, desenhou uma possibilidade mais ambiciosa: explicou ao The New York Times que, se materiais como a tinta de Ruan cobrissem uma porção mínima da superfície da Terra, entre 1 e 2%, equivalente a pouco mais da metade do Saara, o planeta deixaria de absorver mais calor do que emite e as temperaturas globais parariam de subir.
Até lá, a equipa de cientistas precisa de melhorar a sua fórmula. Aliás, em 2022 desenvolveu uma nova que torna as camadas mais finas e leves, o que permitiria dissipar o calor dentro de carros, comboios, aviões ou até naves espaciais.
Isto, porque a versão anterior da tinta usava camadas de pelo menos 0,4 mm de espessura para atingir “um nível de arrefecimento radiante abaixo da temperatura ambiente”, uma espessura aceitável para telhados, por exemplo. Contudo, deixa de o ser, se a ideia for aplicá-la em coisas/edifícios com requisitos específicos. Nesses casos, deve ser mais fina e mais leve.
Embora a formulação original seja extremamente eficiente, exigindo uma camada de 0,4 mm de espessura para obter arrefecimento radiante subambiente, a formulação mais recente e mais fina consegue um arrefecimento semelhante com apenas uma camada de 0,15 mm de espessura.
Posto isto, é objetivo da equipa expandir a sua tinta branca mais branca do mundo, comercializando-a.