Pois é verdade. Nem Musk, nem a Tesla descobriram a pólvora. Foi um alemão que construiu, e pôs a circular, o primeiro carro elétrico de que há registo no mundo. Não vingou, é verdade, muito pelas críticas à autonomia e falta de infraestruturas para carregamento. Onde já ouvimos isto?
E se os elétricos tivessem “arrancado” há mais de 100 anos?
O Flocken Elektrowagen, criado por Andreas Flocken em 1888 na Alemanha, é amplamente considerado o primeiro carro elétrico do mundo. Flocken, um inventor e empresário, desenvolveu este veículo movido a eletricidade, inspirado nas carruagens sem motor que já existiam na época.
Feito na sua fábrica em Coburg, na Baviera, o Flocken Elektrowagen era um veículo com quatro rodas, cuja estrutura lembrava as carruagens de cavalos, mas, ao invés de utilizar animais, era impulsionado por um motor elétrico.
Este carro representou um marco na história da mobilidade, apontando para uma alternativa silenciosa e livre de emissões para o transporte.
O Flocken Elektrowagen tinha uma estrutura simples, com uma carroçaria de madeira e rodas de aço. Equipado com um motor elétrico, o veículo era alimentado por baterias de chumbo-ácido. Embora os detalhes técnicos sobre a capacidade e a autonomia do carro sejam escassos, acredita-se que ele tinha uma velocidade máxima muito limitada, mas suficiente para ser usado nas ruas da época.
O principal objetivo de Flocken era demonstrar que era possível criar um meio de transporte motorizado simples e prático. Apesar do potencial do veículo, o Flocken Elektrowagen não se popularizou devido a várias limitações tecnológicas e a uma falta de infraestrutura adequada. Naquela época, as baterias eram caras, pesadas e tinham baixa capacidade de armazenamento de energia, o que limitava a autonomia e o desempenho do carro.
Elétricos cruzam o Atlântico
Pouco tempo depois, em 1890, foi introduzido o primeiro carro elétrico nos Estados Unidos por William Morrison, um químico de Des Moines, Iowa.
A viatura de Morrison era um veículo de seis passageiros com um design simples, capaz de atingir uma velocidade máxima de cerca de 22 km/hora. Marcou o início da exploração dos carros elétricos na América, e foi o precursor de uma série de modelos elétricos que surgiriam nas próximas duas décadas.
Tal como o Flocken Elektrowagen, o carro de Morrison operava com baterias de chumbo-ácido, e sofria das mesmas limitações: baixa autonomia e desempenho limitado. Ainda assim, o interesse pelos carros elétricos começou a crescer nos Estados Unidos e, nos primeiros anos do século XX, representavam cerca de um terço de todos os veículos nas estradas americanas.
Razões para o fracasso
Apesar do interesse inicial, os primeiros carros elétricos, tanto na Europa quanto na América, enfrentaram desafios que impediram a sua ampla adoção. Uma das principais limitações era o desempenho das baterias, que eram volumosas, pesadas e tinham uma baixa densidade energética. Isso significava que os carros elétricos tinham uma autonomia muito curta e demoravam muito tempo para serem recarregados.
Outro fator que contribuiu para o fracasso dos carros elétricos foi o custo elevado de produção. Na época, fabricar veículos elétricos era caro, o que tornava esses carros inacessíveis para a maioria da população. Em contrapartida, o motor de combustão interna passou por avanços rápidos e tornou-se mais barato e eficiente, graças ao trabalho de inventores como Karl Benz e Henry Ford.
A partir de 1910, a produção em massa de carros a gasolina, liderada por Ford, reduziu significativamente os custos e popularizou os automóveis movidos a combustível fóssil.
Além disso, a falta de infraestrutura de carregamento e de redes elétricas confiáveis em áreas rurais e remotas também prejudicou a adoção dos veículos elétricos. Enquanto a gasolina estava amplamente disponível e podia ser facilmente transportada, as redes elétricas estavam ainda em desenvolvimento e tinham uma cobertura limitada.
Renascimento dos elétricos
Embora os primeiros carros elétricos não tenham vingado, estabeleceram as bases para o desenvolvimento futuro da mobilidade elétrica. Durante várias décadas, os carros elétricos permaneceram em segundo plano, mas voltaram a ganhar relevância com as preocupações ambientais e a busca por alternativas sustentáveis ao petróleo, especialmente a partir dos anos 2000.
Hoje, os veículos elétricos estão em plena ascensão, com empresas como a Tesla liderando o setor e governos de todo o mundo incentivando a transição para uma mobilidade mais sustentável.
O Flocken Elektrowagen e o carro de Morrison representam o começo de uma longa jornada que agora está a dar frutos, com tecnologias avançadas que permitem superar as limitações dos pioneiros e construir uma alternativa viável e amiga do ambiente para o transporte moderno.