Se por um lado assistimos à crescente utilização da nanotecnologia, por outro estamos a fazer coisas maiores, gigantes, de dimensões nunca antes pensadas. Não, não estamos a falar da Starship nem do foguetão que a transportou. Estamos mesmo a falar do gigante avião Windrunner, que não cabe dentro de um campo de futebol.
Um avião gigante com mais de 100 metros de comprimento
Há propostas no nosso mundo que exigem tecnologias de ponta incrivelmente grandes.
Esta é mesmo a ideia de uma empresa, a Radia, que quer criar eólicas gigantes, com uma dimensão absolutamente desproporcional ao mundo em redor. E quando falamos desproporcional, estamos mesmo a querer dizer que para montar estas eólicas, é necessário, antes, fazer um meio de transporte aéreo… que não existe!
O Radia Windrunner, com impressionantes 108 metros de comprimento, foi projetado para transportar cargas muito grandes para estradas, para pistas curtas e semi-preparadas em terrenos acidentados.
Ele será colossal em comparação com o majestoso Antonov An-225 Mriya, com 84 m (275 pés) de comprimento, que infelizmente não está mais connosco.
Com a notável exceção do Grande Colisor de Hadrões, realmente não há máquina na história com partes únicas maiores do que as atuais turbinas eólicas gigantescas. Algumas turbinas offshore, por exemplo, estão a ser construídas com pás com mais de 140 metros de comprimento. Uma das razões pelas quais elas não estão a alcançar esta escala em terra firme é que é praticamente impossível mover pás desta dimensão na estrada.
As curvas são muito apertadas. As pontes são muito baixas. Mesmo as pás com metade desse tamanho são um pesadelo logístico – e às vezes o processo é bastante aterrorizante de se assistir, como pode ver no vídeo abaixo.
Contudo, é um facto que o tamanho importa na energia eólica. Isto porque a área varrida pela sua turbina é o fator-chave para quanto de energia pode colher. As pontas das pás varrem uma área maior do que as secções mais próximas do cubo, então há um ganho de área desproporcional para cada pedaço de comprimento que se adiciona a esta peça.
Se a energia eólica em terra pudesse começar a usar pás quase do tamanho das que estão a ser usadas no mar, mais energia eólica poderia ser captada a um custo mais baixo.
Assim, surge a ideia do Radia Windrunner. Esta máquina será a solução de transporte em torno da qual poderá projetar toda uma operação de fabrico de turbinas. E estamos a falar numa aeronave totalmente dedicada a este tipo de equipamentos, isto é, a nave irá estar preparada para mover pás de turbinas absolutamente colossais.
A título de curiosidade, o Windrunner é maior que o Estádio da Luz em comprimento e tem uma envergadura de 80 metros. Com 24 metros de altura, não é mais alto do que um Airbus A380 – mas a sua frente com tampa articulada, com a cabine elevada até ao topo da fuselagem, permite que o avião de 108 metros de comprimento transporte cargas de até 105 metros de comprimento e 7,3 metros de diâmetro.
O peso máximo da carga é impressionante, 72.575 kg e voa à distância máxima de cerca de 2.000 km, e o volume do porão de carga é de cerca de 8.200 metros cúbicos – sete vezes mais do que o poderoso Antonov poderia oferecer.
E onde aterraria este gigante?
Claro que este tipo de aeronave não pode aterrar e levantar nos aeroportos comuns. A ideia seria construir uma pista o mais perto possível da fábrica de pás. Para descarregar, no ponto de chegada, isto é, no parque eólico, teria de existir igualmente uma pista para o avião pousar, descarregar e voltar a levantar.
Para facilitar esse tipo de comportamento, o Windrunner foi projetado para descolar e pousar numa pista relativamente curta de 1.800 metros. Para termos uma ideia, um avião de passageiros comum, muito menor, normalmente usa uma pista entre 30 a 110% mais longa do que esta para o Windrunner.
Além disso, a Radia nem necessitaria de uma pista de aterragem devidamente pavimentada. Presumindo que muitos parques eólicos serão construídos em áreas abertas e planas, a empresa projetou o Windrunner para operar em “pistas semi-preparadas” – ou seja, simplesmente uma área que foi limpa de pedras, arbustos, árvores e outros obstáculos, como o que uma aeronave militar poderia pousar durante uma operação.
De acordo com o Wall Street Journal, o Windrunner é muito mais do que um conjunto de imagens renderizadas – a Radia aparentemente arrecadou 104 milhões de dólares (cerca de 95 milhões de euros) para a sua causa.
A empresa estima que as turbinas maiores que este avião transportar darão aos operadores dos parques turbinas eólicas em terra firme que poderão reduzir o custo de energia limpa até 35%. Além disso, esta inovação irá tornar os parques eólicos viáveis numa gama muito mais ampla de locais.
A empresa aparentemente acredita que terá o Windrunner construído, testado e certificado em cerca de quatro anos. Vamos ver se este notável projeto “levanta voo”!