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Satya Nadella é claro: é impossível competir com o motor de pesquisa da Google

Satya Nadella, CEO da Microsoft, testemunhou no julgamento antitrust a que a Google está a ser sujeita. O julgamento revelou detalhes importantes sobre o segmento de pesquisa, e a participação do chefe da empresa sediada em Redmond deixou claro como é difícil – se não impossível – competir com o motor de pesquisa da Google.


 

Nadella daria (quase) tudo para ter o Bing no iPhone

Adam Severt, um advogado do Departamento de Justiça, perguntou a Nadella o que significaria se a Apple utilizasse o Bing em vez do Google como motor de pesquisa predefinido. “Isso mudaria as regras do jogo”, explicou.

O CEO da Microsoft estava disposto a pagar o que a Apple pedisse, desde perder até 15 mil milhões de dólares no processo, a esconder a marca Bing na interface da Apple e respeitar os requisitos de privacidade. Por outras palavras, daria quase tudo para poder estar com o Bing onde está o Google.

Para Nadella, ser o motor de pesquisa ppredefinido mudaria tudo porque “as opções predefinidas são as únicas que interessam”. É uma realidade palpável num mercado em que, efetivamente, quem for a opção nativa, ganha. As startups que tentam competir com a Google estão bem cientes disto: o DuckDuckGo está a aguentar-se, mas projetos promissores como o Neeva acabaram por ser abandonados devido à dificuldade de competir.

 

O exemplo da app Mapas da Apple

O juiz Amit Mehta voltou à questão de as pessoas poderem mudar de motor de pesquisa.

O meu único argumento contra é que os utilizadores não mudam.

Afirmou. O exemplo para ele era claro: a aplicação Mapas da Apple, que teve um início desastroso no iOS, tem vindo a ganhar quota de mercado na última década por uma razão: está pré-instalada em todos os iPhones. “As pessoas usam-na, é a predefinida”, disse Nadella.

John Schmidtlein, advogado da Google, salientou o facto de a Microsoft fazer o mesmo com o Edge e o Bing e de tentar colocá-los sempre como opção predefinida. E, apesar disso, diz ele, as pessoas acabam por mudar para o Chrome e o seu motor de pesquisa, provando que os seus produtos são simplesmente melhores.

Mas para Nadella isso é um oximoro: o facto de o Bing ter alguma quota no Windows – por mais difícil que seja competir com o Google – mostra que as predefinições funcionam. Por causa disso, mais pessoas usaram o Bing, o que ajudou o Bing a melhorar, o que fez com que menos pessoas saltassem para o motor de pesquisa da Google (ou outro).

 

Na realidade, a Microsoft sempre fez a mesma coisa

Os protestos da Microsoft podem ser válidos como uma crítica aos métodos da Google, mas é um pouco irónico que Nadella proteste contra as opções predefinidas quando a sua empresa tem vindo a colocar as opções predefinidas nos seus sistemas operativos Windows há décadas. Fê-lo com o Internet Explorer – algo que acabou por lhe custar muito sofrimento – e, mais recentemente, fê-lo com o Edge ou com a sua aplicação de videoconferência, Teams, algo que também lhe trouxe alguma polémica.

Tornar-se o motor de pesquisa predefinido traria, sem dúvida, dinheiro, mas para a Microsoft o mais importante seria torná-la muito mais “competitiva”. Essa presença permitir-lhes-ia impulsionar o que ele chamou de “fluxo de pedidos”. Quanto maior for o número de pessoas, maior será o número de pesquisas, maior será o número de dados recolhidos para melhorar o motor de pesquisa e maior será o número de razões para os anunciantes virem para a plataforma. E assim por diante, num círculo vicioso que, neste momento, a Google controla completamente.

 

“É uma mentira, não temos escolha”

De facto, para ele, a ideia de que existe uma verdadeira escolha no mercado dos motores de pesquisa é falsa. O diretor da Microosft considerou a aliança entre a Apple e a Google um “fantástico e simples negócio oligopolista”.

De acordo com o The Verge, para Nadella, a aliança com a Google não é apenas financeiramente benéfica para a Apple; a Apple também pode ter medo do que a Google faria se perdesse esse estatuto de opção predefinida. Esses potenciais contra-ataques são, de acordo com Nadella, outra razão pela qual a Apple está a manter a empresa liderada por Sundar Pichai.

 O ciclo vicioso em que estou preso pode tornar-se ainda mais vicioso porque as opções predefinidas se auto-reforçam.

Explicou Nadella.

 

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